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'Morra, Amor', com Jennifer Lawrence, é 'história de amor com loucura envolvida', diz diretora

Cineasta escocesa Lynne Ramsay fala sobre desafios do filme com Jennifer Lawrence e Robert Pattinson que aborda temas como depressão pós-parto, isolamento e crise no casamento

27 nov 2025 - 12h12
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Observar uma pessoa se despedaçar na tela do cinema é profundamente inquietante. Mais ainda quando esse processo dispensa música dramática ou closes implorando por simpatia. Em Morra, Amor, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 27, a cineasta escocesa Lynne Ramsay faz o que melhor sabe: nos colocar dentro da pele de alguém que está perdendo o chão, sem nos dar a muleta do julgamento moral.

O filme traz Jennifer Lawrence como Grace, uma jovem mãe lutando contra a depressão pós-parto no interior dos Estados Unidos, ao lado de Robert Pattinson, que interpreta Jackson, seu marido. Completam o elenco nomes como Sissy Spacek, LaKeith Stanfield e Nick Nolte.

Em mesa-redonda com a imprensa, da qual o Estadão participou, Ramsay contou que a produção quase não aconteceu. "Não respondi imediatamente quando Jennifer me enviou o livro", admite a diretora, referindo-se ao romance homônimo da escritora argentina Ariana Harwicz. "É uma peça desafiadora. Precisei encontrar meu caminho até ela."

Anti-heroína sem desculpas

O que, ao fim, seduziu Ramsay não foi apenas a história da maternidade em crise, mas a natureza selvagem e completamente sem remorsos da protagonista. "Ela simplesmente diz tudo como é, de maneira muito direta e honesta. Parecia ousado", explica. "Não é uma personagem pela qual tentamos ganhar simpatia. É o oposto. Você pode amá-la ou odiá-la, mas ela tem algum tipo de honestidade."

Para a cineasta de Precisamos Falar sobre Kevin, era fundamental que Morra, Amor não fosse reduzido a um único tema. "Não é só sobre pós-parto. É sobre isolamento, sobre um casamento se desintegrando, sobre o sexo que para quando o bebê chega", pontua. E acrescenta, com um humor sombrio típico de seu cinema: "É uma história de amor com loucura envolvida."

Jennifer Lawrence, que procurou Ramsay para o projeto, estava grávida durante as filmagens — um detalhe que, segundo a diretora, tornou sua presença ainda mais potente em cena. "Ela depositou muita confiança em mim porque fizemos coisas bem selvagens", revela Ramsay. "Mas ela foi ousada, foi corajosa. Acho que isso transparece no filme."

Trabalhar com lendas do cinema como Sissy Spacek e Nick Nolte foi, nas palavras de Ramsay, "incrível". "Sissy é uma das minhas heroínas há muito tempo, uma das grandes do cinema. E Nick Nolte tem um daqueles rostos em que você simplesmente coloca a câmera e fica: meu Deus, esse cara é hipnotizante."

Entre a euforia e a depressão: personagem de Jennifer Lawrence em 'Morra, Amor' passa por momentos difíceis
Entre a euforia e a depressão: personagem de Jennifer Lawrence em 'Morra, Amor' passa por momentos difíceis
Foto: MUBI/Divulgação / Estadão

Spacek, segundo a diretora, funciona como "a cola do filme" por ser a única personagem que verdadeiramente enxerga Grace com clareza. Já LaKeith Stanfield, em participação menor, mas impactante, interpreta uma figura ambígua — real e fantasiosa ao mesmo tempo. "Parte dela está escrevendo aquele personagem na cabeça. É um homem imaginário, porque ela tem desejos sexuais que não estão sendo satisfeitos", explica Ramsay.

Espelho da mente

Visualmente, Morra, Amor funciona como uma descida ao abismo psicológico de Grace, e a casa onde o casal vive é parte essencial dessa jornada. "Escolhemos aquela casa em particular", explica Ramsay. "Com a floresta atrás, as portas de vidro... Parecia que ela estava presa ali. É uma reflexão da mente de Grace. Se deteriora junto com ela."

Há uma cena no início em que o casal entra na casa nova e ambos falam animados sobre quanto trabalho vão conseguir fazer ali — ele como escritor, ela nos seus projetos. "Eu pensei: seria interessante eles terem essa esperança, essa projeção de futuro. E então tudo desmorona", diz a cineasta.

A diretora trabalha com uma câmera que respira junto com seus personagens, em longas tomadas que capturam não apenas a ação, mas os silêncios, os gestos involuntários, o momento exato em que alguém deixa de fingir. "Às vezes deixo a câmera rolar um pouco mais, quando o ator não sabe exatamente o que deve fazer. Algo desprotegido começa a acontecer", explica sobre seu método.

Por mais sombrio que seja o universo de Lynne Ramsay, há sempre espaço para o absurdo. Em Morra, Amor, uma das cenas mais memoráveis envolve Grace dizendo ao cachorro que ele deveria ter feito escolhas melhores. "Eu queria que tivesse esse tom absurdo desde o começo", diz a cineasta. "Adoro quando eles estão brigando também — é intenso, mas engraçado em alguns momentos. Um humor de forca, eu acho. Não gosto quando as coisas ficam pesadas demais. Gosto dessa ideia de personagens mais tridimensionais. Mas algumas pessoas não sabem se devem rir ou não."

Jennifer Lawrence está brilhante em 'Morra, Amor'
Jennifer Lawrence está brilhante em 'Morra, Amor'
Foto: MUBI/Divulgação / Estadão

Um filme que recusa a moralização

Morra, Amor não oferece respostas fáceis nem redenção conveniente. Ramsay é clara sobre sua postura. "Não sinto que seja meu trabalho moralizar. Não gosto de fazer grandes afirmações. Gosto de deixar as coisas em aberto para o público. Não julgo minhas personagens. Ela é absurda, irritante, muitas coisas. Mas prefiro observar de uma maneira diferente, sem fazer julgamentos", diz.

É essa recusa em apontar dedos que torna o cinema de Ramsay tão potente e, para alguns, tão difícil de digerir. Não há vilões nem vítimas claras, apenas seres humanos tentando sobreviver — e, frequentemente, falhando.

A diretora dedica o filme à mãe, que morreu este ano. Foi ela quem apresentou Lynne ao cinema quando criança, mostrando obras de Hitchcock, melodramas clássicos e filmes com personagens femininas fortes. "Foi um ano difícil", resume, com a simplicidade de quem já colocou a dor no lugar onde melhor sabe processá-la: na tela.

Estadão
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