Agricultores franceses voltam às ruas para impedir ratificação do acordo UE-Mercosul

Tratores agrícolas voltaram a circular pelas ruas de Paris nesta terça-feira (14), em protesto contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. A nova manifestação dos agricultores franceses ocorre no momento em que o tratado está em processo de ratificação e será em breve examinado pelo Conselho Europeu.

14 out 2025 - 12h00

Tratores agrícolas voltaram a circular pelas ruas de Paris nesta terça-feira (14), em protesto contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. A nova manifestação dos agricultores franceses ocorre no momento em que o tratado está em processo de ratificação e será em breve examinado pelo Conselho Europeu.

Os tratores agrícolas voltaram a desfilar pelas ruas de Paris nesta terça-feira, 14 de outubro de 2025, contra o acordo comercial União Europeia-Mercosul.
Os tratores agrícolas voltaram a desfilar pelas ruas de Paris nesta terça-feira, 14 de outubro de 2025, contra o acordo comercial União Europeia-Mercosul.
Foto: AFP - DIMITAR DILKOFF / RFI

A mobilização foi convocada pela Confederação Camponesa, o terceiro maior sindicato agrícola da França, e é a segunda realizada no país em menos de um mês. Agricultores e tratores vindos de várias regiões marcharam da Esplanada dos Inválidos até a Torre Eiffel.

Publicidade

O protesto reuniu centenas de manifestantes. Cartazes com os dizeres "Não ao Mercosul" e "Mercosul: morte certa" foram vistos durante o cortejo. A Confederação Camponesa, apoiada por dezenas de associações e coletivos, pede ao presidente francês Emmanuel Macron que "cumpra seu compromisso" de proteger o setor agrícola do país.

No último Salão da Agricultura, em fevereiro de 2025, Macron criticou o acordo como "um texto ruim" e prometeu "fazer tudo para impedir seu avanço, em defesa da soberania alimentar e europeia". No entanto, após a visita do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva a Paris, em junho, o líder francês afirmou estar disposto a assinar o acordo até o fim de 2025, sob certas condições. Desde os últimos anúncios da Comissão Europeia, o presidente ainda não se pronunciou.

O Executivo europeu anunciou medidas de salvaguarda "robustas" para proteger produtos agrícolas "sensíveis" do bloco. Bruxelas propôs ações em caso de aumento repentino das importações ou queda de preços, com monitoramento intensificado.

"Discurso duplo" de Macron

Diante da instabilidade política recente na França, os sindicatos exigem uma posição clara do presidente, que é acusado por alguns de manter um "discurso duplo" ou até mesmo de mudar de posição. Em entrevista à rádio FranceInfo, Thomas Gibert, porta-voz nacional da Confederação Camponesa, afirmou perceber que Macron "está tentado a mudar de lado e dizer que, com essas migalhas, poderíamos considerar o tratado aceitável".

Publicidade

O porta-voz reiterou, em nome dos manifestantes: "Isso não mudará em nada as consequências dramáticas que esse acordo terá sobre nossa agricultura e nossa alimentação."

Todos os sindicatos agrícolas franceses se opõem firmemente ao acordo entre a União Europeia e os quatro países latino-americanos do Mercosul: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. O processo de ratificação foi iniciado por Bruxelas no início de setembro. A Comissão Europeia espera obter o aval dos 27 Estados-membros até o fim do ano, antes do encerramento da presidência rotativa do Brasil no Mercosul.

A França, que por muito tempo tentou formar uma minoria de bloqueio dentro da UE, parece ter recuado em seus esforços diplomáticos. O capítulo comercial do acordo pode ser aprovado por maioria qualificada no Conselho da UE, sem necessidade de ratificação pelos parlamentos nacionais. O Parlamento Europeu também deverá se pronunciar.

Acordo negociado há mais de duas décadas

O acordo, negociado há mais de 20 anos e assinado no fim de 2024, permitiria à União Europeia exportar mais automóveis, máquinas, vinhos e outros produtos. Em contrapartida, facilitaria a entrada de carne bovina, frango, açúcar, mel, entre outros, com redução de tarifas alfandegárias.

Publicidade

"É um acordo que vai desestruturar nossa soberania alimentar, que promove a concorrência e, portanto, a política do menor custo", afirmou Stéphane Galais, porta-voz da Confederação Camponesa, durante o Encontro da Pecuária, na região de Auvergne, na última terça-feira.

Os agricultores também denunciam uma concorrência desleal, já que países do Mercosul, especialmente Brasil e Argentina, utilizam pesticidas e antibióticos proibidos na Europa.

"Num momento em que os desafios climáticos nunca foram tão urgentes, como ainda se pode defender a troca de carros e serviços por nossa alimentação?", questionou Galais.

Para o sindicato, herdeiro das lutas camponesas altermundialistas e historicamente contrário aos tratados de livre comércio, a resposta ao acordo é um "não, firme e definitivo".

Nem as "cláusulas de salvaguarda" nem as chamadas "cláusulas espelho milagrosas" seriam suficientes, para garantir um reequilíbrio do acordo, garante a Confederação Camponesa.

Enquanto a aliança FNSEA-Jovens Agricultores, principal força sindical agrícola, protestou contra acordo UE-Mercosul no fim de setembro, a Confederação Camponesa escolheu o dia 14 de outubro em apoio a dois de seus integrantes que serão julgados nesta tarde no Tribunal Judicial de Paris. Os dois militantes sindicais respondem por "violência e rebelião" em decorrência de uma manifestação contra uma reunião europeia de representantes do comércio de cereais, realizada no Grand Palais em dezembro passado.

Publicidade

(RFI com AFP)

A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se