Vamos parar com guerras e destruir armas nucleares, diz Raúl Castro
- Angela Chagas
- Direto do Rio de Janeiro
Em um dos discursos mais aguardados desta quinta-feira na plenária dos chefes de Estado na Rio+20, o líder cubano Raúl Castro fez um apelo às nações ricas para acabar com a guerra contra os mais pobres. "Nenhuma hegemonia é possível. Vamos parar com a guerra, trabalhar em prol do desarmamento, destruindo os arsenais nucleares", disse em tom conciliatório ao fazer uma breve apresentação no Riocentro, no Rio de Janeiro.
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"Deveríamos tentar uma nova distribuição do mundo, para não chegarmos a espiral de conflitos nunca precedente num mundo que está doente. O gasto militar aumentou 1,7 trilhão de dólares, quase o dobro do que na década de 1970, quando se arrastava a corrida armamentista. Duas décadas depois da Guerra Fria, contra quem essas armas serão utilizadas?", questionou o cubano.
Raúl Castro também citou frases de seu irmão, Fidel Castro, que há vinte anos participou da Eco92 no Rio de Janeiro. "Nesta mesma sala, o líder da revolução cubana Fidel Castro disse: 'uma espécie biológica muito importante está em risco de desaparecer por causa da eliminação dos seu próprio habitat. Essa espécie é o homem', disse ao destacar que há 20 anos esse discurso poderia ser considerado alarmista, mas hoje reflete uma "irrefutável verdade".
"Os efeitos disso não podem ser ocultados. As espécies são extintas com velocidade 100 vezes mais rápida que nos registros fósseis. Cerca de 60% dos ecossistemas estão completamente degradados e empobrecidos. Apesar dos resultados de diversas reuniões, as emissões do CO2 foram aumentadas em 35% até 2009", afirmou ao criticar o modelo de produção e consumo das nações ricas.
Segundo Castro, a falta de consenso sobre o meio ambiente representa a incapacidade dos grupos desenvolvidos de agir de acordo com suas obrigações. "Apesar do esforço extraordinário do Brasil em atingir acordos, a pobreza aumenta, a fome e a desnutrição aumentam. E aumenta as desigualdades, como consequência do neoliberalismo que assintimos nos últimos 20 anos".
Ele ainda citou "o pretexto de acabar com armas de destruição de massa" na ocupação do Iraque, como exemplo da imposição dos países ricos sobre os mais pobres. "As agressões que agora ameaçam o Oriente Médio, terão como objetivo em pouco tempo controlar a água e outros recursos em via de extinção", completou.
Sobre a Rio+20
Vinte anos após a Eco92, o Rio de Janeiro volta a receber governantes e sociedade civil de diversos países para discutir planos e ações para o futuro do planeta. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorre até o dia 22 na cidade, deverá contribuir para a definição de uma agenda comum sobre o meio ambiente nas próximas décadas, com foco principal na economia verde e na erradicação da pobreza.
Depois do período em que representantes de mais de 100 países discutiram detalhes do documento final da Conferência, o evento ingressou quarta-feira na etapa definitiva e mais importante. Até amanhã, ocorre no Riocentro o Segmento de Alto Nível da Rio+20, com a presença de diversos chefes de Estado e de governo de países-membros das Nações Unidas.
Apesar dos esforços do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, vários líderes mundiais não vieram ao Brasil, como o presidente americano Barack Obama, a chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro ministro britânico David Cameron. Além disso, houve impasse em relação ao texto do documento definitivo, que segue sofrendo críticas dos representantes mundiais. Ainda assim, o governo brasileiro aposta em uma agenda fortalecida após o encontro.