Doença de Avril Lavigne vem do carrapato e pode matar

A doença causada por bactéria não é transmitida no Brasil, mas há patologia semelhante no País: a síndrome Baggio-Yoshinari

8 abr 2015 - 14h45
(atualizado às 14h47)
Foto: @avrillavigne/Instagram/Reprodução

Avril Lavigne foi diagnosticada com a doença de Lyme em outubro do ano passado e passou cinco meses em repouso. “Senti como se não pudesse respirar, falar ou me mexer. Pensei que estava morrendo”, disse a cantora canadense à revista americana People. “Houve vezes em que não podia tomar banho por uma semana inteira porque eu mal podia suportar. Sentia como se minha vida estivesse sendo sugada.”

Já ouviu falar nessa patologia transmitida por carrapato? Ela tem esse nome porque foi descrita pela primeira vez na cidade de Lyme, nos Estados Unidos, em 1975. Tire suas dúvidas com as informações do infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp)/Botucatu, e da infectologista Maria Lucia Biancalana, da Beneficência Portuguesa de São Paulo:

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O que é a doença de Lyme?

É uma doença causada pela bactéria Borrelia burgdorferi . Os principais órgãos acometidos são a pele, articulações, coração e o sistema nervoso (periférico e central). Se não for diagnosticada e tratada precocemente, a doença de Lyme pode levar a importantes sequelas crônicas e, em casos mais raros e isolados, até mesmo a óbito, como informou o infectologista Barbosa.

Como é transmitida?

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A bactéria é transmitida durante a picada de carrapatos, que, por sua vez, se infectaram ao se alimentar de sangue de animais silvestres que servem de reservatório e, por isso, a doença é classificada como uma zoonose. “Pode haver transmissão materno-fetal, caso a gestante seja infectada pela bactéria”, completou o infectologista Barbosa. 

Quais são os sintomas?

Entre os sintomas precoces, que aparecem cerca de três dias a um mês após a picada, estão eritema (erupção avermelhada com halo em volta) no local da picada e potencialmente em outros locais, febre, calafrios, cansaço, inchaço de gânglios (ínguas), paralisia facial, palpitações cardíacas, dor muscular pelo corpo, dor nas articulações e dor de cabeça. Quando a doença não é tratada, o paciente evolui para uma fase crônica com os sintomas chamados tardios, que marcam presença meses e anos após a picada, como dor crônica e inchaço em articulações (principalmente joelhos), dormência e formigamento de membros, prejuízo da memória e de raciocínio, distúrbios do sono e fadiga crônica.

Como é feito o diagnóstico?

Após a suspeita médica, feita com dados clínicos e epidemiológicos, exames de sangue podem indicar de forma indireta (sorologia: presença de anticorpos) a infecção pela bactéria.

Como é o tratamento?

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O tratamento em casos de diagnóstico precoce e menor gravidade é feito com o uso de antibióticos orais, de uma a duas semanas. Em casos mais graves, é necessário uso de antibióticos endovenosos por três semanas ou mais, como informou Barbosa.

Se não for tratada, quais são as consequências?

O paciente pode evoluir para a fase crônica da doença, com problemas como artrite, alterações neurológicas e cardíacas, além de cansaço significativo. 

Como prevenir?

Ao entrar em contato com ambientes naturais, evite a picada de carrapato com o uso de roupas longas e claras, e meias. Aposte em repelente à base de icaridina, e spray à base de permetrina nas roupas, como indicou Barbosa. Procure pelo carrapato no corpo, incluindo membros, tronco e regiões de dobra. “Os mais perigosos são os pequenos, pois passam despercebidos e a infecção somente acontece após o período de 36 a 48 horas com o carrapato sugando o ser humano”, alertou o infectologista. Se encontrá-los, retire-os, evitando que se rompam.

Se notar a presença de um carrapato na pele, o que fazer?

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Segundo a infectologista Maria Lucia, a maneira mais adequada de se retirar um carrapato é removê-lo lentamente com o auxilio de uma pinça. “Retire os carrapatos o mais rente à pele, evitando que se rompam, pois o risco de transmissão da bactéria é maior”, comentou Barbosa. “Em casos de infestação por carrapatos, mesmo sem sintomas, procure um médico, pois a profilaxia com antibióticos pode ser considerada. Em casos de sintomas, procure o médico o mais rápido possível”, completou Barbosa.

Em quais países a doença de Lyme é mais comum? Ela também é transmitida no Brasil?

A doença ocorre principalmente no hemisfério norte, como Estados Unidos, Canadá e alguns países da Europa. Segundo a infectologista Maria Lucia, a bactéria Borrelia burgdorferi  jamais foi encontrada no Brasil e, portanto, não existe a doença de Lyme aqui, mas há uma patologia similar transmitida por carrapatos: a síndrome Baggio-Yoshinari.  A lesão cutânea ocorre em 40% a 50% dos casos, sintomas articulares em 30% a 35%, neurológicos em 35% e cardíacos em 5%. O período de incubação da infecção varia de quatro a 30 dias, em média 10 dias. “Setenta e cinco por cento dos casos tratados adequadamente na fase aguda são curados. Se os antibióticos forem administrados após três meses de evolução, apenas 25% têm a cura. Um aspecto epidemiológico relevante, frequentemente relatado pelos doentes com essa síndrome, é o histórico de contato com animais domésticos, como cães, bois e cavalos, previamente ao surgimento da doença”, completou a médica.

Qual carrapato transmite a doença de Lyme?

“O carrapato que transmite a doença de Lyme não existe no Brasil e é o Ixodes ricinus . No Brasil, existem o Amblyomma cajennense  e Ixodes loricatus . Acredita-se que o Amblyomma cajannense , vulgo carrapato estrela, seja o vetor que transmite o agente para o homem aqui no Brasil, infectando com a doença parecida com a Lyme”, explicou a infectologista Maria Lucia.

Fonte: Ponto a Ponto Ideias Ponto a Ponto Ideias
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