Felipe Neto critica Bolsonaro em Paris: “Ele é genocida e quis me calar”
Influenciador deu palestra na Unesco e participará de grupo multidisciplinar do governo Lula contra o discurso de ódio
Vestindo um elegante paletó grená e confortável ao falar em inglês, Felipe Neto foi bastante aplaudido no auditório da sede da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em Paris, na abertura da conferência global para discutir a regulamentação das plataformas digitais, o aumento da confiabilidade da informação e a ampliação da liberdade de expressão.
Logo no início, ao interagir com a jornalista filipina Maria Ressa, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz por sua luta por uma imprensa livre, o influenciador carioca atacou Jair Bolsonaro, de quem é crítico na mídia e nas redes sociais.
“Em 2021, eu tive a polícia vindo até a minha porta. Eu estava sendo perseguido pelo presidente. Eles tentaram me prender porque eu o chamei de genocida. O que ele é. Foi uma batalha muito difícil de enfrentar, principalmente sem ter nenhuma informação de como agir nessa situação”, disse a uma plateia atenta.
Neto citou também um boato disseminado com a intenção de prejudicar sua imagem e incriminá-lo judicialmente em reação ao seu ativismo político.
“Impossível colocar em palavras o que foi ter pessoas indo até minha casa com carros de som me chamando de pedófilo”, relatou. “Eles usaram essa tática de guerra e todo o poder que tinham para me desacreditar e tentar me silenciar.”
O influenciador afirmou que apoiadores de Bolsonaro continuam a tentar intimidá-lo. “Isso ainda está acontecendo, ainda que tenham perdido a eleição, agora estão com mais raiva ainda e querem silenciar quem está com a razão.”
Felipe Neto destacou a importância do apoio de seus fãs anônimos nos piores momentos da cruzada pessoal contra o bolsonarismo.
“Eu tinha meus seguidores para lutar contra isso, mas a maioria das pessoas não tem. Por isso, criei o Instituto Vero e o Instituto Cala a Bola Já Morreu para defender as pessoas que não estão em uma posição de poder para se defenderem.”
Fundado em 2021, o Instituto Vero diz reunir pesquisadores e comunicadores digitais na defesa da democracia e contra a desinformação. Produz pesquisas, campanhas e projetos.
O Cala a Boca Já Morreu recebe denúncias de pessoas que se sentem censuradas ou ameaçadas por algum posicionamento público. O grupo pode ajudar na defesa jurídica e em possível contato com o Ministério Público.
Na quarta-feira (22), quando ainda estava em Paris, Felipe Neto, de 35 anos, foi confirmado como membro de um grupo de combate ao discurso de ódio e contra o extremismo, vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Os colaboradores, que trabalharão sem remuneração, vão elaborar propostas de políticas públicas sobre o tema. Depois, apresentarão as ideias a Lula.
Determinado a enfrentar a indústria das fake news, o presidente busca apoio de outros governos e também de organizações relevantes, como a ONU, para coordenar um movimento global pela regulação das redes sociais contra a desinformação.