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As imagens que expõem o aperto cotidiano no metrô de Tóquio

Alemão Michael Wolf passou anos sempre voltando à mesma estação de Tóquio e registrando as expressões de passageiros nos menos de 30 segundos em que o trem parava.

26 jul 2017 - 14h48
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Muitas das pessoas nas fotos da série Tokyo Compression ("Aperto em Tóquio", em tradução livre), do fotógrafo alemão Michael Wolf, parecem ter sido forçadas a fazer poses esquisitas.

Foto: BBC News Brasil

Mas não. Suas posturas mostram apenas a contorsão cotidiana dos passageiros no metrô de Tóquio no Japão.

O incômodo das viagens diárias ganham um tom poético nas fotos de Wolf, que foram tiradas na estação Shimo-Kitazawa, que deixou de funcionar em 2013.

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Amassados contra as janelas do trem e outros companheiros de viagem, muitos dos passageiros seguem com os olhos fechados, como se escolhessem se fechar em si mesmos ou entrar em um tipo de transe.

"Você não pode mudar a situação, então a única maneira de suportá-la é colocá-la em alguma parte do cérebro que não te afete", diz Wolf.

"Você sofre de manhã, sofre no caminho de volta e é isso aí: não fique obcecado pensando nisso."

A edição final da série "Aperto em Tóquio" de Wolf acaba de ser publicada no livro The Final Cut ("O Corte Final", porque a estação de trem Shimo-Kitazawa já não existe), encerrando um projeto iniciado há mais de 20 anos.

"A revista Stern me enviou a Tóquio em 1995 depois de alguns ataques de gás sarin", conta Wolf.

"Cheguei na estação de metrô onde tirei as fotografias, fiquei ali 10 minutos e tirei cinco ou seis imagens de pessoas apoiadas nas janelas que pareciam desamparadas e nem sequer era hora do rush."

Wolf decidiu guardar as imagens para decidir o que fazer com elas no futuro.

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"Em 2010, 5 anos depois, tive um pouco de tempo, encontrei essas cinco fotos e pensei: 'por que não volto a essa estação e vejo se consigo fazer algo com isso?'."

O fotógrafo voltou a Shimo-Kitazawa todo ano entre 2010 e 2013. "Fui ali quatro anos seguidos, durante quatro semanas por ano, e toda vez voltava com imagens mais intensas", lembra.

"Eu ia lá todas as manhãs entre 7h45 e 8h50, que é a hora do rush, e a cada 80 segundos passava um trem. Eu tinha 30 segundos para tirar fotos antes que o trem se movimentasse de novo".

O projeto passa uma sensação de claustrofobia. "Uma das coisas que sempre gostei é de fazer o espectador sentir que não pode escapar da imagem", disse Wolf à BBC em 2014.

Essa intensidade lhe rendeu prêmios. Em 2010, Wolf ganhou um prêmio World Press Photo na categoria Vida Cotidiana por uma das imagens e a série "Aperto em Tóquio" foi pré-selecionada para o Prêmio Pictet 2017.

Além disso, suas imagens foram amplamente compartilhadas. "'Aperto em Tóquio' viraliza todo ano", afirma Wolf.

"Se você vê as fotos, imediatamente sabe do que se trata e sente empatia pelas pessoas que estão sofrendo isso, você imediatamente se conecta com elas, não importa quem seja."

Os retratos de Wolf não parecem enganar os passageiros, mas expõem intimidades.

A condensação da água nas janelas do metrô - produto da respiração e do suor dos passageiros - é um recurso visual da "compressão".

"Alguém deve recolhê-la, destilá-la e fazer um perfume: Big City Scent (Essência da Grande Cidade)", brinca Wolf. "Damien Hirst faria isso e venderia por um milhão de dólares: o suor concentrado de um milhão de passageiros em um pequeno frasco."

  • Leia a versão original desta matéria (em inglês) no site da BBC Capitalulture
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