A conjunção da crise energética e da recessão mundial está provocando um curto-circuito na unidade pernambucana da líder nacional do segmento de eletroeletrônicos, a holandesa Philips. O presidente da empresa no Brasil, Marcos Magalhães, não adianta números, mas afirma que as vendas de produtos fabricados na unidade sofreram forte retração em maio e junho, no mercado interno. Não bastasse isso, as exportações tendem a cair, por causa da recessão internacional. Clientes dos Estados Unidos, Argentina e Alemanha já estão solicitando revisão, para baixo, dos contratos de fornecimento. Devido a este cenário, a multinacional estuda a redução de quadros. Na fábrica localizada no distrito industrial do Curado (Recife), trabalham 1,2 mil funcionários, 13% dos nove mil empregados das sete unidades da Philips do Brasil, distribuídas em quatro Estados - Amazonas, São Paulo, Pernambuco e Minas Gerais. Marcos Magalhães - que participou ontem, no Recife, de um seminário sobre Cidadania Empresarial - não revelou números sobre o corte que está sendo avaliado nestas plantas. Mas frisou que "se não conseguirmos compensar a queda de vendas no mercado nacional com as exportações, teremos de demitir pessoal".
O pior é que essa compensação parece cada dia mais distante. No caso da unidade pernambucana - onde são produzidos canhões para tubos de raios catódicos de televisores e lâmpadas automotivas - o mercado interno responde por 60% do faturamento e o externo por 40%. Em ambos os mercados, o quadro é desanimador.
No que se referente às vendas no País, os insumos para a indústria automobilística não vêm sendo afetados pela crise interna já que o setor de veículos é um dos poucos que até o momento não foi arranhado pelos efeitos da crise da energia - mas o mesmo não se pode dizer dos equipamentos para TV, pois o racionamento tem impactado fortemente o consumo de eletroeletrônicos.
Mesmo assim, o executivo considera impossível traçar um prognóstico para o mercado interno este ano. "Para isso, seria preciso saber o que se passa na cabeça dos consumidores. O que nós acreditamos é que a crise energética terá três momentos em termos de reação do consumidor: o primeiro é o de pânico; o segundo, de preocupação com relação à conta de eletricidade e, por último, acomodação e convivência com a crise".