Um ano após renúncia de Nuzman, COB corre atrás de novos parceiros

Atual presidente da entidade, Paulo Wanderley destaca economia e agora parte em busca de novos patrocinadores

11 out 2018 - 05h11

Ao mesmo tempo em que coordena um time de 79 atletas nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Buenos Aires, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) continua sua reestruturação após o baque sofrido há um ano, quando o ex-presidente Carlos Arthur Nuzman renunciou ao cargo por meio de uma carta assinada da prisão. Desde então, o COB teve de enfrentar suspensão imposta pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), reformar seu estatuto, demitir funcionários e renegociar contratos - tudo isso em meio ao ciclo para os Jogos de Tóquio.

Logo que assumiu o posto de Nuzman, Paulo Wanderley Teixeira, que completa um ano no cargo nesta quinta-feira, se deparou com uma estrutura inchada. Havia 263 funcionários, alguns com salários elevados. A esse custo somava-se contratos de longa data com fornecedores e de aluguel da sede, na Barra da Tijuca. O cenário piorou após os Jogos do Rio e pelas condições políticas e financeiras do Brasil. Houve fuga de patrocinadores e uma suspensão por parte do COI que interrompeu repasses em dinheiro da instituição.

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"O COB gastava muito dinheiro", diz Paulo Wanderley, sem revelar quanto. Era vice de Nuzman. Diz que a redução já é de 30%. Ele chegou à presidência após o então chefe se ver envolvido em denúncias de suposto esquema de compra de votos para o Rio ser sede da Olimpíada de 2016. Nuzman nega qualquer ato ilícito. Ele chegou a ser preso e hoje aguarda o desenrolar do processo em liberdade.

As mudanças andaram de forma acelerada, muito em função da urgência em levantar a suspensão junto ao COI, o que ocorreu no início do ano. O estatuto foi reformulado em 42 dias para sinalizar que práticas obsoletas - como a ausência de conselhos de gestão ou da participação de atletas nas decisões do comitê - ficariam no passado. O quadro de funcionários caiu de 263 para 208 - redução de 55.

"Existiam sobreposições de pessoas, de cargos e de funções", disse Paulo Wanderley ao Estado. Ele garante, contudo, que o corte não se deu exclusivamente por uma questão financeira, mas de afinidade. "Em alguns cargos você tem de ter a competência aliada ao seu pensamento. Não no sentido de baixar a cabeça para tudo, mas de compreender como você está administrando o Comitê."

Ele admite que "todos os contratos" foram revistos, com redução de valores que variaram de 15% a 50%. Um desejo expressado nos primeiros dias, porém, será adiado em pelo menos mais dois anos: a mudança da sede para o Parque Aquático Maria Lenk, a poucos quilômetros do endereço atual e onde parte do Time Brasil faz treinamentos de olho na Olimpíada.

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"A questão da mudança foi uma ideia voltada à questão da utilização, controle, melhor investimento, e de levar o administrativo para o campo onde estão os atletas e as equipes. Isso vai ser executado. Só que na hora de fazer na prática, vimos que não dava no prazo que tínhamos estabelecido", argumenta.

Ano passado, o cartola havia dito que a transferência se daria ainda neste semestre. Agora, diz que isso só será possível após os Jogos de Tóquio, no segundo semestre de 2020. "A obra tem de ser mais devagar para não conflitar num dia de treino. O próprio parque é um equipamento de dez anos. Uma casa minha, sua, de dez anos, tem problemas, questões energéticas, de comunicação, que não suporta a carga que vai ser necessária", compara. "Não é como imaginei, de pegar um caminhão e levar tudo para lá."

A mudança era por uma economia de cerca de R$ 4,5 milhões ao ano. "Nosso contrato de aluguel foi reduzido em 20%. Só isso representa economia de R$ 2,2 milhões por ano", diz.

O primeiro ano foi de redução de gastos. O desafio agora é conquistar novos parceiros. "Reconhecemos que tivemos problemas, por causa das variáveis, mas o mercado começa a se abrir e estão nos recebendo bem", diz, apontando ainda que a Copa do Mundo da Rússia mudou o foco dos patrocinadores.

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Paulo Wanderley enaltece os recursos da Lei Agnelo-Piva. Segundo ele, são suficientes para montar uma equipe competitiva para os Jogos Pan-Americanos de 2019, no Peru. Para a Olimpíada, o dirigente ressalta a necessidade de conseguir novos parceiros. A divisão das cotas para as confederações terá critérios. "Aquelas que apresentam melhor desempenho são reconhecidas e, na divisão do bolo, são mais bem contempladas." O desempenho diz respeito aos resultados de campo, mas também de governança.

Esportes olímpicos se valem de 2,7% das loterias no País

Os esportes olímpicos no Brasil se valem dos investimentos determinados pela lei número 10.264, de 16 de julho de 2001, conhecida como Lei Agnelo-Piva. Desde sua criação até 2015, a lei determinava que 2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais no País fossem destinados ao COB e ao CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) na seguinte proporção: 85% para o COB contra 15% para o CPB.

Porém, em 2015, portanto, um ano antes dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, foi sancionada pela Presidência da República a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, que ampliou de 2% para 2,7% o valor repassado ao COB e também ao CPB, e mudou ainda de 15% para 37,04% a fatia destinada ao Comitê Paralímpico Brasileiro.

Entre os anos de 2007 e 2014, o total de repasses ao Comitê Paralímpico foi de R$ 210 milhões, sem nova atualização.

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