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Os produtores de soja transgênica no Sul do País

Adriano Floriani

 Agência Brasil
Produtores enumeram vantagens e querem liberação de variedades transgênicas
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A soja transgênica tomou conta das lavouras gaúchas. Conforme o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, cerca de 98% dos plantios transgênicos no Brasil estão no Rio Grande do Sul. O Estado espera colher mais de 10 milhões de toneladas nesta safra. A Federação da Agricultura do Estado (Farsul) estima que 90% dos 3,8 milhões de hectares plantados com soja estejam plantados com variedades geneticamente modificadas, resistentes ao herbicida glifosato.

Os produtores, concentrados na região norte do Estado, apontam a redução dos custos na lavoura como a principal vantagem da soja transgênica. Outros, embora haja controvérsias sobre o assunto, chegam a afirmar que a produtividade cresceu com o grão geneticamente modificado. Alguns admitem ter comprado sementes contrabandeadas da Argentina. Outros dizem ter conseguido com vizinhos. Mas a grande maioria dos agricultores assumiu os riscos de manter lavouras clandestinas de olho nas vantagens oferecidas pela tecnologia.

Uma nova polêmica está em gestação: a cobrança de royalties pela tecnologia Roundup Ready. Os produtores rurais admitem pagar os royalties na compra das sementes, mas não na comercialização da safra, como exige a Monsanto, detentora da tecnologia. A exemplo do imbróglio jurídico em que os transgênicos se transformaram no Brasil, a questão pode ir parar nos tribunais.

"Produtor não volta a plantar soja convencional"

"Há três anos não planto nenhum grão de soja convencional", admite o produtor rural gaúcho Carlos Alberto Fauth. O produtor foi um dos 72 mil agricultores gaúchos que assinaram o termo de ajustamento de conduta, exigido por lei para comercializar a safra transgênica.

Presidente do Sindicato Rural de Passo Fundo (RS), Fauth diz cultivar soja transgência numa área de 220 hectares. Aponta como vantagens da variedade geneticamente modificada a redução do uso de herbicida, melhor controle do inço (como são chamadas as ervas daninhas no Rio Grande do Sul) e a redução dos custos em US$ 70 por hectare.

Segundo Fauth, as ervas daninhas estavam resistentes aos herbicidas convencionais, mas com o plantio da soja transgênica e a aplicação do glifosato, o inço é eliminado. Como resultado da facilidade no manejo da cultura, o produtor diz conseguir de 15% a 20% mais de produtividade com a soja transgênica.

As primeiras sementes transgênicas, conforme o produtor, foram obtidas em trocas com vizinhos. Ele admite que os produtores sabem do risco da importação de pragas com as sementes argentinas contrabandeadas, muitas vezes sem laudo fitossanitário. Fauth afirma, no entanto, que hoje se sabe a procedência das sementes. "Tem entrado variedades com identificação. Todas as variedades de ponta da Argentina estão aqui", garante.

O produtor diz ter conhecimento de que há mais de 20 empresas na Argentina que produzem sementes transgênicas. Para ele, é preciso que o governo brasileiro libere, de forma urgente, as variedades nacionais de empresas como a Embrapa. "Não acredito que o governo Lula vai prejudicar o setor agrícola, o setor econômico que mais dá respostas ao País.". Fauth atribui a polêmica dos transgênicos no Brasil "a grupos radicais que querem impedir o desenvolvimento". "O produtor não vai voltar a plantar soja convencional. É um avanço que não tem retorno, e o produtor não vai recuar".

"Fui um dos pioneiros"

O produtor Carlos Alberto Angheben, presidente da Comissão de Assuntos Indígenas da Farsul, admite plantar soja transgênica há sete anos em Espumoso (RS), no norte do Estado. "Fui um dos pioneiros", afirma. As primeiras sementes, segundo ele, foram compradas "de um caminhoneiro". Angheben afirma que conseguiu reduzir os custos em 40% e aumentar a produtividade em até 25% com o grão geneticamente modificado. Hoje, cultiva apenas variedades transgênicas em 150 hectares.

"Não existe impureza, levo a soja limpa para a cooperativa. Antes havia desconto de 5% a 8% e agora dá 0,5% de desconto (na venda). Antes, o herbicida não matava todas as ervas daninhas, que se tornaram resistentes. Tenho menor desgate das colheitadeiras. Antes a máquina tinha que ir para revisão a cada três anos. Agora é a cada cinco anos. Somando tudo, a soja transgênica dá quase 100% a mais de lucro", afirma Angheben. Vice-presidente do Sindicato Rural de Espumoso, o produtor estima que 100% dos agricultores da região cultivam soja transgênica.

"Crime de contrabando já prescreveu"

Angheben não sabe dizer se planta variedades da Monsanto, pois a soja contrabandeada vinha sem certificado, provavelmente produzida por agricultores argentinos. "Há temor de que venham pragas, mas como reduz custos, o agricultor acaba não olhando muito pra isso", admite. "Já plantei 13 variedades transgênicas, mas apenas cinco se adaptaram.".

Hoje, Angheben diz produzir as próprias sementes de soja transgênica. Ele admite que nos primeiros anos de experiência chegou a vender sementes resistentes ao glifosato para vizinhos. Nos últimos anos, no entanto, afirma não ter repetido a prática. "As sementes não são mais contrabandeadas. São dos produtores gaúchos. Crime de contrabando, inclusive, já prescreveu", diz Angheben.

"País pode ter decréscimo na produção"

Com 830 hectares de soja transgênica nos municípios de Cruz Alta e Jóia, no norte gaúcho, o produtor rural Décio Teixeira se diz satisfeito com as vantagens da tecnologia. Além de menor custo de produção, Teixeira afirma que a soja transgênica garante mais segurança no controle de ervas daninhas e aumenta a produtividade. "Enquanto a soja convencional atingia 38 sacas por hectare, nos melhores anos, a transgênica chega a 55 sacas por hectare", afirma.

Teixeira admite plantar soja com gene de resistência a herbicida "há quatro safras". O produtor diz ter esperança que o governo federal libere as variedades transgênicas no Brasil. "Com a assinatura do termo de conduta, o agricultor fica impossibilitado de continuar plantando transgênicos. O País corre o risco de ter um decréscimo na produção de soja", diz Teixeira.

O zootecnista e produtor rural Antônio Losso cultiva 300 hectares de soja transgênica no município de Braga (RS), na região noroeste, próxima à fronteira com a Argentina. Ele acredita que vários fatores contribuem para os agricultores gaúchos terem optado pelo grão geneticamente modificado, principalmente o menor custo em todas as etapas da produção, desde a lavoura até o transporte.

Losso diz que chega a pagar 10% menos de frete, já que colhe o grão com menos impurezas. Outra vantagem, seria o menor desgaste das máquinas na lavoura. Com menos ervas daninhas no campo, as colheitadeiras consomem menos óleo e exigem menos manutenção. Para o produtor, a cobrança de royalties não vai impedir que os agricultores produzam a própria semente. "Não tem por que deixar de ser produtor de semente", afirma.

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