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Milton Nascimento ri alto, come pipoca e exalta o valor dos amigos em pré-estreia de documentário

Sessão de 'Milton Bituca Nascimento' no Rio contou com a presença de Fernanda Montenegro, que passou para dar um abraço no cantor, Glória Pires, Enzo Celulari e outros famosos; filme estreia nesta quinta, 20

18 mar 2025 - 12h48
(atualizado às 18h06)
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Marcada para 19h30 de segunda-feira, 17, a concorrida sessão de pré-estreia de Milton Bituca Nascimento no Rio de Janeiro atrasou mais de uma hora. O tempo gasto com entrevistas da equipe do filme e congraçamento de diferentes gerações da música brasileira acabou sabotando o combo que esperava, em bandejinhas à frente das cadeiras, cada um dos espectadores das quatro salas do Cinemark do Shopping Village Mall, na Barra da Tijuca.

A pipoca esfriou e a Coca-Cola ficou morna. Mas o homenageado pelo documentário e centro das atenções da noite, Milton Nascimento, não deixou de se esbaldar, explorando constantemente o recipiente das pipocas durante os 115 minutos do filme; só trocou o refrigerante por água mineral. Ao seu lado, na primeira fila da sala 1, o filho Augusto Nascimento o cercou de cuidados, ajudando a limpar o rosto engordurado pelo pequeno banquete.

A figura mitológica da música brasileira e mundial que se vê na tela é também "o senhorzinho de 82 anos que vejo no dia a dia, vendo novela, escutando música", como definiu Augusto, antes da sessão. Esse senhor esteve com energia boa durante toda a projeção, chegou a rir alto em certos momentos, como quando é lembrada a gargalhada irônica de seu padrinho artístico Agostinho dos Santos (1932-1973), ao confirmar que havia inscrito Milton — à revelia do próprio mineiro — no Festival Internacional da Canção, em 1967.

Fernanda Montenegro e Milton Nascimento na pré-estreia de 'Milton Bituca Nascimento', no Rio de Janeiro, nesta segunda, 18
Fernanda Montenegro e Milton Nascimento na pré-estreia de 'Milton Bituca Nascimento', no Rio de Janeiro, nesta segunda, 18
Foto: Rogério Rezende/Divulgação / Estadão

Reservado e preservado por motivos de saúde (tem diabetes e, como revelado na semana passada, Parkinson), Bituca não deu entrevistas. "Depois da folia carnavalesca (desfilou pela Portela, que o homenageou com o enredo Cantar Será Buscar o Caminho que Vai Dar no Sol), a pressão dele tinha subido um pouco, os médicos o prenderam", contou, bem humorada, a diretora Flávia Moraes.

Ausente das duas pré-estreias anteriores, em Belo Horizonte (10 de março) e em São Paulo (15 de março), ele foi liberado para participar do evento e receber o carinho dos amigos. O mais especial foi a visita da coadjuvante de luxo Fernanda Montenegro, 95 anos, que faz a narração em off que conduz o documentário. Ela não ficou para a sessão, mas fez questão de prestigiar o amigo; posaram para fotos dando as mãos e apareceram em um curto vídeo, sem declarações, postado por Augusto Nascimento.

Flavia Moraes explicou que o trabalho da atriz foi "um presente" para o amigo — e a palavra não foi usada como clichê da linguagem figurada. Fernanda não quis cobrar cachê pela participação no filme. Ela se emocionou no dia da gravação e chegou a parar algumas vezes por minutos, com a voz embargada, antes de voltar a narrar.

"A ideia inicial era usar no off um texto meu, como um diário de viagem. Mas o filme foi ganhando corpo, e pensamos em usar uma voz em terceira pessoa, falando do Milton, com a dimensão toda dele, de alma do Brasil. E quem poderia ser essa voz se não a Fernanda? Que além de tudo tem uma relação pessoal com ele", diz Flavia.

"Falamos muito de um Brasil profundo, e este é um encontro de quem fazia música com o barulho do trem com a eterna professora da Central do Brasil", comenta Marcelo Férla, roteirista do documentário e coautor, junto com Flavia, do texto lido por Fernanda.

A escritora mineira Conceição Evaristo, 78 anos, com pontos em comum com a trajetória de Milton, saiu da sessão impactada em mais de um sentido. "O filme emociona muito, para além de todas as referências pessoais para quem, como eu, tem uma identificação imensa com ele. Tem felicidade e também um tanto de tristeza. Porque tem o silêncio do Milton, que é algo muito forte", comenta.

A atriz Glória Pires, que antes da sessão, havia previsto "muitas lágrimas", saiu com o sorrisão característico, exclamando: "Maravilhoso! A música das nossas vidas, de pais e filhos. Fecha um ciclo". Ao seu lado, a filha Ana Morais, 24 anos, cantora, fazia coro. Era uma das figuras mais jovens do evento, junto com o influenciador Enzo Celulari, 27 anos (reputado como "primeiro Enzo brasileiro"), que acompanhava seu pai, o ator Edson Celulari.

Pai e filho, Edson e Enzo Celulari prestigiaram a pré-estreia do documentário sobre Milton Nascimento
Pai e filho, Edson e Enzo Celulari prestigiaram a pré-estreia do documentário sobre Milton Nascimento
Foto: Rogério Rezende/Divulgação / Estadão

Em meio a convidados diversos como a jornalista Maju Coutinho, o humorista Hélio de La Peña e o ator Marcelo Faria, havia alguns dos mais importantes parceiros e companheiros de viagem de Bituca, como Marcio Borges, 79 anos, e Ronaldo Bastos, 77 anos. O amigo de infância Wagner Tiso, 79, comentou na saída: "O filme conta muito bem da importância do Milton. Da música, nem tanto. Mas é muito bem feito".

O evento serviu como encontro de gerações da música brasileira, de diferentes vertentes como a dos quarentões Rodrigo Suricato (cantor do Barão Vermelho) e o baixista Alberto Continentino, ao violonista Guinga, 74 anos, que chegou de bermuda, representando bem a informalidade carioca. João Bosco, 78, empolgado, pediu à Flavia Moraes, em meio a elogios: "Vou querer o DVD" — a diretora respondeu que iria mandar o link em streaming.

O percussionista Ronaldo Silva, parte da banda de Milton, expressou o orgulho por fazer parte do projeto: "Conseguiram contar bem essa história e, em alguns aspectos, na direção musical e nas imagens, surpreenderam até a gente, que estava tocando na turnê. Fico feliz por estar representando a família, meu pai (o baterista Robertinho Silva, 83 anos, que tocou por décadas com Milton), que foi importante demais para essa jornada."

Zé Renato, parceiro de Milton no clássico Ânima (mostrado no doc), dividia impressões com Kledir Ramil: "A gente está aqui por causa dele. Depois que assisti ao show Milagre dos Peixes no Teatro João Caetano (no Rio), minha vida mudou. O filme dá a dimensão universal e o inexplicável do talento do Milton". Kledir completou: "Deixa bem claro o quão grandioso ele é, e quanta sorte nós temos de ter vindo depois de caras como ele, Gil, Caetano. Sendo do Rio Grande do Sul, me mostrou o quanto é possível ser brasileiro e universal de outras formas". Pedro Luís, também impressionado com a qualidade sonora, ressaltou o tour de force emocional, evocando os vinis ouvidos desde a infância, na casa da família, na Tijuca.

Milton Nascimento e o filho Augusto; filme estreia oficialmente nesta quinta, 20
Milton Nascimento e o filho Augusto; filme estreia oficialmente nesta quinta, 20
Foto: Rogério Rezende/Divulgação / Estadão

Maravilhado com o filme e com a presença de Milton no evento, o jovem cantor e compositor mineiro Tuca Oliveira, 33 anos, ressaltou a "sensação de conforto e carinho" da música de Bituca. "Inesquecível", comentou. Ele faz uma releitura delicada de Canção da América na coletânea ReNascimento, álbum derivado do documentário que chega às plataformas no dia da estreia do filme (quinta, 20 de março) e tem produção de Victor Pozas (um dos diretores musicais do longa, ao lado de Rafael Lagoni) e inclui releituras do repertório de Milton por Sandy, Liniker e Os Garotin, entre outros.

"Eu estou aqui por causa dele, por causa dessas pessoas. Milton é muito agregador, né?", comentou Jorge Vercillo, em animada conversa com Chico Amaral, saxofonista e letrista que, com seu delicioso sotaque mineiro, é um dos fios condutores do doc. "Tem Elis, tem Ângela Maria, genial, no começo e no fim. A Flavia está falando do Milton e da música brasileira, trazendo junto várias gerações, de uma maneira polifônica, polissêmica", elaborou Chico. "É um filme que passeia por todas as faces do diamante: o trem, as cavernas... É a profundidade. Eu sou casado, com uma escorpiana, sei bem como é isso. O Milton é a profundidade da música", lapidou Vercillo. "O melhor do filme é o filme", arrematou Amaral.

Papos assim seguiram noite adentro. Na manhã seguinte, terça-feira, 18, o silêncio de Milton foi quebrado. Ele divulgou por meio de sua assessoria uma declaração exaltando a força recebida pelos companheiros de viagem: "Meu sentimento em relação ao filme é de muita felicidade, principalmente quando penso nos tantos amigos preciosos que a vida me deu e que estão ali presentes. Sou grato por todo o carinho e amor que recebo de tanta gente. Durante toda a minha trajetória, fui guiado pelas amizades e pela música, e isso é o que realmente importa na minha vida".

Milton Bituca Nascimento estreia na quinta-feira, 20.

Veja o trailer de 'Milton Bituca Nascimento'

Estadão
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