Esporte Multitelas. Eventos esportivos são associados a picos de utilização da web.
Por Marcelo Coutinho - Consultor de Estratégia de mercado do Terra e professor da FGV
Dados da comScore, Nielsen-IBOPE, Akamai e Cisco (mensuração do volume de tráfego entre os principais backbones globais) mostram que picos de utilização da Web, tanto em termos de tempo quanto de páginas vistas, estão geralmente associados a grandes eventos esportivos. Desde 2010, o Terra aproveita esses momentos para entender melhor a relação entre fãs de esportes e o conteúdo digital. Além dos dados sobre comportamento de navegação da audiência, realizamos pesquisas para verificar as opiniões dos usuários sobre a transmissão dos eventos que cobrimos (Jogos de Inverno de Vancouver, Copa da África do Sul, Pan-Americano de Guadalajara, Olimpíadas de Londres e Copa do Brasil).
A conclusão dessas investigações é que o internauta brasileiro utiliza a Web não somente para acompanhar os eventos, mas principalmente para obter informações sobre tudo que cerca as competições e como um espaço para manifestar opiniões sobre os resultados. E quanto maior seu envolvimento, maior a utilização de diversos meios de acesso. No caso brasileiro, entre os usuários que acompanharam a Copa de 2014 várias vezes por dia, 62% utilizaram três ou mais meios ao longo do evento (entre computador, celular, tablet e TVs conectadas). A mesma tendência foi verificada nos EUA: nas Olimpíadas de 2012, o usuário que acompanhava somente via TV gastava cerca de quatro horas diárias; já o que utilizava, além da TV, o computador e o celular, gastava cerca de 6h e 50min, sendo cinco horas na TV, 59 minutos no computador e 51 minutos no celular, de acordo com uma série de 12 pesquisas em 50 mil domicílios americanos realizada pela Comscast/NBC. No caso de esportes, não existe uma "canabalização" das telas, mas sim um uso cumulativo delas.
Comparando as Copas de 2010 e 2014, verificamos também um aumento expressivo do uso das redes sociais e dos telefones celulares - que se tornaram praticamente um "canivete suíço" para os fãs de esportes. Entre os usuários mais jovens (16-34 anos), o uso do celular "várias vezes por dia" em 2014 atingiu 62%, contra 47% do computador. Entre os mais velhos (acima de 45 anos), a relação é praticamente inversa (53% para o computador contra 32% para o celular). Na Copa de 2010, menos de 1/3 dos respondentes afirmou ter utilizado o celular para obter informações sobre os jogos durante toda a competição. Em relação ao uso das redes sociais para comentar os eventos, o uso é crescente: 48% em 2014 contra 15% em 2010 (mesmo percentual das Olimpíadas de Londres, em 2012).
Embora a TV continue imbatível quando se trata de assistir aos jogos, tudo o que acontece antes e depois "acontece" na Internet: perguntados sobre o uso comparativo entre os meios em 2010 e 2014, 79% dos respondentes afirmaram que aumentaram o uso do celular contra 73% do computador (notebook ou desktop) e 59% da televisão. Em 2010 (comparando com a Copa de 2006 na Alemanha), o aumento de uso dos computadores era mencionado por 89%, seguido pela TV (52%) e celular (23%). Em ambas as Copas, o rádio e os impressos foram os meios que mais perderam, com mais gente (36%) reportando uma diminuição do seu uso, do que seu aumento (27%).
Em relação às Olimpíadas do Rio, em 2016, a Web deve ficar com a medalha de ouro. Por concentrar um maior número de eventos simultâneos e envolver fãs de diversos esportes, as competições olímpicas são muito mais adequadas para a Web do que a Copa do Mundo. Além da continuidade da "mobilização" dos internautas esportistas, devemos assistir ao aumento expressivo do uso das TVs conectadas (o Terra é um dos pioneiros mundiais na transmissão de Olimpíadas por esse meio): mesmo sendo uma novidade em 2012, verificamos um uso intenso das TVs aos sábados e domingos, não para acompanhar os eventos em tempo real, mas para assistir a todas as competições que não tinham sido transmitidas pelas emissoras ou vistas pelo espectador durante a semana.