Script = https://s1.trrsf.com/update-1765905308/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

21 Savage tirou o pé do acelerador em 'What Happened to the Streets?'

O rapper entrega sua atmosfera de terror característica, mas falta a ousadia de "American Dream"

18 dez 2025 - 09h39
Compartilhar
Exibir comentários

21 Savage sabe fazer um álbum de 21 Savage — parece óbvio, mas eu já te explico o motivo. Neste ponto da carreira, quatro álbuns depois, algumas mixtapes e álbuns colaborativos, ele domina a fórmula que ele criou: produção gótica e sombria que soa como trilha de filme de terror, clima de Halloween, flow sério e mortal, letras sobre rua, dinheiro e lealdade. What Happened to the Streets?, seu novo projeto lançado na última sexta, 12, entrega exatamente isso. Depois do ambicioso American Dream (2024), que carregava uma camada política e reflexiva mais densa, este novo disco soa como se 21 tivesse tirado o pé do acelerador. A atmosfera de horror que sempre definiu seu som está presente, mas a música dentro dela parece jogar seguro demais. É bom, é sólido, mas podia ter ido mais longe.

Foto: Prince Williams/WireImage / Rolling Stone Brasil

Mas, antes de entrar na música, é impossível não falar da capa. 21 trabalhou com Slawn, artista nigeriano-britânico, que criou uma arte referenciando A Portrait of the Artist as a Shadow of His Former Self, de Kerry James Marshall. É uma obra que fala sobre identidade, sobre ser sombra do que já foi — e funciona como meta-comentário sobre Atlanta, cidade rachada pelo julgamento do YSL, pela morte de Takeoff e Lil Keed, pelas tensões entre GunnaYoung ThugLil Baby. A capa é provocativa, inteligente, carregada de significado.

A música dentro dela? Nem sempre está à altura.

Aberturas fortes, meio irregular

21 Savage tem um talento para abrir álbuns com impacto. "a lot", "runnin", "all of me", são sempre faixas que estabelecem o clima sombrio que vai dominar todo o projeto. "WHERE YOU FROM" continua essa tradição. Produção sinistra de Southside e Wheezy — latidos de cachorro ao fundo, batidas cortantes, aquela sensação de perigo iminente. 21 fala sobre Zone 6, sobre precisar de um bilhão de dólares para se aposentar do rap, ameaçando quebrar iPhone e MacBook de rappers "cronicamente online". É clássico 21: confiante, ameaçador, com pés fincados na rua, mas olhos no dinheiro. O clima de tensão está estabelecido.

"HA" vem logo depois e mantém a energia — batida minimalista e pesada, 21 cuspindo versos afiados sobre aquela paisagem sonora claustrofóbica que ele tanto domina. Mas é aqui que o álbum começa a revelar seu padrão: muitas faixas soam seguras demais, confortáveis demais. Funciona? Sim. Surpreende? Não.

Além delas, "CUP FULL" é um dos momentos mais interessantes. Abre com um monólogo de Young Thug falando sobre traumas da infância, sobre como eles não sabem lidar com agonia e por isso recorrem a drogas. É introspectivo, vulnerável. Nos versos, 21 não segue exatamente essa linha emocional, continua com seu flow típico sobre aquela produção pesada e opressiva, mas no refrão há uma reflexão mais vívida. É um momento raro onde o álbum respira, onde a atmosfera de terror se torna menos estética e mais existencial.

Outro destaque é "GANG OVER EVERYTHING", com produção de Metro Boomin — que sabe exatamente o que um clima sombrio precisa, basta lembrar de Without Warning (2017) —, traz aquele soul chipmunk que Metro domina, mas com uma camada adicional de peso e tensão. 21 reflete sobre fama, sobre acusações de ter mudado, sobre permanecer o mesmo apesar do dinheiro, defendendo-se das críticas de quem acha que ele esqueceu a rua. É um tema recorrente no disco: a tensão entre sucesso e autenticidade, entre crescer e permanecer "real".

As mesmas colaborações

Mesmo quando 21 anunciou o projeto, algumas colaborações já eram certas e Drake era uma delas. "MR RECOUP", justamente com o canadense, deveria ser destaque, mas não é. A batida é a protagonista. É provavelmente a produção mais cinematográfica e pesada do disco, mas Drake parece mais interessado em promover seu próximo projeto (Iceman) e em se chamar de "Mr. Recoup" do que em realmente habitar aquele clima de tensão que a batida oferece. É a colaboração mais estranha deles até agora, e não no bom sentido. Não chega aos pés do que fizeram em Her Loss (2022), onde a química era palpável.

Outra figurinha carimbada seria da Glorilla, que aqui aparece em "DOG $HIT" e funciona bem. Os dois têm química real e ela traz energia que faltava em outras faixas, jogando com a vibe pesada da batida ao invés de lutar contra ela. É divertida, é agressiva, é eficaz.

Young Nudy em "STEPBROTHERS" faz o que sempre faz bem — e isso basta. Latto em "POP IT" soa genérica demais, mas é parte do problema maior do disco: muitas faixas na primeira metade são seguras demais, previsíveis demais.

Por fim, "I WISH" fecha o álbum com uma das reflexões mais tocantes: 21 presta tributo a rappers que morreram — PnB Rock, Rich Homie Quan, Juice WRLD, Takeoff, Lil Keed, Nipsey Hussle. São versos vívidos sobre desejar que as tragédias nunca tivessem acontecido, sobre imaginar realidades alternativas onde seus amigos continuam vivos. É interessante, mas junto, traz um problema difícil de resolver: a faixa samplea "I Wish", do R. Kelly, condenado por abuso sexual. E isso inevitavelmente contamina o que poderia ser um encerramento sincero e emocionante.

A segunda metade do álbum melhora consideravelmente. As faixas se tornam mais reflexivas, menos focadas em sucessos comerciais, e a atmosfera pesada ganha mais propósito narrativo. Mas mesmo assim, falta aquele momento de ruptura, aquela faixa que faz você parar e pensar "ele realmente foi longe aqui".

Tirou o pé, mas não perdeu o controle

What Happened to the Streets? é um álbum competente de 21 Savage. Tem versos afiados, tem aquela produção de terror, tem momentos de reflexão genuína sobre trauma, lealdade, fama. A atmosfera sombria que sempre definiu seu som está presente do início ao fim — aquele sentimento de perigo constante, de madrugada perigosa em Atlanta. Mas também tem muita zona de conforto. Muitas faixas que soam como "mais do mesmo". Muitas participações previsíveis fazendo o previsível.

E talvez esse seja o principal problema. American Dream tinha uma sofisticação maior, camadas mais complexas, experimentação dentro desse universo sombrio. Aqui, não há risco. É 21 Savage fazendo 21 Savage — e fazendo bem —, mas sem empurrar os limites do que essa estética pode ser.

O que o álbum não responde é a pergunta do próprio título: What Happened to the Streets? (O Que Aconteceu com as Ruas?) Ele toca na ferida — o julgamento do YSL, as mortes, as tensões em Atlanta —, mas não aprofunda de verdade. Fica na superfície. E quando você tem uma capa tão carregada de significado quanto a que Slawn criou, quando você faz uma pergunta tão provocativa, a expectativa é de respostas mais profundas.

21 Savage continua sendo um dos nomes mais importantes do rap de Atlanta. Seu flow continua impecável, sua tranquilidade rimando continua imponente, sua estética sonora de trap de horror continua eficaz. Mas em 2025, com tudo que aconteceu na cena, com tudo que ele mesmo viveu (da prisão do ICE aos recordes de streamings), esperava-se mais ousadia, mais profundidade, mais risco.

What Happened to the Streets? é um bom álbum de 21 Savage. Só isso. E talvez "só isso" não seja mais suficiente quando você tem a capacidade — e o momento histórico — para fazer algo realmente especial.

Rolling Stone Brasil Rolling Stone Brasil
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade