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Beto Bellini volta com peça e no papel que foi de Emílio Di Biasi

Em 'Um Passeio no Bosque', eles viveram dois diplomatas que conversam em encontro privado na Suíça

20 set 2019 - 21h11
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Em tempos de autoexposição nas redes sociais, sobra muito pouco de bastidores de políticos. A peça Um Passeio no Bosque seria um tanto estranha se fosse escrita nos dias de hoje. Em cartaz no Espaço Elevador, o texto que o norte-americano Lee Blessing concebeu em 1988 buscava despertar um debate que precisava estar bem longe das câmeras e dos celulares. "Hitler, Napoleão, dariam tudo para viver nesse mundo de destruição", o ator Beto Bellini cita vários trechos de seu personagem, um diplomata russo, em entrevista por telefone.

Mas não foi sempre assim. No começo dos anos 2000, Bellini interpretou o outro papel dessa peça para dois atores. Ele fazia um diplomata norte-americano, jovem e idealista. Já o personagem russo, na ocasião, foi encarnado por Emílio Di Biasi, interpretação que lhe rendeu o Prêmio Shell na época. "São dois homens de poder que se retiram para um bosque a fim de discutir assuntos de ordem secreta, coisas que não falariam da mesma maneira na frente de jornalistas, por exemplo."

O texto foi uma indicação da crítica de teatro Barbara Heliodora, lembra Bellini. "Não demorou para lermos e o Emílio decidiu dirigir também."

O local da conversa é um espaço neutro na Suíça e os assuntos políticos são do interesse dos EUA e da Rússia. "Existe um pano de fundo de conflito nuclear", aponta o diretor Marcelo Lazzaratto. "Nesse ambiente idílico, o desejo podre do homem pela destruição começa a diferenciar o indivíduo da figura pública."

Em certo momento, um dos personagens defende que as armas nucleares, como ogivas assustadoras, são apenas subterfúgios entre as nações e o poder. "O diplomata mais experiente sustenta um olhar fatalista na política e isso também influencia sua vida pessoal. No entanto, o jovem ainda é capaz de se encantar e ter esperança na transformação do mundo", conta Lazzaratto sobre o personagem interpretado por Gustavo Merighi.

Como se estivesse ruindo por dentro, o diplomata russo revela uma doença degenerativa. "Trabalho sem esperança, é uma coisa muito seca, é como se meu cérebro estivesse secando", Bellini puxa mais um trecho da memória. A lembrança é dolorosa, já que o antigo parceiro de Bellini segue afastado dos palcos por motivo de doença. "É muito delicado voltar a esse texto experimentando o papel que foi do Emílio", conta o ator.

Mas o novo papel também vem carregado de boas notícias. Durante os ensaios, Bellini procurou o autor para consultá-lo sobre essa dupla interpretação. "Ele ficou surpreso ao saber que o mesmo ator fez os dois personagens em dois momentos diferentes. É inédito para os textos do Blessing. Para mim é resultado da dedicação de uma vida."

Na encenação de Lazzaratto, o jogo entre os diplomatas é objeto de total foco no Espaço do Elevador. "É bom poder se dedicar em buscar maneiras de falar esse texto", explica o diretor. Para Bellini, a direção de Emílio explorou sutilezas na primeira encenação. Dessa vez, ele acredita que os personagem vêm com muito mais histórias. "Elas estão mais latentes."

UM PASSEIO NO BOSQUE

CIA ELEVADOR DE TEATRO PANORÂMICO. RUA 13 DE MAIO, 222, tel. 3477-7732. 6ª, SÁB., 21H, DOM., 18H. R$ 40 / 20. ATÉ 22/12

Estadão
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