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Erika Ribeiro lança disco com obra de Stravinski

Em seu primeiro álbum solo, pianista inclui obras do russo em lembrança aos 50 anos de sua morte

29 jul 2021 - 05h10
(atualizado às 22h16)
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Harpa, clarinete, violão, voz e até mesmo uma big band: como fazer com que todas estas sonoridades caibam dentro de um piano? Foi o desafio a que se propôs a pianista Erika Ribeiro ao preparar o repertório que ela agora lança em seu primeiro disco solo, dedicado a transcrições de obras de Stravinski, Hermeto Paschoal e Sofia Gubaidulina.

O lançamento nas plataformas digitais acontece nesta quinta-feira, 29 - versão física do álbum será lançada em vinil pelo selo Rocinante, que faz sua estreia na música clássica. "O disco é solo, mas esse foi um projeto camerístico, feito a muitas mãos com o Silvio Fraga, diretor artístico do selo, e com o produtor Bernardo Ramos."

Foi deles que partiu a ideia de registrar obras de Stravinski. Depois de gravar um álbum de música brasileira com a violinista Francesca Anderegg, lançado pelo selo Naxos em 2019, Erika Ribeiro, que é camerista de destaque no cenário nacional e professora da UniRio, começou a pensar em um disco solo.

"Eu não me via fazendo um disco com Mozart ou Beethoven, por exemplo. É algo que talvez um dia eu possa fazer, mas que hoje não me pareceu o caminho correto. E foi então que a ideia das transcrições começou a se delinear na minha cabeça."

No contato com Fraga e Ramos, surgiu então a possibilidade de contemplar de alguma forma o aniversário de 50 anos de morte de Stravinski, com transcrições para piano das Quatro Canções Russas, das Três Poesias da Lírica Japonesa e de Epitáfio.

Na história da música, transcrições já tiveram uma função utilitária: no século 19, grandes obras do repertório ganhavam versões para piano ou para grupos menores, possibilitando que fossem tocadas nas casas das pessoas. Com o tempo, porém, tornaram-se gênero independente: afinal, ao transcrever obras de seus instrumentos originais para outras formações permite um olhar novo sobre sua gênese.

"É um trabalho muito interessante", diz Ribeiro. "Quando um compositor escreve uma obra, ele faz diversas escolhas. E, ao transcrever, ao fazer suas próprias escolhas, é como se você tivesse contato de maneira diferente com esse processo de criação."

Não é, porém, uma tarefa fácil, como conta a artista. "Comecei o trabalho de transcrição com as canções japonesas. E você vai se dando conta de que é um desafio enorme colocar tudo que está na partitura no piano, você fica com a sensação de que não cabe. Mas fui ouvir transcrições feitas por autores como Franz Liszt ou Sergei Rachmaninov e me dei conta de que eles faziam escolhas na hora de transcrever. E isso me ensinou algo, me fez ficar à vontade para buscar esse olhar pessoal na hora de transcrever."

Em seguida, ela trabalhou sobre Série de Arco, de Hermeto Pascoal. "Fez muito sentido dentro do contexto do álbum, é uma música que conversa harmonicamente com Stravinski. Mas também foi um desafio, porque ele compôs a base de piano e depois foi instruindo cada instrumento de sua big band sobre o que fazer. Então busquei soluções como criar um improviso que desse coesão à transcrição."

Por fim, a pianista selecionou Os Brinquedos Musicais, da compositora russa Sofia Gubaidulina, que completa 90 anos em 2021 e é uma das principais representantes da vanguarda musical de seu tempo. "Antes que surgisse a ideia de gravar Stravinski, eu queria muito gravar autores brasileiros e compositoras, estes são pontos importantes para mim como artista. Então com o Hermeto e a Gubaidulina, o disco assume uma forma interessante", diz Ribeiro. "E, além disso, na sua peça ela faz o caminho contrário da transcrição. Ela não pegou uma obra original para outro instrumento e adaptou para o piano, mas, sim, criou no piano peças que brincam com o som de outros instrumentos. Então, pareceu uma bela forma de fechar o repertório", explica a pianista.

Estadão
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