Os bastidores do vôlei nacional estão movimentados com a possibilidade de uma transformação histórica em sua estrutura de negócios.
A Globo Ventures e a Livemode, empresa responsável pela gestão da Cazé TV, formalizaram o interesse em se tornarem sócias da futura liga de clubes de vôlei. A informação foi confirmada pelo jornalista Rodrigo Capelo, do Estadão.
O objetivo das companhias é adquirir uma participação percentual sobre os direitos comerciais da competição a longo prazo.
A confirmação das tratativas veio de Henrique Netto, diretor de marketing, comercial e novos negócios da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV). Em entrevista ao videocast Sport Insider, o executivo revelou que esteve em São Paulo para dialogar com potenciais parceiros e que o prazo para manifestação de interesse no aporte financeiro, em um processo conduzido pela própria confederação, se encerrou no dia 7 de novembro.
Além das duas potências de mídia, o mercado financeiro também está de olho na modalidade. A XP Investimentos apresentou-se como possível intermediária da operação, oferecendo-se para captar cerca de R$ 70 milhões no mercado. O modelo de negócio proposto pela XP assemelha-se ao realizado no futebol brasileiro com a Liga Forte União (LFU), onde a empresa atuou na assessoria entre clubes e investidores.
Apesar do apetite do mercado, a concretização da venda dos direitos comerciais não é iminente. Netto adota cautela e enfatiza que o vôlei brasileiro precisa cumprir etapas fundamentais de estruturação antes de receber o aporte. Segundo o diretor, as 24 equipes da Superliga (masculina e feminina) necessitam resolver gargalos de gestão, compliance, infraestrutura e transparência financeira.
O cenário atual descrito pelo executivo expõe fragilidades: não há publicação de balanços contábeis que permitam dimensionar o tamanho real do negócio, nem mecanismos de fair play financeiro para garantir o equilíbrio competitivo. Problemas básicos de infraestrutura, como ginásios sem conexão de internet adequada, também foram citados como entraves.
Além das pendências dos clubes, a própria modelagem jurídica da nova liga precisa definir se operará como uma Sociedade Anônima (SAF) ou uma Sociedade de Propósito Específico (SPE).
"A gente precisa da união com os clubes e do entendimento do que se trata. Nós estamos mudando de uma competição com viés mais técnico para um negócio com fins lucrativos, em que a CBV vai ser sócia junto com eles, e os investidores vão colocar recursos para ter retorno sobre o investimento", explicou Netto.
Mesmo diante da complexidade das exigências, a expectativa da diretoria é de que a estruturação do negócio e o acordo com um investidor sejam concluídos a tempo da temporada de novembro de 2026.
A movimentação no Brasil reflete uma tendência internacional de injeção de capital privado no vôlei. Em 2021, a Federação Internacional de Voleibol (FIVB) criou a Volleyball World, braço responsável pela exploração comercial dos principais torneios globais, como a Liga das Nações e os Campeonatos Mundiais.
Na ocasião, a entidade vendeu 33% de participação para a CVC Capital Partners por aproximadamente US$ 300 milhões (valor estimado pela imprensa internacional). O modelo prevê que o fundo investidor recupere o capital e obtenha lucro proporcionalmente ao crescimento das receitas e resultados das competições.