Jards Macalé morre aos 82 anos no Rio de Janeiro
Ícone da música brasileira se destacou por experimentalismo e parcerias com grandes nomes da MPB
Morreu nesta segunda-feira, 17, no Rio de Janeiro, o músico Jards Macalé, aos 82 anos. A informação foi divulgada pelas redes sociais do artista. Internado em um hospital na Barra da Tijuca para tratar um enfisema pulmonar, Macalé sofreu uma parada cardíaca nesta manhã e não resistiu.
"Jards Macalé nos deixou hoje. Chegou a acordar de uma cirurgia cantando Meu Nome é Gal, com toda a energia e bom humor que sempre teve. Cante, cante, cante. É assim que sempre lembraremos do nosso mestre, professor e farol de liberdade. Agradecemos, desde já, o carinho, o amor e a admiração de todos. Em breve informaremos detalhes sobre o funeral", diz a nota publicada no perfil do artista.
Nascido na Tijuca, bairro tradicional do Rio de Janeiro, Jards Macalé cresceu em um ambiente musicalmente rico, entre o samba do Morro da Formiga e a música clássica praticada por seus pais. Essa convivência com diferentes universos sonoros moldou seu estilo híbrido e singular, que se tornou sua marca registrada ao longo da carreira.
Nos anos 1960, Macalé aprofundou seus estudos musicais com nomes renomados, como Guerra Peixe e Turíbio Santos, e rapidamente se inseriu no círculo de artistas e intelectuais da época. Aproximou-se de Vinícius de Moraes e Maria Bethânia, de quem foi diretor musical, e consolidou-se como figura central da cena musical carioca. Em 1969, participou do Festival Internacional da Canção com a música Gotham City, parceria com o poeta Capinam, que lhe garantiu projeção nacional e marcou sua entrada no universo da contracultura brasileira.
Ao longo das décadas seguintes, Macalé construiu uma obra marcada pelo experimentalismo, pela constante busca de novos sons e linguagens, e pelo diálogo intenso com o cinema. Compôs trilhas sonoras para filmes de diretores como Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade e Glauber Rocha, aproximando a música de um cinema de vanguarda que refletia as transformações políticas e culturais do país.
Suas colaborações com poetas e músicos — entre eles Waly Salomão, Torquato Neto e Moreira da Silva — reforçaram seu papel como ponte entre a tradição e a inovação. Entre suas composições mais conhecidas está Vapor Barato, música que atravessou gerações e continua a ser referência da música popular brasileira. Além de compositor, Macalé foi produtor e violonista em trabalhos emblemáticos, como o álbum Transa, de Caetano Veloso, consolidando-se como um artista multifacetado e inquieto.
Durante toda a carreira, transitou com facilidade entre diferentes estilos, incluindo samba, rock, música contemporânea e poesia marginal, mantendo-se ativo até os últimos anos de vida. Sua obra recebeu reconhecimento de críticos, músicos e fãs, refletindo uma trajetória marcada pela coragem de inovar e pela defesa da liberdade artística.
Considerado um dos artistas mais inventivos e influentes da música brasileira, Jards Macalé deixa uma vasta discografia e um legado profundo na MPB e na vanguarda tropicalista, inspirando gerações de músicos e admiradores da arte brasileira. Sua passagem deixa um vazio na cena cultural, mas também uma herança artística que continuará a ser celebrada por décadas.
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