Vladimir Putin propõe encerrar a guerra na Ucrânia em troca do controle sobre Donetsk, Lugansk e Crimeia, áreas estratégicas e historicamente disputadas, justificando a ação como uma proteção aos russófonos.
O presidente russo, Vladimir Putin, pede os territórios de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, e também da Crimeia, em troca do fim da guerra, que já dura três anos e meio. A proposta foi feita ao presidente dos EUA, Donald Trump, durante reunião no Alasca na última sexta-feira, 15, segundo fontes próximas às negociações afirmaram à Reuters e ao The New York Times.
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Donetsk e Lugansk integram Donbass, região fronteiriça com o sudoeste da Rússia e principal reduto do separatismo pró-Rússia na Ucrânia. Área industrial russófona no leste ucraniano, Donbass está no centro do que Putin classifica como as 'causas profundas' do conflito e tem sua maior parte atualmente ocupada por tropas russas.
Putin busca dominar o Donbass desde 2014, quando também anexou unilateralmente a Crimeia. A região tornou-se o epicentro dos combates mais sangrentos após a invasão em larga escala, sendo o principal alvo da ofensiva russa neste ano.
Dados do grupo ucraniano DeepState apontam que tropas do Kremlin e aliados separatistas já controlam cerca de 87% do Donbass desde o início do conflito. Atualmente, as forças russas avançam sobre os 6.200 km² restantes sob controle ucraniano.
A imprensa norte-americana indicamque Moscou estaria disposta a abandonar todas as outras áreas ocupadas na Ucrânia em troca da consolidação territorial que exige.
Por que Putin quer Donbass?
Muito antes da invasão, Putin já reivindicava a região como parte de sua crença na unidade histórica dos falantes de russo na antiga União Soviética. Em fevereiro de 2022, três dias antes do início da guerra, ele oficializou essa pretensão ao reconhecer Donetsk e Luhansk como "repúblicas independentes" – o primeiro passo para justificar a anexação.
Localizada no leste ucraniano, Donbass abrange 60 mil km² e sempre foi o coração industrial do país. Para Putin, controlar a região é essencial para sua narrativa de "proteção aos povos russófonos".
A disputa pela região remonta ao século XX, quando ucranianos, comunistas e monarquistas russos lutaram por suas riquezas após a Revolução Bolchevique. Rico em carvão e indústria pesada, como usinas siderúrgicas, químicas e metalúrgicas, o Donbass atraiu trabalhadores russos, mas manteve seus laços com Kiev. Em 1991, a maioria apoiou a independência da Ucrânia, mesmo com a forte presença russófona.
Crimeia
A Crimeia, península de 27 mil quilômetros quadrados no sul da Ucrânia – área equivalente ao território da Bélgica –, voltou ao centro das discussões após ser mencionada por Putin. Banhada pelo Mar Negro e conectada ao território ucraniano por uma estreita faixa de terra ao norte, a região carrega uma importância estratégica que remonta à antiguidade, mas que se tornou especialmente relevante a partir do século XIX.
Foi na Crimeia que se desenrolou a Guerra da Crimeia (1853-1856), quando o Império Russo enfrentou uma coalizão formada por britânicos, franceses e otomanos, conflito que evidenciou pela primeira vez em escala global o valor geopolítico deste território. A península tem como capital a cidade de Simferopol, mas seu coração militar está em Sebastopol, porto que abriga a principal base da Frota Russa do Mar Negro, fator que explica a obsessão de Moscou em manter o controle da região.
A história moderna da Crimeia é marcada por transferências de soberania. Em 1954, o líder soviético Nikita Khrushchev decidiu transferir a administração da península para a República Socialista Soviética da Ucrânia, medida que facilitaria a reconstrução econômica do pós-guerra. Quando a União Soviética entrou em colapso em 1991, os crimeanos votaram em referendo para permanecer como parte da Ucrânia independente.
Antes da anexação russa em 2014 – considerada ilegal pelo direito internacional – a Crimeia era conhecida tanto por seu valor turístico quanto agrícola para a Ucrânia. Com população de cerca de 2 milhões de habitantes antes dos conflitos recentes, a península sempre foi um mosaico étnico: de acordo com o último censo oficial (2001), 58% se declaravam russos e 24% ucranianos.