Governo Cláudio Castro diz que ação nos complexos do Alemão e da Penha - a mais letal na história do estado - visa conter os avanços do Comando Vermelho. Facção reagiu com fechamento de vias.Uma megaoperação das polícias Civil e Militar contra a organização criminosa Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, resultou na morte e na prisão de dezenas de pessoas nesta terça-feira (28/10).
Os traficantes reagiram com ações em várias partes da cidade, ateando fogo a barricadas, atirando contra os policiais, utilizando drones com bombas e bloqueando diversas vias, levando caos às zonas Norte e Oeste do Rio. Vários criminosos foram vistos fugindo pela parte alta do morro do Alemão.
Em razão dos bloqueios, o Centro de Operações e Resiliência (COR) do Rio elevou o estágio operacional da cidade para o nível 2, de uma escala de 5.
280 mil pessoas na área da operação
A operação policial - realizada numa área onde vivem 280 mil pessoas em 26 comunidades - contou com ao menos 2,5 mil membros das forças de segurança que visavam cumprir em torno de 100 mandados de prisão. A Polícia Militar do Rio de Janeiro colocou todo o seu efetivo na rua, suspendendo as atividades administrativas.
Até o meio da tarde, haviam sido contabilizados 64 mortos, segundo o jornal O Globo e o portal de notícias g1. Entre as vítimas estavam ao menos dois policiais civis e dois militares. Os outros mortos seriam traficantes que trocaram tiros com a polícia, informou o governo fluminense. O saldo fez desta operação a mais letal da história do estado.
A polícia afirma ter apreendido 90 fuzis, duas pistolas e nove motocicletas.
Segundo relatos, três pessoas inocentes foram baleadas: um morador de rua, que foi atingido nas costas por uma bala perdida e levado para um hospital; uma mulher que estava em uma academia de ginástica e que já recebeu alta; e um homem que estava em um ferro-velho.
Troca de acusações com o governo federal
A ação policial desta terça seria mais uma etapa da Operação Contenção, uma iniciativa permanente do governo Cláudio Castro para conter os avanços do CV em todo o estado do Rio de Janeiro.
"Lamentamos profundamente as pessoas feridas, mas essa é uma ação necessária, planejada, com inteligência, e que vai continuar", afirmou o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos. "Toda essa logística é do próprio estado. São aproximadamente 9 milhões de metros quadrados de desordem no Rio de Janeiro."
Mais tarde, Castro acusou o governo federal de ter negado ajuda para operações policiais no RJ contra "narcoterroristas" - acusação desmentida pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski - e o Supremo Tribunal Federal de limitar o combate ao crime nas favelas.
"Para isso [ter ajuda do governo federal], o governo do Rio de Janeiro teria que fazer uma declaração formal de que as forças locais não têm condições de fazer face o crime", disse Lewandowski, afirmando que Castro pode pedir intervenção federal ou decretação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem). "Ou ele faz isso, se não conseguir enfrentar, ou vai ser engolido pelo crime."
Lewandowski, contudo, criticou a atuação das forças de segurança fluminenses, afirmando que o acontece no Rio é "uma loucura", "guerra civil e força bruta". "O combate ao crime se faz com inteligência, planejamento e integração."
Entre os 81 presos na megaoperação está Thiago do Nascimento Mendes, conhecido como Belão do Quitungo e apontado pela polícia como um dos chefes do CV da região, além de Nicolas Fernandes Soares, apontado como operador financeiro de Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca ou Urso e que seria um dos principais líderes da facção criminosa.
ONU condena violência no Rio
O escritório do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU se disse horrorizado com a operação policial no Rio e pediu investigações sobre o ocorrido.
"Estamos horrorizados com a operação policial nas favelas do Rio de Janeiro, que já resultou na morte de mais de 60 pessoas, incluindo quatro policiais", disse o órgão em postagem no X.
"Esta operação mortal reforça a tendência de consequências letais extremas das operações policiais em comunidades marginalizadas do Brasil. Lembramos às autoridades suas obrigações perante o direito internacional dos direitos humanos e pedimos investigações rápidas e eficazes", reiterou.
rc/ra (ots)