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Não precisamos de 'mistura', precisamos de um prato colorido

No Brasil damos muita importância para a 'mistura', para um pedaço de qualquer carne ou ovo junto com o arroz e o feijão.

23 mai 2023 - 10h29
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Prato Colorido
Prato Colorido
Foto: CanvaPro

A palavra 'mistura' remonta aos tempos da escravidão, os escravizados nas senzalas não tínham acesso a carnes (vermelha, frango ou peixe), era muito caro consumir carnes nessa época. Devido a isso, eles recebiam uma pequena quantidade que servia apenas como complemento, e tinham que dividir entre eles, o pedaço era tão pequeno que é impossível chamar de prato principal.

Justamente por isso, eles misturavam com o arroz, o feijão e a farinha, e daí surge o nome 'mistura', que até hoje está atrelado a gastronomia brasileira, até porque, nosso prato sempre teve mais arroz e feijão do que carnes.

Ao falarmos sobre o fato de que, não precisamos ter uma 'mistura' no prato hoje, devido a uma alimentação colorida ser completa, saudável e saborosa, não podemos nos esquecer jamais desse passado terrível e assombroso que foi o período da escravidão.

Homens, mulheres e crianças negras eram forçadas a trabalhar sem remuneração, sem dignidade, apanhavam e tinham que se contentar com a 'mistura' que sobrou da janta dos escravizadores brancos e colonizadores europeus.

Antes de tirarmos as carnes, os embutidos e os ovos do prato, é necessário compreendermos de onde que veio essa ideia de que temos que ter uma 'mistura' para acompanhar o arroz e o feijão, pois isso mostra que não é uma verdade absoluta e irrefutável, é apenas repetição de hábitos que nos foram ensinados, algo meramente cultural.

Tudo que está no prato além do arroz e feijão (que é a base), é considerado 'mistura' no Brasil. Entretanto, o que o povo, incluindo nós, considera como 'mistura' de fato e reconhecemos como 'mistura' são pedaços de carnes, embutidos ou ovos.

Há 10 anos era improvável considerarmos um prato sem 'mistura', sem carne ou ovo. Por isso, era tão comum a nossa mãe comprar sacos de salsicha e 'stakes' em atacadistas para acompanhar o arroz e o feijão, o macarrão ou o miojo. Pura influência cultural, a preocupação dela era termos 'mistura' no prato, que sempre foi caracterizado com ''ter o que comer, o acompanhamento principal''.

Para a Dona Regina, nossa mãe, isso era um prato completo e saudável, e foi assim que aprendemos, nunca questionamos isso, e foi assim que você aprendeu também, e hoje, provavelmente acha impossível questionar isso.

Ao montar um prato sem carnes, embutidos ou ovos temos a sensação que está faltando alguma coisa, e é justamente por conta da forma como fomos criados. Por exemplo, sempre que mencionamos para as pessoas que somos veganos, elas perguntam: ‘’vocês comem o que então?’’

O que não sabíamos e que muita gente não sabe, é que um prato com arroz, feijão, legumes, e saladas é completo e nutritivo, e em poucos dias aquela sensação de que tá faltando alguma coisa passa.

O arroz e feijão fornecem todos os aminoácidos essenciais que o nosso corpo precisa para funcionar adequadamente. Os aminoácidos essenciais são aqueles que o corpo não pode produzir por si só e, portanto, precisam ser obtidos através da alimentação. 

O feijão é uma excelente fonte de proteína vegetal e contém todos os aminoácidos essenciais, mas em quantidades relativamente baixas de um ou dois aminoácidos. Já o arroz é uma ótima fonte de carboidratos e é pobre em um ou dois aminoácidos essenciais que o feijão tem em quantidade suficiente. 

Além disso, essa combinação fornece uma série de outros nutrientes importantes, como ferro, fibras e vitaminas do complexo B, tornando-a uma opção saudável e nutritiva.

Não à toa, o símbolo da Vegano Periférico é o arroz e o feijão, e estamos há quase 8 anos sobrevivendo, com muita saúde, sem comer a 'mistura' convencional, mas com um prato repleto de cor, arroz e feijão.

Vegano Periférico Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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