O procurador da República, Luiz Francisco de Souza, faz questão de renegar o posto de peça-chave do escândalo da violação do painel do Senado. Ele, no entanto, não consegue se distanciar do foco de atenções nos dias que antecedem a definição do futuro político dos senadores Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Roberto Arruda (sem partido-DF).Autor das gravações que deram origem à divulgação da fraude, ele defende a cassação dos dois senadores e a instalação de uma ampla CPI da Corrupção no Congresso Nacional como única forma da instituição manter a credibilidade popular. Luiz Francisco considera que a postura da opinião pública será decisiva para o resultado da votação dos parlamentares.
O senhor está respondendo a processo administrativo, foi duramente criticado por colegas e sofreu tentativa de desmoralização por alguns senadores. Valeu a pena?
Vai valer a pena se a sociedade pressionar para que todo mundo vote pela CPI da Corrupção. Porque 80% do que disse o senador Antônio Carlos foi que o governo estava infestado de corrupção. O que foi que ele disse do Eduardo Jorge? Que se quebrasse o sigilo bancário, telefônico, tiraria o presidente. E terceiro, ele disse sobre o painel. Então, não pode ficar só no terceiro item, o painel. Tem que exaurir também os pontos um e dois.
O senhor disse que havia três pontos. O terceiro está sob processo de investigação. Nos outros dois, o que há de concreto?
Primeiro, não existe uma investigação contra o senhor Eduardo Jorge, existe uma investigação sobre atos administrados dentro da Previ, Dataprev, Serpro, Ministério da Justiça, Renavam, BNDES e outras áreas, Petrus, Furnas... são órgãos administrativos onde ocorreram denúncias sérias, muitas dessas envolvem o senhor Eduardo Jorge. E só pode se jogar luz sobre esse fato com a CPI da Corrupção. Por isso, o pronunciamento da CNBB ontem (anteontem) foi tão relevante, porque a CNBB aponta a necessidade absoluta de ter essa CPI da Corrupção e a necessidade da cassação dos dois senadores envolvidos na violação do painel.
O senhor acha que a CPI consegue ter tanto poder de fogo?
Se ela durar cerca de nove meses a um ano, ela consegue. Agora, se a CPI for criada só de brincadeirinha, para durar 90, ou 120 dias, aí não.
E pelo que o senhor está vendo no Congresso?
Tudo vai depender da opinião pública. Na verdade, o grande responsável por esse caso não sou eu. Os grandes responsáveis são os jornalistas, que foram atrás das informações e publicaram. Ou seja, o grande responsável disso tudo aí é o povo brasileiro, que se organiza e faz com que o Estado se mexa. Nesse caso todo foi o que eu mais odiei, porque o meu papel nele é quase ridículo. É até irritante. Nesse caso, a única coisa que eu fiz foi uma fitazinha, de uma hora e pouco, e depois mandar para o Molina (Ricardo Molina, foneticista). No final, quem fez as denúncias de corrupção foi uma banda do Antônio Carlos contra a banda dos ministros ligados ao Jader, e um grupo do Jader contra um grupo dentro governo ligado ao Antônio Carlos. São duas bandas dentro do governo que denunciam o próprio governo.
Mas se não fosse aquela fitinha a história não teria chegado a esse ponto...
Se não fosse a imprensa. Se a imprensa não publicasse não chegava nada a esse ponto.
O senhor vê algum denominador comum entre todos esses casos, o caso Eduardo Jorge, Sudam, Sudene, todas essas coisas?
Eu vejo pelo menos uma coisa. A tentativa do governo a cada dia de desmantelar a Secretaria Federal de Controle, o Judiciário, o Ministério Público, a Polícia Federal, a Receita Federal, o Tribunal de Contas e os fiscais ambientais. Essas sete categorias exercem poder de polícia, teriam que ser fiscais para poder garantir que a gestão dos recursos públicos seja feita da forma mais ética possível, destinada às necessidades centrais. E essas sete categorias estão sendo a cada dia mais pisadas, mais desmanteladas. Isso é o que tem em comum.
Na conversa que o ACM teve com os procuradores, ele falou para que queria a lista?
O que ele falou foi que ele tem um vasto conjunto de dossiês e que, por orientação do colunista Villas Boas-Corrêa, ele não usaria tudo de uma vez, usaria de forma dosada, graduada. Se ele tem dossiês em casa, em vez de trazer para a polícia, para o Ministério Público, fica dizendo que vai graduar a revelação, essa não é uma postura ética, é uma postura similar a de um chantagista.
O senhor acredita que Arruda e ACM vão ser cassados?
Eu acho que eles tem que ser cassados porque é impossível que a Regina fizesse tudo aquilo se não fosse para receber ordens. A opinião pública tem que pressionar cada parlamentar, cada senador, para que eles cumpram o dever e cassem. Se o cidadão de Fortaleza, liga, pressiona, manda carta, faz passeata, manifestação, exige, sai a cassação.
E se não houver a cassação?
O Senado e as forças que conduzirem para algum tipo de perdão vão ficar maculadas.
O senhor acha que o senador Luiz Estevão, com base na violação do painel, conseguirá reverter o resultado da cassação dele?
É impossível. Todo processo de impeachment e de cassação é eminentemente político, então, se 41 votaram livremente sem ameaça de morte, sem receber dinheiro pela cassação, é o que vale.
O senhor acha que o Brasil passa por uma mudança?
Eu acho que é um bom momento para o país. A medida que essas falcatruas são denunciadas, a opinião pública toma ciência delas, e com isso, o Brasil melhora.
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