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Reduzir consumo de carne pelo preço não é consciência

No Brasil, comemorar a redução no consumo de carne é uma atitude irrefletida, entenda o motivo

19 abr 2022 - 05h00
(atualizado em 25/4/2022 às 16h34)
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O consumo de carne tem diminuído bastante: 67% dos brasileiros reduziram o consumo segundo o instituto Datafolha. Por um lado, esse consumo tem diminuído por conta da consciência. Por outro, a maioria das pessoas está deixando de comer por conta da alta da inflação, que elevou o preço de carnes e similares.

Entretanto, mesmo para quem luta pelo fim da exploração animal e quer ver uma redução no consumo de carne, não tem nada para comemorar. As pessoas estão deixando de consumir por não ter acesso, por não ter poder de compra, e não por consciência.

Comemorar o aumento no preço da carne e trazer o veganismo como pauta dentro desse contexto, é uma atitude totalmente irrefletida e de total falta de compreensão da realidade. Não podemos ignorar a insegurança alimentar e a fome que atinge milhões de brasileiros e brasileiras.

É necessário propagar o veganismo compreendendo a questão cultural e social, a gravíssima falta de informação e o simbolismo do consumo de animais em nossa sociedade.

O consumo de animais é estimulado e induzido pela publicidade, pela economia e pela tradição. A nossa cultura é altamente dependente de produtos de origem animal, e o processo de conscientização é lento.

Quantas vezes já não escutamos: ‘’se não tem carne, não tem comida.’’ Consumir animais é o significado de ter o que comer e de estar bem socialmente. Para a maior parte da população a carne é um símbolo.

Uma coisa é fato, se a quebrada não consumir pedaços ‘’sofisticados’’ de animais, vai ter sempre uma calabresa, salsicha, um ovo frito ou frango no prato, pois, essa forma de se alimentar está profundamente enraizada, e não é simples mudar isso.

Foto: Bibiana Belisário/Vegano Periférico

Compreendemos as atrocidades da indústria da carne e sabemos que o veganismo é necessário, porém, comemorar a redução no consumo de carne sem considerar a situação do país, é excludente. A maioria da população não vai se conscientizar da exploração animal por conta do preço da carne.

O que faz com que as pessoas comecem a pensar sobre as consequências do consumo de animais é a motivação através do acesso à informação e a possibilidade de escolha. Já é possível ver diversas pessoas propagando o veganismo popular e periférico com essa consciência.

Economicamente falando é muito mais viável não consumir nada de origem animal, é muito mais barato ser vegano. Mesmo com a alta nos alimentos básicos, hoje gastamos metade do que gastávamos em uma compra com produtos de origem animal. É um fato que os alimentos de origem animal encarecem muito a compra.

Muita gente está passando fome, sem poder de escolha e sem acesso a essas informações. Negligenciar essa questão, mencionando apenas o preço da carne, é uma forma de fechar os olhos para a realidade. Um dia vamos comemorar a redução no consumo de carne, mas vai ser devido à emancipação popular e não à insegurança alimentar.

Foto: Vegano Periférico
Vegano Periférico Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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