Pesquisa revela que 77% dos trabalhadores remotos considerariam deixar o emprego caso haja redução no modelo, enquanto 83% esperam alguma forma de teletrabalho, evidenciando desafios para retenção de talentos e alta demanda por flexibilidade.
Uma nova pesquisa do Insper, por meio de seu Centro de Estudos em Negócios, com apoio da Robert Half, apresenta um raio-X do modelo remoto no Brasil. O estudo mostra que reduções na disponibilidade de teletrabalho prejudicam a retenção de talentos em empresas. Dos colaboradores que hoje trabalham todos os dias remotamente, 77% indicam que sairiam da atual companhia caso haja uma redução, mesmo que parcial, na disponibilidade deste arranjo de trabalho. Entre aqueles que atualmente trabalham remotamente apenas um dia por semana, o cenário de perda também levaria a um aumento da intenção de saída da organização.
A pesquisa também destaca que a alta expectativa dos profissionais em manter a flexibilidade no trabalho é um desafio para as empresas. Entre os que hoje trabalham em regime híbrido, 96% desejam manter esse modelo; e 53% daqueles que trabalham integralmente no presencial anseiam atuar remotamente por, pelo menos, um dia da semana.
“A pandemia da Covid-19 trouxe uma transformação profunda nas formas de trabalhar, reconfigurando rotinas, hábitos e formas de interação. Agora, com mudanças importantes na escala e escopo do trabalho remoto, há novas dinâmicas e expectativas em jogo”, afirma Tatiana Iwai, professora responsável pela pesquisa e coordenadora do Centro de Estudos em Negócios do Insper. “Esse estudo busca oferecer um retrato de como as decisões sobre a disponibilidade do remoto podem afetar a capacidade das organizações de atrair e reter talentos.”
Embora haja uma percepção crescente de que o teletrabalho esteja em risco, a disponibilidade e a intensidade do modelo permanecem constantes desde 2023, ainda que com variações entre setores. De acordo com o estudo, o arranjo híbrido se estabilizou com a atuação remota em 2,32 dias por semana e 71% dos profissionais trabalhando fora dos escritórios em pelo menos um dia semanalmente.
O estudo identificou variações significativas na intensidade do trabalho remoto entre os setores:
TI: mantém a liderança em flexibilidade, com média de 3,67 dias por semana.
Serviços: estabilizado em níveis consistentes, com média de 2,55 dias por semana.
Setor Financeiro: após um retorno mais acentuado ao presencial, está próximo à média nacional, com 2,32 dias por semana.
Indústria: apresenta o retorno mais acentuado ao presencial, com média de 1,53 dias por semana, mas ainda acima dos níveis pré-pandemia.
Outro ponto de destaque são as peculiaridades por nível hierárquico. Os dados indicam que colaboradores individuais e líderes de equipe trabalham remotamente cerca de um dia a mais por semana do que os níveis hierárquicos mais altos.
“Esta pesquisa sinaliza que é importante reconhecer que o trabalho remoto não diz respeito apenas ao local físico de trabalho, mas ele viabiliza o acesso a recursos essenciais. A flexibilidade e a autonomia proporcionadas por esse arranjo atuam como recursos estruturantes, servindo de alicerce para um conjunto mais amplo de benefícios, como um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional", comenta Gustavo Tavares, professor do Insper também responsável pela pesquisa.
"A copresença física não garante, por si só, que os processos funcionem. O trabalho presencial precisa entregar, de forma clara, aquilo que o remoto é menos adaptado a oferecer: interações interpessoais de alta qualidade, momentos de coaprendizagem e mentoria, bem como a construção ativa de normas e valores compartilhados de cultura", afirma Leonardo Berto, gerente regional da Robert Half.
(*) Homework inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.