Bianca Monteiro, rainha de bateria da Portela, comenta machismo no samba

'Muita gente diz que não se envolveria com uma mulher de samba. Não é fácil para uma mulher negra', disse a passista

21 fev 2025 - 16h13
(atualizado às 19h27)
Bianca Monteiro é rainha de bateria da Portela
Bianca Monteiro é rainha de bateria da Portela
Foto: Reprodução/Instagram @biancamonteirooficial

Bianca Monteiro cresceu entre os batuques e o gingado das passistas da Portela. Desde criança, quando acompanhava o pai nos ensaios da escola de samba, ela já sentia o chamado da Avenida. Hoje, aos 36 anos, ostenta com orgulho a coroa de rainha de bateria da azul e branca de Madureira. Mas, para além do brilho e do reconhecimento, Bianca também carrega consigo a missão de questionar as desigualdades que persistem no carnaval --principalmente o machismo.

“Quando a gente para pra pensar, vê que a maioria dos segmentos dentro da escola de samba tem os homens em destaque”, aponta em entrevista à Marie Claire. Estar à frente da bateria, para ela, é um ato de resistência e protagonismo feminino. “Não consigo encontrar uma palavra que defina o que é estar à frente da bateria. Ser a mulher que representa essa comunidade e a força feminina da escola. Acho que não existe algo tão grandioso.”

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A realidade das rainhas de bateria, no entanto, vai muito além do glamour dos desfiles. Para Bianca, há uma cobrança excessiva sobre a aparência das mulheres no carnaval, muitas vezes desconsiderando sua trajetória e dedicação à cultura do samba. “Vivemos uma época difícil para a mulher por conta da cobrança pelo corpo perfeito. A gente peca ao tentar alcançar um padrão estético. Cada uma de nós tem seu biotipo e beleza particular. Eu trabalho em cima daquilo que posso oferecer. Não me coloco nessas loucuras, estar bem comigo mesma é minha maior preocupação”, afirma.

Rainha de bateria da Portela - Bianca Monteiro
Foto: Reprodução: instagram

Mulher negra no posto de rainha de bateria, Bianca sente na pele os desafios de se manter em um cargo que ainda carrega estigmas. “Muita gente diz que não se envolveria com uma mulher de samba. Não é fácil para uma mulher negra se manter neste cargo, enfrentamos muito racismo. Ainda há muita coisa para desconstruir.”

Entre as críticas e os desafios, Bianca segue firme. Para ela, o samba é mais do que uma dança --é uma forma de contar histórias, ocupar espaços e resistir. “O corpo tem vida, e fala através do samba. Vamos continuar fazendo barulho para que a gente possa viver numa sociedade em que mulheres são respeitadas e têm seu espaço --seja ele igual ou superior ao de um homem.”

Fonte: Redação Terra
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