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Público apoia Bruaca trair, mas condena a libertária Anitta

Mulher pode seguir os impulsos sexuais na novela, enquanto na vida real o machismo ainda ‘castra’ audaciosas como a funkeira

3 jun 2022 - 09h44
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Anitta e Bruaca simbolizam a liberdade feminina, mas recebem tratamentos diferentes
Anitta e Bruaca simbolizam a liberdade feminina, mas recebem tratamentos diferentes
Foto: Divulgação

Parafraseando Shakespeare em ‘Hamlet’, há algo de pobre no reino do Brasil. O País dos seios siliconados e bumbuns ressaltados pelo fio dental às vezes parece ainda estar na Idade das Trevas.

Consegue, ao mesmo tempo, apoiar a liberdade sexual de uma mulher e atacar outra que pratica o amor livre e busca o prazer como quer, com quem quer, sem nenhum conflito moral.

Na novela ‘Pantanal’, Maria Bruaca (Isabel Teixeira) conquistou o apoio dos brasileiros para se libertar de Tenório (Murilo Benício), o marido misógino, infiel e que a rejeitava na cama.

A maioria das pessoas aceita as investidas da dona de casa sobre os peões Alcides (Juliano Cazarré) e Levi (Leandro Lima). Há torcida pelas cenas de sexo ardente – e pelo par de chifres no ‘mardito’ que tanto fez Bruaca sofrer.

Enquanto isso, no universo real, Anitta sofre nova onda de ataques sexistas apenas por ser quem é: bissexual, sem pudores, assumidamente insinuante, verborrágica a respeito da vida sexual e insubmissa aos homens.

Bastou ela ressurgir na mídia na inauguração de sua estátua de cera no Museu Madame Tussauds, em Nova York, para os haters se manifestarem com xingamentos e deboches, muitos deles com conotação sexual depreciativa.

Por que a personagem da novela pode e uma mulher de carne e osso não pode?

Refletiu o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano: “O machismo é o medo que os homens têm das mulheres sem medo”. Como ficção a serviço do entretenimento descartável, Maria Bruaca está autorizada a ousar. A tradicional família brasileira que assiste à novela acha graça.

Já Anitta, a suburbana que se fez celebridade planetária e ícone do novo feminismo, representaria uma ameaça real à moral e aos bons costumes. Vista com olhos reacionários como vulgar, promíscua, uma má influência.

A cantora revoluciona ao não priorizar o gozo masculino, como a maioria das mulheres ao longo da história. Quer é garantir o próprio orgasmo – e eles, os machos, que lutem. Bem-resolvida, assusta os homens de masculinidade frágil e irrita a mulherada machista.

Assim como a funkeira, outras famosas, a exemplo de Viih Tube e Luísa Sonza, também sofrem hostilidade por não seguir a cartilha da ‘bela, recatada e do lar’. Ficam com quem desejam, sem culpa, donas de si.

Pioneira na luta pelos direitos das mulheres, a francesa Olympe de Gouges, guilhotinada no século 18 por contestar o poder da elite masculina da época, dizia que uma mulher pode superar qualquer barreira, basta querer. As Anittas querem, vão lá e fazem, rebolando até o chão.

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