Dia das Crianças mais caro: 70% do preço dos brinquedos é imposto

Fabricantes nacionais enfrentam impostos que tornam difícil competir com produtos importados

9 out 2025 - 06h19
Resumo
Os brinquedos no Brasil têm até 70% de seus preços compostos por impostos, sufocando a indústria nacional, que enfrenta alta carga tributária, burocracia e dificuldades para competir com produtos importados.
Foto: Gemini

Fabricar brinquedos no Brasil custa caro, e o principal motivo é o peso dos impostos. Até 45% do preço final de muitos brinquedos vendidos no país é composto por impostos. Em produtos importados ou eletrônicos, como videogames, o percentual pode chegar a 72%. Essa realidade reflete o peso da carga tributária sobre as empresas do setor, que enfrentam custos elevados desde a compra de insumos até a venda ao consumidor, com incidência simultânea de ICMS, IPI, PIS, Cofins e Imposto de Importação, e o consumidor é onerado no preço final. 

O resultado é uma indústria nacional que opera com margens cada vez menores e dificuldade para competir em um mercado globalizado. Muitas fabricantes brasileiras reduziram turnos, terceirizaram etapas da produção ou encerraram atividades nos últimos anos, incapazes de sustentar o custo fiscal e trabalhista dentro das regras locais. 

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A advogada tributarista Mary Elbe Queiroz explica que o problema não está apenas na alíquota, mas na estrutura do sistema. “A indústria de brinquedos é sufocada por uma soma de tributos cumulativos e complexos. O empresário paga imposto para produzir, para vender e até para tentar crescer. Lembrando que além dos tributos sobre o produto existem outros tributos como IRPJ, CSLL, IOF e encargos trabalhistas pesados que são pagos pela empresa. É um modelo que desestimula o investimento e corrói a competitividade”, afirma. 

O peso da burocracia também agrava a situação. Cada estado define suas próprias regras e alíquotas de ICMS, o que obriga as empresas a manter equipes especializadas apenas para cumprir obrigações fiscais de 27 estados e 5.600 municípios. Esse custo adicional drena recursos que poderiam ser direcionados para inovação, tecnologia, estimular o crescimento da empresa e geração de empregos. 

“O empresário que atua dentro da lei é quem mais sofre. Entre pagar tudo o que o Fisco cobra e manter o negócio viável, a margem desaparece rapidamente”, reforça Mary Elbe Queiroz. 

Mesmo nas datas de maior movimento, como o Dia das Crianças e o Natal, o setor tem dificuldade em recuperar fôlego. O avanço de produtos importados, muitas vezes beneficiados por regimes fiscais mais simples, tarifas reduzidas e, às vezes, importação ilegal, cria um desequilíbrio que compromete toda a cadeia produtiva. Problemas esses que talvez não sejam corrigidos e sim agravados com a Reforma Tributária. 

O resultado é uma indústria nacional que perde relevância, empregos e capacidade de competir, enquanto o consumidor paga caro e o governo arrecada mais do que devolve em estímulo econômico. A tributação excessiva transformou o mercado de brinquedos em um retrato das distorções do sistema brasileiro: o país cobra como se fosse desenvolvido, mas entrega condições de investimento de uma economia em crise. E, no meio dessa equação, quem fabrica sonhos para as crianças precisa fazer malabarismo para não desaparecer.

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(*) Homework inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.

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