Prender um só manipulador do futebol já ajudaria, diz especialista

5 fev 2013 - 10h25
(atualizado às 15h28)

As autoridades costumam dizer que o combate à manipulação de resultados no futebol será um processo longo e complexo, mas um especialista no assunto diz que a detenção de uma só pessoa já teria consequências relevantes.

Jornalista canadense Declan Hill posa com seu livro O acerto: futebol e o crime organizado durante coletiva de imprensa em Berlim, em setembro de 2008. O jornalista, que investiga a manipulação de resultados no futebol, disse que as autoridades deveriam prender Dan Tan, apontado por ele como um grande manipulador de apostas no futebol em Cingapura. 01/09/2008
Jornalista canadense Declan Hill posa com seu livro O acerto: futebol e o crime organizado durante coletiva de imprensa em Berlim, em setembro de 2008. O jornalista, que investiga a manipulação de resultados no futebol, disse que as autoridades deveriam prender Dan Tan, apontado por ele como um grande manipulador de apostas no futebol em Cingapura. 01/09/2008
Foto: Johannes Eisele / Reuters

O jornalista Declan Hill, que investiga essa questão, disse que as autoridades deveriam prender Dan Tan, apontado por ele como um grande manipulador de apostas no futebol em Cingapura.

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"Há um esforço de dizer que enfrentar a manipulação de resultados é uma atividade complicada e sofisticada, que envolve enfrentar figuras sombrias e misteriosas", disse à Reuters o autor do livro "The Fix: Soccer and Organised Crime" (O acerto: futebol e o crime organizado).

"Conhecemos o manipulador. Tem um sujeito que ajudou a manipular partidas em mais de 50 países do mundo. São a polícia finlandesa, a polícia húngara, a polícia alemã e a polícia italiana quem estão dizendo isso. São mais de 800 páginas de um relatório do promotor público de Cremona (Itália), que não só cita o homem e dá sua data de nascimento, como também (divulga) seus registros telefônicos, fala onde ele estava, fala tudo."

Em nota, a polícia de Cingapura disse que as autoridades do pequeno país asiático estão "auxiliando as autoridades italianas por intermédio da Interpol nas suas investigações sobre uma quadrilha internacional de manipulação de partidas que supostamente envolve um cingapuriano, Dan Tan Seet Eng... Até agora, Dan Tan Seet Eng não foi detido nem indiciado por nenhum crime em Cingapura."

A nota acrescenta que "Cingapura adota uma posição firme contra a manipulação de partidas e está comprometida em trabalhar com as agências fiscalizadoras internacionais para coibir as quadrilhas transnacionais, incluindo aquelas que envolvem atos de cingapurianos no exterior, e proteger a integridade do esporte".

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Dan Tan não foi localizado para comentar.

A Uefa, entidade que dirige o futebol europeu, diz que, de 32 mil partidas monitoradas por ano, apenas 0,7 por cento têm sinais de manipulação, quase todas em divisões inferiores.

Mas Hill argumenta que os sistemas usados pela Uefa e pela Fifa para monitorar atividades suspeitas nos mercados de apostas geralmente não conseguem detectar fraudes realizadas por quadrilhas asiáticas na Europa.

"Os sistemas de alerta precoce se baseiam na premissa de que os manipuladores são estúpidos. Não são. Os manipuladores gastam praticamente o mesmo tempo descobrindo como manipular os mercados de apostas --para que ninguém perceba o que estão fazendo-- quanto para manipular as partidas propriamente ditas", afirmou o jornalista. "Quanto maior o jogo, mais fácil é manipular o mercado de apostas."

Segundo ele, "90 a 95 por cento do dinheiro deixado em uma manipulação por um manipulador profissional é no mercado asiático, e com uma série de agentes que são basicamente agenciadores locais e regionais que se reportam a um par de companhias realmente grandes. E elas não estão fornecendo informações ao sistema de alerta."

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Hill disse ainda que o problema se agrava nos meses de junho, julho e agosto, quando os grandes torneios nacionais europeus param, e a fase classificatória da Liga dos Campeões passa a atrair a atenção dos fraudadores.

O especialista disse ainda que grandes torneios são igualmente suscetíveis a fraudes. "(A Fifa e a Uefa) não sabem, com base no seu sistema de alerta precoce, se há manipulação na Copa do Mundo ou na Liga dos Campeões, porque há liquidez demais -- dinheiro demais sendo colocado em um jogo", afirmou.

"A única coisa que eles têm é um sistema que não recolhe informações adequadamente para os grandes jogos e que não recebe informação nenhuma se os manipuladores forem inteligentes. Então sugerir que há menos de 1 por cento de partidas europeias em toda a Uefa sendo manipuladas é uma total fantasia."

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