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A polêmica estátua de 'mãe do feminismo' nua que provocou revolta em Londres

O memorial para a autora e ativista Mary Wollstonecraft atrai críticas devido à inclusão de uma figura feminina nua.

11 nov 2020 - 16h11
(atualizado em 15/11/2020 às 20h39)
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A estátua fica na região de Newington Green, em Londres, perto do local da escola que Mary Wollstonecraft fundou
A estátua fica na região de Newington Green, em Londres, perto do local da escola que Mary Wollstonecraft fundou
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Uma estátua em homenagem à "mãe do feminismo" provocou revolta entre algumas pessoas nas redes sociais depois de ser revelada no norte de Londres.

A escultura de Mary Wollstonecraft, da artista Maggi Hambling, foi exibida na terça-feira (10/11) na área de Newington Green, na capital britânica.

Nascida em Londres em 1759, Wollstonecraft foi uma autora e ativista que promovia os direitos das mulheres.

A escultura de bronze prateada atraiu críticas de alguns que questionaram a inclusão de uma figura feminina nua em vez de uma imagem realista dela.

Bee Rowlatt, coordenadora da campanha pela instalação da estátua, disse: "Suas ideias mudaram o mundo. Foi preciso coragem para lutar pelos direitos humanos e pela educação para todos."

"Mas depois de sua morte precoce durante um parto, seu legado foi enterrado, em um ataque misógino contínuo. Hoje estamos finalmente reparando essa injustiça."

"Mary Wollstonecraft foi uma rebelde e uma pioneira, e ela merece uma obra de arte pioneira."

"Este trabalho é uma tentativa de celebrar sua contribuição para a sociedade com algo que vai além das tradições vitorianas de colocar pessoas em pedestais."

A inauguração da estátua acontece após uma década de campanha para arrecadar as 143 mil libras (cerca de R$ 1 milhão) necessárias para criar a homenagem.

A estátua já está em exibição e uma cerimônia de inauguração foi transmitida ao vivo.

Ele retrata uma figura feminina prateada emergindo de uma mistura giratória de formas femininas.

Mais de 90% dos monumentos de Londres celebram os homens, apesar da população ser 51% feminina, de acordo com a campanha.

'Desrespeitoso'

No entanto, a homenagem foi recebida com críticas por sua representação simbólica de uma figura feminina, em vez de ser uma representação realista de Wollstonecraft.

Alguns também questionaram a decisão de deixar a figura nua.

A escritora Caitlin Moran afirmou que uma representação melhor de uma "mulher comum" nua seria "Wollstonecraft morrendo, aos 38, no parto, como tantas mulheres naquela época — encerrando seu trabalho revolucionário".

"Isso me faria pensar e chorar", ela tuitou.

A escritora Tracy King tuitou: "Não há razão para retratar Mary nua, a menos que você esteja tentando ser polêmico para provocar um debate."

"Estátuas de homens homenageados podem ser vestidas porque o foco está em seu trabalho e realizações.

"Enquanto isso, as mulheres que caminham ou correm pelos parques enfrentam altos índices de assédio sexual porque nossos corpos são considerados propriedade pública."

Caroline Criado Perez, que fez campanha para que a escritora britânica Jane Austen aparecesse na nota de 10 libras, disse que a estátua "parece desrespeitosa à própria Wollstonecraft".

O historiador Simon Schama escreveu que "sempre quis um belo monumento para Wollstonecraft — mas não será este".

Quem foi Mary Wollstonecraft?

Mary Wollstonecraft
Mary Wollstonecraft
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Wollstonecraft nasceu em uma família próspera em 1759, mas seu pai, um alcoólatra, gastou toda a fortuna da família.

Como sua mãe, ela frequentemente sofreu abusos do pai.

Como mulher, Wollstonecraft recebeu pouca educação formal, mas decidiu se educar e aos 25 abriu um internato para meninas em Newington Green, perto do local da estátua.

Wollstonecraft tinha 33 anos quando escreveu sua obra mais famosa A Vindication of the Rights of Woman (Uma reivindicação dos direitos da mulher), que imaginava uma ordem social em que as mulheres eram iguais aos homens, muito diferente da sua época.

Ela se misturou aos intelectuais radicais da época — debatendo com Benjamin Franklin, Thomas Paine e Joseph Priestley.

Ela morreu aos 38 anos após o nascimento de sua filha, a autora Mary Shelley, famosa por escrever, entre outras obras, Frankenstein.

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