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Fezes de réptil de 200 milhões de anos revelam parasitas e coevolução

Cientistas estudaram coprólitos, cocôs fossilizados de 200 milhões de anos, e acharam os parasitas mais antigos da Ásia, que coevoluíram com o réptil infectado

14 ago 2023 - 21h51
(atualizado em 15/8/2023 às 12h03)
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Embora os temíveis répteis parecidos com crocodilos que conviveram com os dinossauros tenham sido predadores ferozes, eles não estavam livres de um tipo de criatura muito menor: parasitas. Análises em coprólitos (fezes fossilizadas) de prováveis fitossauros de 252 milhões a 201 milhões de anos atrás revelaram infecções parasitárias inéditas, mostrando uma prova inegável de que os répteis antigos também sofriam desse tipo de problema.

Os restos preservados foram encontrados na Tailândia, em 2010, no afloramento Huai Nam Aun. O sítio arqueológico do Triássico já foi um lago de água salobra ou doce, cheio de criaturas antigas, como peixes parecidos com tubarões, ancestrais de tartarugas e répteis e um tipo primitivo de anfíbio chamado Temnospondyli.

Foto: Smokeybjb/CC-BY-3.0 / Canaltech

Um ambiente assim seria muito propício para o aparecimento de parasitas, segundo contou à CNN o autor do estudo sobre o achado, Thanit Nonsrirach. Nos coprólitos de milhões de anos, os parasitas foram evidenciados pela presença de pequenos ovos de 50 a 150 micrômetros de comprimento, vindos de 5 espécies diferentes. É a primeira vez que essas criaturas são vistas parasitando um vertebrado terrestre da Ásia no final do Triássico.

Qual animal abrigou os parasitas do Triássico?

No coprólito, havia outra novidade — também foi a primeira vez que diversas espécies de parasita surgiram em um único cocô, incluindo os nematoides, tipo de verme que existe até hoje, infectando plantas e animais. O fóssil em si tinha 7,4 cm de comprimento e 2,1 cm de diâmetro, com superfície dura, lisa e acinzentada.

À CNN, o paleontólogo Martin Qvarnström contou que coprólitos muitas vezes trazem fósseis que nunca estariam preservados em outros lugares, como células de músculos, insetos, cabelos e restos de parasitas como os da pesquisa. Por serem opacos, no entanto, é difícil decidir como e onde fazer abrir esses artefatos para análise.

Outra dificuldade é descobrir quem produziu as fezes antigas. Alguns peixes, por exemplo, possuem intestinos espiralados, defecando no mesmo formato. Já anfíbios e répteis costumam gerar formatos cilíndricos.

A ausência de ossos no coprólito da Tailândia indica uma capacidade digestiva poderosa o bastante para dissolvê-los, algo presente nos crocodilos atuais. A espécie, no entanto, não existia à época, surgindo apenas 100 milhões de anos depois — e até mesmo predando dinossauros, que foram encontrados em seus estômagos — , e não deixando fósseis no local. Há chances de que o animal tenha sido semelhante aos crocodilianos, no entanto — o que leva os cientistas a crer que fosse um fitossauro.

Fitossauros são muito parecidos com os crocodilos, trazendo mandíbulas longas e preenchidas com muitos dentes. Seu corpo era pesado e escamoso, com caudas longas, só se diferenciando dos répteis atuais pelas narinas — elas ficavam logo abaixo dos olhos, ao contrário dos crocodilos, que as trazem no final do focinho.

Curiosamente, essa semelhança não indica parentesco. As características destas espécies surgiram do que se chama evolução convergente, quando animais sem relação entre si acabam desenvolvendo traços parecidos por processos independentes.

Acerca dos parasitas, eles deixaram estruturas orgânicas esféricas e elipsoides, sendo que um deles revelou uma casca externa com um embrião dentro. Era um nematoide da ordem Ascaridida. Outro tinha uma casca bem desenvolvida e corpos organizados no interior, podendo também ser um nematoide. Os outros eram desconhecidos, e havia também cistos de parasitas unicelulares.

O estudo, para a ciência, ajuda a desvendar as relações entre parasitas e hospedeiros desde tempos remotos, segundo Qvarnström — assim, as origens e evolução das relações parasitárias são reveladas. Não há como saber, segundo Nonsrirach, se os parasitas deixam o animal doente, já que muitos conseguem usar a energia e alimentação do hospedeiro sem causar problemas, mas é possível que o antigo fitossauro os tenha adquirido se alimentando de uma presa infectada.

Se você pensou que esse achado é bizarro, saiba que, nos últimos anos, a ciência já encontrou fósseis incríveis, como a última refeição de um dinossauro herbívoro em seu estômago fossilizado, um ovo dentro de um ovo fossilizado, a primeira laringe preservada de um dino, um embrião de dinossauro quase totalmente preservado dentro do ovo, um ânus de dinossauro e um umbigo preservados e até mesmo o primeiro mamífero atacando um dinossauro já identificado na história.

Fonte: PLOS One com informações de CNN

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