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Em 1969, Ruth de Souza estrelou novela com blackface de ator

Atriz rompeu o racismo na TV numa época em que protagonista negro foi interpretado por ator branco pintado de preto

29 jul 2019 - 10h41
(atualizado às 15h04)
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No final da década de 1960, Sérgio Cardoso era o ator mais aclamado do País. Ele se tornou a escolha óbvia do principal patrocinador da novela das 19h A Cabana do Pai Tomás, baseada no romance da escritora norte-americana abolicionista Harriet Beecher Stowe, para viver o protagonista. A trama estreou na Globo há exatos 50 anos.

Para compor o escravo do título, que luta pela liberdade dos negros, Cardoso, que era branco, tinha o rosto e partes do corpo maquiados de preto, usava peruca de cabelos crespos e pedaços de rolha para alargar as narinas. Houve forte reação ao blackface – execrável prática teatral na qual artistas brancos se pintavam para imitar negros de maneira caricata.

Ruth de Souza com Sérgio Cardoso em A Cabana do Pai Tomás: primeira novela com uma protagonista negra
Ruth de Souza com Sérgio Cardoso em A Cabana do Pai Tomás: primeira novela com uma protagonista negra
Foto: Reprodução

A principal personagem feminina de A Cabana do Pai Tomás era a também escrava Tia Cloé. Influente, Sérgio Cardoso indicou a atriz para o papel: Ruth de Souza. E assim a atriz entrou para a história como a primeira negra a estrelar uma telenovela brasileira.

Na época, ela estava com 48 anos e enfrentou o protesto de algumas atrizes brancas do elenco que se sentiram desprestigiadas por ter menos destaque que uma negra.

Esse episódio representa a luta de Ruth de Souza – e dos atores negros em geral – para conquistar espaço na televisão.

A atriz que agora recebe merecidas homenagens póstumas já havia sido pioneira antes: foi a primeira atriz brasileira a ser indicada a um prêmio de cinema internacional (o Leão de Ouro do Festival de Veneza, em 1954, pelo filme Sinhá Moça), a primeira negra a se apresentar no prestigiado palco do Teatro Municipal do Rio, em 1945, e a primeira brasileira a estudar atuação e direção na Universidade Harvard e na Academia Nacional de Teatro, nos Estados Unidos.

Acima, Ruth de Souza em seu último trabalho na TV, a minissérie Se Eu Fechar os Olhos Agora, exibida este ano; e em O Clone (2001); abaixo, participações em Memorial de Maria Moura (1994) e na primeira versão de Sinhá Moça, ao lado de Grande Otelo (1986)
Acima, Ruth de Souza em seu último trabalho na TV, a minissérie Se Eu Fechar os Olhos Agora, exibida este ano; e em O Clone (2001); abaixo, participações em Memorial de Maria Moura (1994) e na primeira versão de Sinhá Moça, ao lado de Grande Otelo (1986)
Foto: Divulgação / TV Globo

A trajetória desbravadora de Ruth de Souza permitiu que hoje, apesar de o racismo ainda resistir na indústria do entretenimento, os artistas negros serem mais respeitados e reconhecidos.

A elegante dama das artes, que saiu de cena aos 98 anos, trilhou seu caminho com leveza, sem discursos radicais ou polêmicas. Foi derrubando os muros do preconceito usando unicamente a inteligência, o talento e o carisma.

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