Quem é Sônia Guajajara, primeira ministra dos Povos Indígenas do Brasil?

Liderança respeitada e admirada por indígenas de todo o país, foi eleita pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo

29 dez 2022 - 13h10
(atualizado às 13h27)
Sônia é uma mulher que se mede pela estatura da sua coragem e pela força da sua voz na defesa dos direitos e da identidade dos povos indígenas
Sônia é uma mulher que se mede pela estatura da sua coragem e pela força da sua voz na defesa dos direitos e da identidade dos povos indígenas
Foto: Reprodução Facebook / Reprodução Facebook

Na Terra Indígena Araribóia vive um povo ancestral, que preserva sua cultura de lendas, tradições e histórias de vida. Esse é o povo indígena Guajajara. Um povo de guerreiros que, mesmo depois de quatro séculos de contato com a sociedade envolvente, luta para manter e transmitir seus valores de geração em geração. 

A Terra Indígena Araribóia é uma grande Mãe. Um território com mais de 400 mil hectares de floresta amazônica localizado no coração do Maranhão. Um local sagrado, onde a natureza persiste em se manter conservada, apesar dos muitos desafios e ameaças ali instalados. É o lar dos Awa Guajá, povo que ainda mantém sua forma originária de existência.  Se há vida nesta terra, é graças ao respeito e ao amor que lhes dedicam seus filhos e filhas mais aguerridos, o Povo Guajajara.

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Do seio desse povo, nascia, há 41 anos, Sônia Bone. Uma entre oito filhos de Agostinho e Darli, Sônia é uma mulher que se mede pela estatura da sua coragem e pela força da sua voz na defesa dos direitos e da identidade dos povos indígenas. Soninha, como seus amigos costumam chamá-la, é daquelas pessoas que se mostram mais fortes diante dos desafios aparentemente intransponíveis. 

Nascida em Campo Formoso, um povoado onde viviam e conviviam índios e não-índios, Soninha teve uma infância típica das pessoas dali: ajudava os pais na roça, vendia farinha de mandioca feita em casa, brincava e estudava. Mas, em Campo Formoso, a escola ia só até a quarta série do ensino primário. Sônia queria estudar mais. Completou o ensino primário em Amarante do Maranhão para, em seguida, buscar terminar o então ginásio, atual ensino fundamental II, em Minas Gerais. Soninha sempre foi assim. Desbravadora, curiosa, dedicada e corajosa. Acreditava que a educação poderia mudar o mundo. 

Na escola, os colegas paravam para ouvir e aprender com ela. Sônia falava com orgulho da sua cultura e da vida do seu povo. E também das dificuldades, ameaças e preconceitos contra os povos indígenas. Aos 17 anos, já com o atual ensino médio concluído, sua tia Maria Santana a chamou e lhe disse: "a partir de hoje, você vai ser uma liderança do nosso povo". 

Desde então, munida do seu novo cocar, assumiu para si a missão de dar voz aos anseios não só do povo Guajajara, mas de todos os povos indígenas. Soninha continuou estudando. Frequentou um curso de medicina natural no interior de São Paulo, estudou para ser auxiliar de enfermagem e conseguiu se formar em letras, área em que fez sua pós-graduação. Foi professora de português e subdiretora na rede pública de ensino. 

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Aos 25 anos, foi mãe de seu primeiro filho, Luiz. Depois vieram Yaponã e Ywara. São eles a grande riqueza de sua vida. Sua primeira experiência como militante do movimento indígena foi durante a Pós-Conferência da Marcha Indígena, quando se discutiu o Estatuto dos Povos Indígenas. Isso aconteceu no ano de 2001. Desde então, Sônia nunca mais parou de atuar na defesa dos direitos indígenas. 

Em 2003, ajudou a organizar o Primeiro Encontro Estadual dos Povos Indígenas do Maranhão, pontapé inicial do movimento indígena estadual. Em 2007, participou do Fórum Permanente da Organização das Nações Unidas para Questões Indígenas. Sônia foi gradualmente demonstrando sua qualificação como liderança indígena em âmbito local, estadual, regional e nacional. Assumiu, por dois mandatos, a Secretaria Executiva da Coapima (Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão). Foi vice-coordenadora da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira). Sônia também foi Coordenadora Executiva da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil). 

Em 2022, a líder indígena Sônia Guajajara e o pesquisador Túlio Oliveira foram os dois brasileiros que entraram para a lista das 100 pessoas mais influentes da revista “Time”. No mesmo ano, Sônia Guajajara (PSOL) foi eleita como deputada federal por São Paulo com mais de 156 mil votos. 

Seria até cansativo listar aqui toda a história de ativismo de Sônia Bone. Mas é fundamental lembrar que sua voz já palestrou em diversos fóruns de relevância nacional e internacional, a exemplo do seu discurso na Assembleia das Nações Unidas em Nova York em 2008. No final de 2015, ela também mostrou sua relevância na organização da Primeira Conferência Nacional de Política Indigenista. Ali, suas palavras alcançaram diretamente lideranças indígenas do país inteiro, ministros de estado e a própria Presidenta da República. 

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Em todas as suas falas e gestos, Sônia nos relembra que os povos indígenas e seus territórios vivem em constante situação de risco. Mas, se eles resistem, é porque sabem que a natureza está intimamente ligada à vida humana e que uma não pode viver sem a outra. É isso que Sônia aprendeu com seu povo. E é isso que ela também nos ensina e nos estimula a exercitar. 

Sônia foi agraciada com a insígnia da Ordem do Mérito Cultural, a maior condecoração na área de cultura no Brasil. Sônia, quero te dizer que a tua humildade é tua grandeza; tua coragem é tua fortaleza. A tua luta é a nossa luta. Temos muito orgulho em tê-la como liderança na defesa dos povos indígenas. Obrigada por fazer da sua voz a voz de todos nós. 

Viva a primeira ministra dos povos indígenas. viva a força ancestral na reconstrução do nosso país.

Sônia Guajajara é a nova ministra do governo Lula para a pasta dos Povos Indígenas
Foto: Reprodução Facebook / Reprodução Facebook
Fonte: Redação Nós
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