Kahena destaca tática que levou ao ouro: "a gente esperou nosso feeling"

18 ago 2016 - 20h14

Uma reviravolta na reta final da regata da medalha da classe 49er FX deu nesta quinta-feira a Martine Grael e Kahena Kunze a primeira medalha de ouro olímpica da vela feminina brasileira, mas nada que tenha sido provocado por fatores climáticos ou por problemas em outros barcos, e sim graças à perspicácia da dupla, que pensou de forma rápida e efetiva para mudar a rota que percorria e deixar três concorrentes para trás, garantindo a vitória e o lugar mais alto do pódio.

Já com o sonhado ouro dos Jogos do Rio de Janeiro pendurado no pescoço, Kahena destacou a importância da mudança de tática em cima da hora, que levou o barco das brasileiras para o lado esquerdo da raia, onde uma rajada o impulsionou para a liderança, que não foi mais perdida a partir da montagem da última boia que marca o percurso.

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"Foi o pontapé inicial para a gente ganhar essa medalha. Porque eu acho que se a gente tivesse montado a boia que as duas outras (duplas mais próximas, de Nova Zelândia e Itália) montaram, teria sido muito mais difícil, porque elas iriam marcar a gente. Então, tomando essa decisão, acho que a gente estaria com a prata garantida, porque as dinamarquesas montaram nossa boia, e as espanholas estavam um pouco mais atrás. Então achei que foi excelente pra gente tentar aproximar mais e montar em primeiro, e deu supercerto", afirmou.

De acordo com a velejadora, a estratégia não foi um plano B que ela e Martine tinham na manga para situações como a do fim da regata, e sim algo para o qual pesaram a comunicação dentro do barco e os profundos conhecimentos de ambas.

"Antes da regata a gente sempre tenta conversar sobre como está a raia, mas nunca fala 'vamos fazer isso', porque o vento muda constantemente. Então a gente tem que ficar com a cabeça fora, eu tentando fazer o barco andar mais rápido, e a Martine sempre olhando para fora. E tem que ter uma comunicação muito boa para falar como está o vento, e a gente conseguiu administrar isso muito bem. A gente, óbvio, teve que ter um pouco de 'vamos abandonar as duas (duplas neozelandesa e italiana) para tentar fazer o nosso aqui', e no final foi superbom, porque a gente esperou nosso feeling de falar 'a hora é agora'. Só com muitos anos de prática você sente que a hora é agora", explicou.

E essa sintonia entre as brasileiras, amigas de muitos anos, mas que competem juntas na 49er FX há quatro, foi especialmente elogiada por Kahena.

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"Ao longo dessas quatro anos, a gente aprendeu a ouvir uma a outra. Aprendeu a não levar nada para fora da água. Tudo o que aconteceu na água a gente discutiu depois. Foi essencial passar por esses quatro anos para chegar hoje sem nenhum obstáculo de comunicação", frisou.

Kahena é a proeira do barco, responsável por administrar as velas, enquanto Martine é a timoneira, que cuida da direção. A confiança mútua, segundo a velejadora nascida em São Paulo e filha de Claudio Kunze, campeão mundial júnior da classe Pinguim em 1973, foi outro fator que pesou para o sucesso da manobra e a inédita conquista.

"Independente do resultado, eu não teria feito nada diferente. A Martine é uma excelente velejadora, toma decisões na hora certa, e eu só estou ali para ajudar, e ajudar nas horas das decisões de querer ficar ou não. Então a gente forma uma bela dupla", exaltou.

Porém, questionada na zona de entrevistas montada perto da Marina da Glória se continuará a competir com Martine em outro ciclo olímpico, Kahena, em tom bem-humorado, não quis confirmar. E citou uma prioridade.

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"Isso é outra pergunta. Deixa eu dormir, né?", disse, aos risos.

O bom humor só deixou o semblante de Kahena quando ela lembrou que um dos legados prometidos pelas autoridades para garantir a realização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro era a limpeza da Baía de Guanabara, uma promessa não cumprida.

"Queria ter deixado um legado para limpar essa baía, o que não foi feito. Espero, na nossa próxima campanha, se a gente velejar, ter uma baía decente, sem ter problema com lixo", afirmou.

  
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