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'Não preciso me mostrar por isso', diz Fabio Porchat sobre ajudar jovens a realizarem sonhos

Humorista fundou ONG para impulsionar talentos de crianças e adolescentes em exclusão social; ele conta que faz tudo 'quietinho' e vê meritocracia como alimento das desigualdades

19 dez 2018 - 16h32
(atualizado em 21/12/2018 às 10h02)
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Fábio Porchat em ação social com crianças.
Fábio Porchat em ação social com crianças.
Foto: McDia Feliz/Divulgação / Estadão

Fabio Porchat é muito conhecido por seu humor, sobretudo no canal Porta dos Fundos, do YouTube. No entanto, poucos sabem que ele é fundador da Associação Buriti de Arte, Cultura e Esporte (Abace), uma organização, fundada em 2015, que investe em diferentes iniciativas culturais, sociais e esportivas. O objetivo é fazer uma ponte entre os interesses dos jovens e o que eles querem alcançar.

"Criei a instituição por ser parte de uma vontade de devolver à sociedade tudo aquilo de bom que tem acontecido comigo. Acredito que todas as pessoas têm vontades e iniciativas, mas às vezes falta conhecimento, contato e dinheiro", diz Porchat, que já aplicou mais de R$ 350 mil em 14 projetos, 11 municípios brasileiros e mais de 20 parceiros.

Sonhos que a ONG de Fabio Porchat já realizou

Ao todo, a ONG informa que cerca de 1,5 mil pessoas foram beneficiadas diretamente. Desse total, Luís Fernando Rêgo, de 17 anos, se destacou pela sua história de superação. Nascido em família humilde no Complexo do Alemão, ele superou os preconceitos e começou a fazer balé pelo projeto ViDançar, da comunidade. Além disso, o adolescente fazia aulas no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e ia todo dia a pé até o local por não ter dinheiro para a condução.

A Abace - que já financiava a entidade do morro - ficou sabendo da situação e resolveu custear o transporte do rapaz. Tempos depois, ele foi aprovado na única filial de balé Bolshoi fora da Rússia, em Joinville, Santa Catarina, e hoje mora na cidade com sua amiga Camylla, de 15 anos, que também saiu do Alemão para dançar nessa escola. "O balé é muito caro, e, se não fossem os apoios que recebemos, eles não estariam aqui. Alguém precisou acreditar neles lá trás", diz a mãe da menina, Aline Barbosa.

Apesar das histórias e números expressivos em três anos de atuação, Porchat afirma que a instituição está só no começo e pretende torná-la conhecida. "O objetivo é fazer com que as pessoas venham procurá-la para cada vez mais conseguir realizar sonhos", afirma. "Tento trazer coisas que eu vejo ao meu redor, tentando usar minha influência", explica.

'Não precisamos fazer alarde a cada ajuda'

Mesmo usando sua imagem para desenvolver a ONG, Fabio se preocupa em não fazer dela um chamariz para o seu nome e sua carreira. "Nós fazemos as coisas quietinhos, não precisamos fazer alarde a cada ajuda. Não há razão para fazer festa por conseguir que alguém doe algo para uma pessoa", destaca. "A comemoração tem que ser de quem conseguiu realizar o projeto. Não preciso me mostrar por isso", diz.

Com esse jeito discreto, Fabio Porchat já arrecadou dinheiro para a Abace por meio de suas apresentações, e a associação apoiou quatro outras entidades ao longo de 2018. Dentre elas, está a ONG África do Coração, que integra refugiados e imigrantes entre si e com os brasileiros. Na última Copa dos Refugiados, a ONG do humorista investiu R$ 3,5 mil no evento, que contou com 110 atletas.

"Nós distribuímos os recursos captados, de forma racional e equilibrada, a atores sociais, orientando a aplicação do dinheiro a partir do direcionamento de doações de pessoas físicas e empresas privadas", explica a assistente social e coordenadora executiva da Abace Lorena Braga.

Crianças do projeto Acorde apoiado pela Abace em oficina de culinária.
Crianças do projeto Acorde apoiado pela Abace em oficina de culinária.
Foto: McDia Feliz/Divulgação / Estadão

Meritocracia

Porchat analisa que o Brasil é muito incipiente na cultura de ajudar pessoas. "Ainda é muito nova a ideia de fazer leilões beneficentes e a de pessoas doarem fortunas. Espero que essa cultura, que está se moldando, comece a funcionar", reflete. Somado a isso, o humorista pontua que o conceito de meritocracia (quando o mais esforçado se destaca sobre os demais) é um obstáculo para o crescimento pessoal dos jovens.

"Meritocracia só existiria se todo mundo pudesse correr na linha de largada. Quando um começa quinze metros na sua frente, a corrida não é justa, e isso é o que está acontecendo hoje no País. Não é um argumento redutor de desigualdades", critica Fabio Porchat. O comentário vai de encontro com o elevado número de brasileiros abaixo da linha da pobreza.

"A gente [Abace] está tentando fazer nossa parte, alguma coisa, mas sem a pretensão de querer mudar vidas, mudar o Brasil. Quem tem essa força é o governo. A gente consegue ajudar, estar perto, caminhar juntos, mas se todo mundo [sociedade civil e Poder Público] fizesse e fosse atrás, as coisas seriam melhores", aponta.

'Não estou me afastando do humor'

Mesmo com sua atuação no terceiro setor e seu último trabalho de apresentador na TV Record, Fabio Porchat assegura que não está se distanciando do mundo da comédia. Em março, ele lança a série Homens, no canal pago Comedy Central; o filme Palestrante, com Dani Calabresa, e vai estrear um talk-show na GNT. "Todos projetos são de humor, então sigo firme e forte", diz.

Além disso, Porchat traça um paralelo entre sua atuação humorística e a visão que têm sobre a Abace. Segundo ele, sua atuação em ambos se alinha com o respeito aos grupos minorizados. "Estamos sempre ao lado das minorias. Inclusive, no Porta dos Fundos, sempre nos preocupamos em fazer graça não com quem sofre, mas com quem é vilão da história ou maioria. Isso é uma preocupação desde o início do canal e sempre anda por esse caminho", conclui.

*Estagiário sob a supervisão de Charlise Morais

Estadão
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