São Paulo - A relação de amor e ódio que a torcida corintiana mantém com seus ídolos está bem próxima de fazer mais uma vítima. O diretor de Futebol Carlos Nujud, que vai ainda vai chefiar a delegação na viagem a Belo Horizonte, deve perder o cargo em breve.

A enorme pressão da Gaviões da Fiel sobre o dirigente, que já dura quase três anos, está a um passo de dobrar a resistência da diretoria. Apesar dos desmentidos, Paulo Angione deve voltar a trabalhar para o Corinthians em 2001.

A cabeça de Nujud será servida de bandeja para uma torcida que tem a sua equipe como refém.

Pela primeira vez desde que assumiu a vice-presidência de futebol, o jurista Antonio Roque Citadini não foi claro o bastante para desmentir nenhuma das duas informações: a chegada de Angione e a saída de Nujud.

"O Nei continua trabalhando", resumiu Citadini, sem convencer. E usou um jogo de palavras para confirmar o interesse em Angioni. "Não descarto nem encarto esse nome, porque não conheço o seu trabalho."

A iminente queda de Nujud será mais uma prova de que a torcida continua tendo um peso em quase todas as decisões no departamento de Futebol Profissional -muitas vezes até pelo poder de violência que impõe ao time.

O próprio Roque Citadini afirmou que a Gaviões teve uma participação ativa no processo de desmantelamento do time que foi bicampeão brasileiro e campeão mundial, ao expulsar Edílson do Parque São Jorge.

"Posso garantir uma coisa a vocês: se eu já estivesse no cargo na época, não permitiria que o Edílson saísse e também não teria deixado o Oswaldo de Oliveira ir embora. Ontem (quinta-feira), no Pacaembu, tivemos uma cena surrealista. A torcida gritava pedindo jogador, mas foi ela que praticamente tirou o Edílson a tapa do Parque São Jorge. Não vou permitir que se faça o mesmo com o Marcelinho."

Os jogadores também já não suportam a difícil convivência com a torcida. As costumeiras ameaças da Gaviões criaram um trauma no elenco. O pavor é ainda maior quando o time tem de jogar no Pacaembu, um estádio que eles consideram vulnerável. Como ex-integrante da Gaviões, o atacante Dinei denuncia: os jogadores sentem medo de jogar no Pacaembu.

"Depois do que aconteceu com o Edílson, você não sabe mais o que pode acontecer com qualquer um. Está todo mundo apavorado aqui dentro e sei que não é a torcida o verdadeiro problema. O problema são aqueles 10 ou 12 torcedores de sempre, os mesmos que ameaçaram o Edílson."

O pânico é geral e independe do status dos jogadores. Assusta tanto o milionário Marcelinho Carioca quanto o jovem lateral-esquerdo Kléber. Sexta-feira, um dia depois da invasão no Pacaembu, ambos não quiseram falar com a imprensa. Quem aceitou conversar, como o meia Ricardinho, só respondeu a perguntas sobre o time de futebol.

O técnico Candinho também já sentiu na pele a ira da Gaviões. As primeiras manifestações contra o seu trabalho começaram na derrota para o Juventude e se repetiram diante do Flamengo. Mas ao contrário do que ocorreu com um de seus antecessores, Oswaldo de Oliveira, ele permanecerá para comandar a reformulação do elenco.

Jornal da Tarde