Entrevista com Alex James
Terra - Está ansioso para vir ao Brasil?
Alex James – C***. Estou muito empolgado para voltar ao Brasil. Eu não acredito que demoramos 14 anos para voltar. Nos divertimos tanto da última vez. Eu acho que o Blur precisava de um tempo separado. Isso nos deu um ritmo novo. Estamos curtindo a banda como nunca antes. Parece muito o nosso começo. Amamos a banda e é isso. Tudo isso foi engatilhado quando nos pediram para fazer o show de encerramento da Olimpíada em Londres. Estivemos muito perto de nos separar de novo, mas sentimos que foi uma honra tão grande que aceitamos. Definitivamente. Isso nos fez movimentar tudo. Não podíamos só tocar músicas velhas, escrevemos algumas novas. Voltamos para o estúdio e acabamos remasterizando toda nossa discografia. Foi um ano muito bom de 2012. Foi uma grande noite e um grande show em Londres. Foi uma atmosfera incrível. Ficamos pensando: “O que aconteceu? Isso é ótimo”. Nós só podíamos agradecer a todos por serem tão pacientes.
Terra - Como foi para a banda se reencontrar e tocar junto? Foi um novo começo?
Alex James -
Uma coisa interessante aconteceu no ano passado enquanto preparávamos nossa caixa com todos os álbuns remasterizados. Nós mexemos em absolutamente todos os nossos arquivos, literalmente mexendo em caixas no porão. Uma das coisas que apareceu foi uma fita cassete que o Graham (Coxon) tinha. Era a gravação do nosso primeiro ensaio de dezembro de 1988. Ninguém a tinha ouvido desde então. Ele a levou para casa. Nós fizemos nosso primeiro single
She’s So Highdurante esse ensaio. Nessa fita você consegue ouvir a canção nascendo. É uma jam de 10 ou 15 minutos até a música nascer. O que acontece com a música é o seguinte: não poderia ser nenhuma outra banda, é o Blur. No momento em que nós quatro entramos no quarto, é o Blur. Nada mudou. Nunca mudou. É o Graham na guitarra, eu no baixo, Dave (Rowntree) na bateria e o Damon (Albarn) sendo Damon. É assim que funciona e ainda funciona. Para todas as bandas, ainda são quatro caras juntos. Musicalmente, nós evoluímos, aprendemos e tocamos com outras pessoas. Damon fez outros grupos, Grahan fez álbuns solo e todos nós mudamos, mas temos uma química juntos. É algo especial e de muito sorte para nós termos nos encontrado.
Terra - Vocês fizeram dois shows no Brasil em 1999. O que lembra deles?
Alex James - Lembro de uma grande, grande festa de aniversário...(pausa). Sim, foi uma boa noite. Lembro do queijo que nos serviram na praia que era derretido como se fosse em um churrasco. Preciso dar um jeito de encontrar isso novamente. As frutas. E o café? Meu Deus, o café. Que coisa maravilhosa. Eu estou muito ansioso para voltar. Ouvi muito falar sobre o Jardim Botânico também, quero visitar.
Terra - Já que você falou sobre queijo, conte um pouco sobre esse outro lado da sua vida.
Alex James -
As pessoas acham que é estranho. Sabe os monges? Que ficam nos mosteiros? Eles meditam com sua música durante a manhã e fazem seu queijo durante a tarde. Os monges fazem os dois também. Eu creio que possa ficar tão perto de Deus ou sei lá, ficar em um nível tão espiritual fazendo minha música ou comida. Sempre amei queijo. As pessoas jogam queijo em mim no palco! Os fãs de George Harrison jogavam jujubas quando ele tocava. Eu amo isso tudo. Enquanto o Blur caminhava em outra direção e depois do lançamento de
Think Tank(2003), eu conheci uma garota (Claire Nates) e me apaixonei completamente. Nós nos casamos eu comprei a fazenda durante minha lua-de-mel. Achei uma coisa romântica a se fazer. Me dei conta de que muitos músicos moram em fazendas. É o habitat natural dos “cavalheiros da música”. Como amo queijo, comecei a fazer e fiquei tão fascinado com o processo que não pensei muito sobre isso. Amo a fazenda. Precisava fazer outras coisas longe da música, mas nunca pensei como isso se misturaria com minha carreira com a banda. Claro que ficava triste ao pensar que talvez o Blur não voltasse. Eu realmente pensei isso. Somente quando tocamos novamente junto que pensei o quão brilhante que era a banda. Eu amo muito mais o momento de hoje do que qualquer outro. Estávamos na escola ainda quando assinamos o nosso primeiro contrato. Começamos a fazer shows para 30 pessoas, depois 300 pessoas, 3 mil e um dia para 300 mil pessoas. Nunca chegou em um ponto onde as coisas estavam estranhas. Você passa dez anos em uma fazenda produzindo queijo e de repente está no México tocando para 70 mil pessoas. Puta merda! Isso é brilhante. Sinto que tudo está maravilhoso. Nunca sei quais serão nossos últimos shows. Toco em todos os shows como se fosse o último.
Terra - Durante a passagem pelo Brasil, você teve contato com os queijos daqui?
Alex James -
Com toda certeza. Hum. Quieso?
Terra - Queijo...
Alex James -
Isso! Comemos na praia. Uma mulher vendia ele em um espeto. Derretendo.
Terra - Queijo coalho.
Alex James - Exato! Também tinha outra variedade. Minas, queijo minas. Você não consegue achar esses queijos aqui. Não os como desde então. Quero voltar. Também conheci o Alex Atala.
Terra - Ele se tornou um chef famoso mundialmente. Onde o conheceu?
Alex James -
Estava na Austrália, foi no ano passado. Ele é brilhante. Ele tem um restaurante em São Paulo, não é?
Terra - Sim. Chama-se D.O.M.
Alex James -
Preciso jantar lá. Vou dar um jeito nisso.
Terra - Você deveria trazer seu queijo ao Brasil.
Alex James - Definitivamente!
Terra - E como estão os negócios?
Alex James -
É uma época muito boa para comida na Grã-Bretanha. Durante muito tempo nossa comida foi alvo de piadas. O resto da Europa achava que nós cozinhávamos mal. Franceses falavam que nossa comida era horrível, italianos nos achavam nojentos e os espanhóis nos odiavam. Em um curto período, nos últimos dez anos, os chefs britânicos ficaram famosos mundialmente. Conhece o Jamie Oliver? Ele é famoso aí?
Terra - Sim. Ele tem programas na TV a cabo e vende livros, facas, etc...
Alex James -
Brilhante! Também temos o Gordon Ramsay. Esse é um dos motivos que fico tão feliz por fazer queijo. Comida é a bola da vez no Reino Unido. Temos muitos programas de TV, chefs, restaurantes. É uma época muito empolgante. Chefs britânicos são mais famosos que os rockstars. O Alex, por exemplo, é brilhante. E é um cara muito legal.
Terra - Voltando aos negócios. Enquanto comida está em alta, a indústria musical não vai muito bem.
Alex James -
Sabe o que mudou? Por exemplo, peguemos Lady Gaga e Florence and the Machine. Lady Gaga consegue juntar mais dinheiro que a Madonna. O que não temos mais são pequenas bandas e grupos independentes. Não há mais bandas como Gaye Bykers on Acid, Half Man Half Biscuit ou Crispy Ambulance. É uma cultura da qual o Blur saiu e demoramos muito para evoluir. Foi só no terceiro álbum que começamos a ficar realmente conhecidos. As bandas de hoje não têm essa oportunidade de amadurecer. Música é uma dessas coisas. Ela não fica melhor ou pior. Ela só reflete a época em que vivemos. Creio que a literatura e a matemática sejam campos parecidos. Os egípcios eram matemáticos sofisticados, Shakespeare estava escrevendo livros incríveis. Ninguém escreve melhor hoje só porque estamos no século XXI. Acho que a música também não fica melhor ou pior. Eu amo Lady Gaga e amo Florence and the Machine, mas na minha adolescência, tive muita sorte de ver que a música e arte aconteciam com tanta frequência ao nosso redor. De um lado tínhamos Duran Duran estavam gravando clipes que custavam milhões de libras e na outra ponta bandas indie lançando trezentas cópias de um EP. Era muita coisa acontecendo. A coisa trágica, aqui no Reino Unido, é que a música sempre foi o foco da cultura. Não tinha outras coisas para se fazer. Você não podia ser um artista ou um chef. Todo mundo queria ser músico. Ou jogador de futebol. Música não é o foco mais. Isso me chateia.