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Minissérie da HBO revive história real da luta contra a AIDS nos anos 80; leia entrevistas

Produção estrelada por Johnny Massaro, Bruna Linzmeyer e Ícaro Silva resgata, com emoção e rigor histórico, a resistência de uma comunidade diante do preconceito e da desinformação; 'Estadão' conversou com equipe e elenco

31 ago 2025 - 17h10
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Em 1983, os primeiros casos de HIV foram oficialmente registrados no Brasil. A doença, cruelmente apelidada de "câncer gay" pela mídia da época, trouxe não apenas o vírus, mas também um fardo devastador de medo, desinformação e preconceito - que se espalhou tão rápido quanto a própria epidemia. Enquanto nos Estados Unidos o AZT, o primeiro medicamento antirretroviral capaz de frear a AIDS, começava a ser distribuído, oferecendo um fiapo de esperança aos pacientes, o Brasil permanecia sem acesso ao remédio.

Foi nesse cenário que um grupo inesperado de heróis decidiu agir: comissários da extinta companhia aérea Varig, aproveitando-se de suas viagens internacionais, organizaram um esquema clandestino para contrabandear a droga para o país. Quarenta anos depois, essa história é recontada com "cheiro e cara" de anos 1980 na minissérie Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente, produção nacional da HBO que estreia neste domingo, 31, na TV e na plataforma Max.

Entre a Negação e a Resistência

A minissérie acompanha Nando (Johnny Massaro), um comissário de bordo gay inicialmente cético em relação à epidemia. "Essa primeira reação negacionista do Nando está diretamente ligada ao medo de possivelmente estar infectado", explica Massaro em entrevista ao Estadão. "Era um momento de completa desinformação, então a negação inicial é compreensível. Mas chega uma hora em que ele precisa avançar, porque, se não o fizer, acaba se entregando e morre."

Bruna Linzmeyer e Johnny Massaro em cena da minissérie 'Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente'
Bruna Linzmeyer e Johnny Massaro em cena da minissérie 'Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente'
Foto: HBO/Divulgação / Estadão

Quando Nando começa a apresentar os primeiros sintomas e é diagnosticado com HIV, sua transformação pessoal reflete também a evolução da resposta brasileira à epidemia. Ao lado da amiga e colega Lea (Bruna Linzmeyer), ele converte sua experiência em uma ação ousada que salvaria vidas.

A ideia da minissérie surgiu durante a pandemia de Covid-19, quando o roteirista Thiago Pimentel (De Pernas Pro Ar) enxergou paralelos com a epidemia dos anos 80.

"Como homem gay, senti um paralelo muito forte com os anos 80. Cresci acreditando que morreria jovem, pois minha geração foi ensinada a encarar a AIDS como sentença de morte", afirma ele, que usou como ponto de partida o documentário Carta para Além dos Muros, de André Canto.

A Família que se Escolhe

Entre um contrabando e outro, Nando e seu grupo descobrem nas boates muito mais do que diversão. A balada se transforma em refúgio, onde se sentem acolhidos e reconhecidos. "As boates representam essa ideia de uma família fora da família", explica Ícaro Silva, que interpreta Raul, capturando a essência dessa transformação. "Apesar de termos avançado, a rejeição ainda é muito comum. Muitas pessoas descobrem fora do lar, em boates e coletivos, sua verdadeira família."

Bruna Linzmeyer complementa: "A comunidade LGBTQIAP+ tem um forte senso de união e uma notável capacidade de acolher as 'estranhezas' dos outros. A série só existe porque houve um grupo de pessoas que se uniu para transformar a realidade."

Johnny Massaro destaca ainda o caráter pessoal do projeto: "Conheço o Ícaro e a Bruna há muitos anos, antes mesmo de falarmos publicamente sobre nossas sexualidades. Fizemos muita coisa juntos, e é maravilhoso ver onde chegamos. Hoje podemos contar essa história de forma honesta, conduzindo nossas vidas pessoais e profissionais de maneira coerente com quem realmente somos. Isso me emociona muito."

A série também amplia o olhar para além do universo masculino gay. Personagens como a comissária de bordo Iara (Eli Ferreira) representam famílias que precisaram lidar com preconceitos próprios ao se aproximarem do vírus. "Ela retrata um recorte da sociedade que, apesar do preconceito, precisa encontrar maneiras de enfrentar a realidade e apoiar quem está por perto", comenta a atriz.

O fardo da responsabilidade

Mas contar uma história tão sensível e marcante exigiu mais do que apenas vivência pessoal. Para garantir precisão histórica e evitar a perpetuação de preconceitos, Thiago Pimentel e os corroteristas Patrícia Corso e Léo Moreira realizaram pesquisa histórica detalhada, contando ainda com orientação da Dra. Márcia Rachid, uma das fundadoras do Grupo Pela Vidda, uma das primeiras ONGs do Brasil, fundada em 1989 e dedicada ao apoio, prevenção e assistência às pessoas vivendo e convivendo com HIV/AIDS.

Toda essa complexidade narrativa e social também precisava de uma linguagem visual à altura do desafio. Sob direção de Marcelo Gomes (Retrato de um Certo Oriente), Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente alia drama histórico e sensibilidade contemporânea. "Queríamos que o público jovem se conectasse, mas também sentisse a força dos sentimentos das personagens", explica Gomes.

Para isso, a produção utilizou texturas visuais diversas — VHS, Super 8, 16mm — e ritmo pop e dinâmico, para aproximar o passado do espectador contemporâneo. A diretora Carol Minêm complementa: "Não queríamos apenas fazer uma série de época; queríamos tratar uma época."

A executiva Silvia Fu, da Warner Bros Discovery, acrescenta: "A proposta da [produtora] Morena Filmes já demonstrava profundidade e responsabilidade, exatamente o tipo de conteúdo com que a HBO sempre se compromete."

'Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente' foi inspirada em história real de comissários que ajudaram a salvar vidas
'Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente' foi inspirada em história real de comissários que ajudaram a salvar vidas
Foto: HBO/Divulgação / Estadão

Contudo, por trás do sucesso artístico e do reconhecimento internacional — a produção foi destaque no Festival de Cinema de Berlim e levou o Prêmio Luna de Valência de Melhor Série de TV —, Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente carrega uma mensagem urgente.

"O avanço da ciência foi enorme, mas o avanço contra o preconceito não acompanhou o mesmo ritmo", sintetiza Carol Minêm. Hoje, o Brasil é o único país do mundo a oferecer tratamento 100% gratuito pelo SUS para pessoas vivendo com HIV e para prevenção — fruto da luta coletiva iniciada nos anos 1980.

"Infelizmente, ainda existe um estigma de que o HIV é uma 'doença da comunidade LGBT'. A falta de informação, que vem desde os anos 80, continua sendo um problema grave", completa ela. O criador Thiago Pimentel complementa: "Mesmo com tratamentos gratuitos, ainda morrem mais de 10 mil pessoas por ano no Brasil por causa da AIDS. E por quê? Por causa do preconceito. Então, falar sobre preconceito é a razão de existir dessa série".

Estadão
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