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Antônio Ermírio aponta os culpados pelo racionamento

Segunda, 18 de junho de 2001, 11h55

Antônio Ermírio de Moraes não é só o comandante de um dos maiores conglomerados industriais de capital nacional do país – o grupo Votorantim. Profundo especialista da área energética, há anos o empresário bate na mesma tecla: a importância de se assegurar energia para garantir o desenvolvimento do país. Agora, em pleno racionamento que atinge as regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, e a partir de 1º de julho, o Norte, o homem considerado como o ideal por Ciro Gomes para ocupar o Ministério da Fazenda garante que a crise é um reflexo mais do que anunciado da falta dos investimentos necessários ao setor nesses últimos anos.

Ácido com a política do governo federal na área, com o Fundo Monetário Internacional e com a atuação de determinados representantes do capital externo, o vice-presidente do conselho de administração do grupo que fatura quase R$ 7 bilhões por ano dispara também contra a atitude contrária do governador mineiro Itamar Franco ao plano de racionamento. Seu conglomerado, que emprega quase 30 mil pessoas nas áreas que vão da mineração ao cimento, passando por papel e celulose e metalurgia, não recorrerá à Justiça contra o programa de redução do consumo.

"Temos 11 hidrelétricas, mas precisamos baixar os gastos, tenho medo de que recorrer à Justiça acabe virando uma anarquia geral", diz o engenheiro especializado em metalurgia. Como agora o melhor a fazer, em sua opinião, é torcer para que a situação passe logo, o empresário paulista acredita que precisam ser incentivados os bons exemplos:

"O povão reagiu de uma maneira brilhante, responsável, isso me entusiasma. No final das contas, todos aprenderão que é importante economizar energia". Mea culpa à parte, confessa que desperdiçava em sua casa. Hoje, os gastos baixaram 30%, claro que com uma ajuda da menor "população" da residência. Hoje, só uma de seus nove filhos e a mulher ainda vivem com ele. Com 73 anos, já encontrou o assunto para a sua próxima peça teatral, depois das bem-sucedidas experiências de Brasil SA e SOS Brasil. O novo texto, como os demais, será escrito a lápis.

"Sou meio frio com computadores, é muito rápido e posso acabar escrevendo bobagens", afirma Antônio Ermírio, que também abomina e não tem telefone celular. Num sábado, um dia de trabalho normal para este que é um dos maiores empresários do país, conversou por quase uma hora com a reportagem, quando anunciou:

"Agora, é a vez da peça Acorda, Brasil. Mas, no meio da crise, será um acorda com vela porque energia não vamos ter".

Imprevidência, má gestão, falta de investimentos, São Pedro. De quem é a culpa pela crise energética?

Foi uma incompetência financeira. O governo estava muito preocupado em manter a estabilidade, sem inflação. Com isso, começou a cortar muitos investimentos. Qualquer empresa pequena, quando faz uma expansão, o caixa dela desaparece para crescer logo depois. O governo não pensou nisso. Começou a querer botar a inflação bem para baixo, mas toda vez que se faz uma obra dessas é preciso investir, tomar dinheiro emprestado, abrir certas exceções. Mas o FMI (Fundo Monetário Internacional) não permitia que as empresas estatais fizessem usinas hidrelétricas, o que foi um absurdo. Eles podem emprestar, controlar, mas não dizer o que devemos fazer. Isso é uma bobagem terrível.

Os investimentos precisam ser muito altos na área?

No setor elétrico, os investimentos de 1994 a 2003 eram previstos em US$ 6 bilhões por ano, 47% em produção, geração de energia, 17% seria feito em linhas de transmissão, eram 53 mil quilômetros de linhas de transmissão. Isso seria o mínimo. Hoje, o Rio Grande do Sul, por exemplo, não pode receber energia da Argentina porque as usinas do Sul estão cheias e não têm capacidade para transportar energia. A mesma situação ocorre no Norte, em Tucuruí (PA), onde está vertendo água, e não existe a possibilidade de se mandar energia para o Nordeste, nem para outra região.

Então, a raiz da crise foi a falta de aplicação dos recursos necessários?

Falta de recursos total. Em vez de investir US$ 6 bilhões anuais, começaram a aplicar US$ 3 bilhões. A crise era prevista desde 1997. O grupo Votorantim investe em energia própria desde 1953. Construímos 11 hidrelétricas e, agora, mais duas.

Mesmo com geração própria, o grupo precisa entrar no racionamento?

Já entramos. Na indústria, já paramos praticamente 120 fornos. É triste. Mas tem de se dançar conforme a música, não adianta querer se revoltar.

O senhor se refere ao protesto de Minas Gerais contra o apagão?

O momento é dramático para todos nós brasileiros. Já ouvi dizer que o governador Olívio Dutra está pensando em fazer um pequeno racionamento para ajudar outras regiões do país. Uma atitude muito digna, bem contrária à de Minas Gerais. Uma atitude que demonstra patriotismo, ao contrário da lamentável decisão do governador Itamar Franco. A decisão de Minas é muito egoísta, o Brasil é uma unidade só. Os mineiros não são uma entidade separada, o Brasil é uma república federativa. Não é possível fazer apenas o que vem na sua própria cabeça. Não tem cabimento, mas acho que o governador (Itamar Franco) já voltou atrás e viu a bobagem que fez.

A Região Sul recebeu a recomendação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para economizar 7% de seu consumo.

Todo mundo que eu conheço aqui em São Paulo está reduzindo os seus gastos, controlando suas casas. Tem gente que cortou 30% de energia, inclusive eu.

A receptividade da população surpreendeu o senhor?

Isso é que é importante. O racionamento terá, no final das contas, um efeito benéfico para o Brasil no sentido de que todos economizem energia. É uma lição, há males que vêm para o bem, embora ninguém queira o racionamento. Aqui em São Paulo, chego a ficar arrepiado com a economia da classe menos favorecida. Na periferia, está tudo apagado. Isso significa que eles estão levando a sério. Isso é importante. Dizem que o nosso povo é ignorante, mas em uma hora como esta reagiu positivamente. Eu acho sensacional. Mostra para o resto do mundo que, apesar de pobres, somos responsáveis. O povão reagiu de uma maneira brilhante, responsável, isso me entusiasma. Todo mundo mete o pau no povo, chama de ignorante, mas o povo é sério.

Com a crise de recursos no caixa público, não seria inevitável o adiamento de obras para geração, transmissão e distribuição de energia?

Infelizmente, o governo tem mania de gastar menos com as coisas essenciais. Se há coisas que não se deve deixar faltar são comida e energia. Sou só um cidadão brasileiro, mas se fosse governo não deixaria faltar comida e energia. Isso é tudo. Com energia, o país cresce e, com comida, não há fome. Fora disso, vai se tocando.
“Só não pode faltar comida e energia”
“Não tenho dúvidas, a crise afetará o social”

Nesta parte da entrevista, o empresário Antônio Ermírio de Moraes avalia o modelo de privatização do setor elétrico, questiona a atuação dos investidores estrangeiros, analisa o impacto da falta de energia e comenta a afirmação do presidente Fernando Henrique Cardoso ter sido surpreendido pela extensão da crise.
Uma das críticas relacionadas ao apagão também reside no modelo de privatização implantado no país.

Realmente, não foi muito eficiente. Não é o momento de privatização. Acredito que, até a próxima eleição, ela vem em prejuízo do próprio governo. Em segundo lugar, há empresas que vão muito bem, como Chesf, Copel e Furnas. Não há muito motivo para isso, então. Agora, se amanhã decidirem, deixem o capital estrangeiro fazer as usinas que quiserem, mas com o próprio dinheiro. Não sou contrário à privatização, mas também não apóio comprar o que já existe. Aí não se faz mais nada novo.

É correta a alegação dos investidores de que os recursos não foram usados em sua totalidade pela falta de garantia de retorno da verba aplicada?

Isso é outra jogada. Quando é nacional tocamos para frente de qualquer maneira. Quando é estrangeiro, se não der um bom retorno, eles não fazem. É preciso tomar muito cuidado com essas coisas. Se eles quiserem fazer, muito bem, tragam seu dinheirinho para cá e aí vamos ver se há boa vontade ou se é tapeação mesmo.

Seria possível dimensionar o impacto econômico e social desta crise?

Não tenho dúvidas de que a crise se refletirá no social. O governo acabará cortando obras sociais, vão ficar batendo nesta tecla: cortar o social, cortar o social, cortar o social. É evidente que, com a crise da indústria nacional, vai haver uma redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). E o ICMS é a principal alternativa do caixa dos governadores. Com isso, terão dificuldades. O povo continuará sofrendo. Saúde e educação, infelizmente, ficarão sem a atenção devida.

Com o racionamento, muitos industriais já ameaçaram demissões em seus quadros funcionais. O senhor teme um incremento das taxas de desemprego?

Aqui na Votorantim, fomos atingidos em todos os aspectos: cimento, papel e celulose, alumínio, zinco, níquel e aço. Estamos fazendo tudo para não desempregar. Claro que paramos de admitir gente nova, mas procuramos manter o nível de emprego existente. Em relação aos demais segmentos da indústria, não sei. Há setores, como o de linha branca (geladeiras, máquinas de lavar roupa e ar-condicionado, por exemplo), que poderão ter problemas.

Diante do colapso no abastecimento, os projetos de expansão têm de ser engavetados pelos empresários?

Olha, temos vários planos de expansão que já estavam sendo executados. Em Minas Gerais, era um projeto que passava de 110 mil para 160 mil toneladas de zinco por ano, investimento de US$ 100 milhões. Agora, o governo fala que não pode dar energia. Vamos continuar as obras, isso não pode durar a vida inteira. O empresariado, neste momento, está assustado. Mas até o governo vem com esta história de que foi pego de surpreso.

É justificável a afirmação do presidente Fernando Henrique Cardoso de que foi surpreendido com a extensão da crise de energia?

Todos nós temos o nosso dia de infelicidade. O presidente teve em 7 de maio quando fez esta declaração. Não podia declarar isso de jeito nenhum, não poderia dizer que não sabia que iria faltar energia. É presidente do Brasil, não está tocando um armazém de esquina. Precisa saber o que vai acontecer no país. Não é só ter liderança no Congresso, mas saber que não pode faltar comida e energia, coisas básicas. Se tivermos comida e energia, o país vai para a frente. O resto vai sendo tocado como sempre, aos trancos e barrancos.

Já é possível prever de quanto será a redução no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país a partir do racionamento?
Eu mesmo ouvi o Malan (ministro da Fazenda, Pedro Malan) dizer que o PIB cairá, que o nosso crescimento será inferior ao do ano passado. Não deve passar de pouco mais de 2%.

O senhor pensa em recorrer à Justiça contra o racionamento?

Antônio Ermírio – Não, isso é bobagem. O que tenho medo, neste caso de recorrer à Justiça, é de uma anarquia geral. Ninguém vai ganhar nada, será perda de tempo, temos de enfrentar a crise e procurar resolvê-la no prazo mais rápido possível. E digo mais: chamei os dois principais fabricantes de bens de capital aqui – a Alstom e a Siemens – para falar da produção de reatores e turbinas a gás. Por que não podem fabricar? Se encomendar hoje uma máquina a gás, recebe em 2004. Temos de fabricar aqui, não estamos em um arquipélago de índios, temos gente preparada. Precisamos fazer isso com rapidez, mas o pessoal quer manter a reserva de mercado. Alemanha, França, Suíça, Inglaterra e EUA querem reserva de mercado. Não podemos ficar no final da fila. Temos de lutar contra isso. O Fernando Henrique, se tem cartaz no Exterior, se é bem-visto lá fora, deve usar esta projeção e mandar esses caras virem para cá produzir turbinas a gás. Vamos ver se tudo é uma grande retórica. É preciso botar o prestígio dele na prática.

Dólar acima de qualquer parâmetro razoável e juros ainda mais elevados são outras das conseqüências da crise energética. A situação tende a perdurar?

O dólar disparou, a nossa previsão para o ano era de R$ 1,95. Precisamos de estabilidade. Mas quem vem hoje investir dinheiro no Brasil? As transações de dinheiro no mundo hoje são de US$ 1,5 trilhão por dia, 97% só de especulação. Vivemos em um mundo globalizado especulador. Mas também não podemos viver com uma inflação de 5% ao ano e o cheque especial a 150%.

O apagão terá conseqüências no processo eleitoral de 2002?

Definitivamente. Não será nada fácil para o PSDB eleger o sucessor do presidente e os governadores do partido.

Fonte : Agência RBS

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