Estudo preliminar feito pela CNI indica que a redução de 20% no consumo industrial de energia elétrica, tendo por base o ano 2000, força um retrocesso aos níveis de consumo do setor do início da década de 90.

De acordo com o estudo, no ano passado, o consumo de energia elétrica no Brasil, com base em estatísticas preliminares, foi de cerca de 306.300 GWh. Desse total, a indústria responde por 43,2%, seguida pelo consumo residencial (27,6%) e comercial (15,4%). Apesar de ser o maior consumidor de energia, a indústria apresenta as menores taxas de crescimento anual: 2,4% ao ano na década de 90, contra 7,1% do consumo comercial e 5,8% do residencial. A redução no consumo de energia da indústria, mesmo com crescimento da produção, é reflexo da modernização do setor e do uso mais eficiente da energia.

Segundo o presidente do Conselho de Infra-Estrutura da CNI, José Carlos Gomes Carvalho, a indústria atualmente trabalha com um nível médio de produção cerca de 7% maior que o do trimestre maio-julho do ano passado, usado como base de comparação para a redução de 20% no consumo industrial. E isto, segundo Carvalho, significa que o corte de energia terá de ser da ordem de 25%.

Efeitos indiretos ao longo da cadeia produtiva já podem ser listados pela confederação. As empresas que têm capacidade de geração própria de energia poderão ser prejudicadas pela falta de capacidade de produção de fornecedores e compradores. O recurso de apelar ao mercado externo não é uma opção para todas as empresas, principalmente para aquelas que não são tradicionalmente exportadoras.

O efeito negativo do racionamento na renda das famílias fará com que elas reduzam o consumo. Com isso, a CNI avalia que os setores industriais que deverão ser mais afetados pela queda de demanda são os produtores de bens de capital e de bens de consumo, sendo que, neste caso, os produtos eletroeletrônicos podem ser os mais atingidos. O emprego industrial, em particular, deve se estabilizar no curto prazo, mas não estão descartadas demissões, caso o racionamento se prolongue muito.

O estudo cita projeções de consultorias que prevêem, para a indústria, uma queda da produção em relação ao primeiro semestre do ano passado de até dois dígitos, segundo os mais pessimistas. O impacto do racionamento de energia sobre as importações de bens são diversos. A CNI avalia que a indisponibilidade de alguns insumos no mercado interno e a aquisição de equipamentos para geração de energia devem aumentar as compras de determinados segmentos no mercado externo. Mas a redução da demanda agregada pode também segurar as importações. O resultado desses dois movimentos ainda não é conhecido.