PUBLICIDADE

"Sou um homem de 28 anos e nunca tive um orgasmo"

Embora comum entre as mulheres, a anorgasmia (ausência de orgasmo) é uma das formas mais raras de disfunção sexual masculina.

1 out 2020 - 16h26
(atualizado às 16h44)
Compartilhar
Exibir comentários

Uma das disfunções sexuais mais comuns entre as mulheres, a anorgasmia (ausência de orgasmo) também atinge os homens - embora, no caso masculino, sua ocorrência seja mais rara.

Comum entre as mulheres, a anorgasmia é uma das formas mais raras de disfunção sexual masculina
Comum entre as mulheres, a anorgasmia é uma das formas mais raras de disfunção sexual masculina
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A incapacidade recorrente ou persistente de atingir o orgasmo durante o ato sexual, independentemente da presença de ejaculação ou não, pode ter causas físicas ou psicológicas.

E acaba inevitavelmente gerando estresse emocional.

A seguir, o relato à BBC Three* de um homem de 28 anos com anorgasmia (que preferiu permanecer anônimo):

Aviso: este artigo apresenta conteúdo sexual e temas adultos.

Tenho minha casa própria em Leeds, no Reino Unido - é um apartamento de um quarto, mas é bacana. Jogo futebol todas as quartas com meus amigos. Depois, saímos para tomar cerveja.

Amo andar de bicicleta - participei de uma pedalada beneficente de Londres a Paris no verão passado - e passo quase todos os fins de semana pedalando. Uso terno para trabalhar e quando me olho no espelho, penso: 'Você parece tão normal...'

Mas não me sinto normal.

Eu sofro de anorgasmia - incapacidade de chegar ao orgasmo, apesar de ser estimulado. É um dos distúrbios sexuais menos comuns entre os homens - mas, de acordo com algumas estatísticas, apenas cerca de 25% dos homens atingem rotineiramente o orgasmo em toda relação sexual.

A anorgasmia - quando alguém nunca tem orgasmo com o parceiro - pode acontecer por várias razões. Às vezes, é um problema físico - de repente, a pessoa passou por uma cirurgia de próstata. Mas em muitos casos, como o meu, é psicológico.

Fui abusado sexualmente por um amigo da família quando tinha 12 anos - e acho que por causa do trauma, nunca fui capaz de chegar ao orgasmo com outra pessoa.

E estou começando a achar que nunca vou conseguir.

Isso me impediu de engatar relacionamentos sérios desde que eu era adolescente.

Quando era mais jovem, eu fingia que não me importava, ou dizia a mim mesmo que isso se resolveria em algum momento.

Eu levava as meninas para casa e fazíamos sexo, mas eu perdia a ereção, e rolava um constrangimento.

Ou algumas garotas faziam piada sobre como haviam "tirado a sorte grande" ao encontrar um cara que fosse capaz de não interromper o ato sexual, mas depois de alguns meses juntos, elas inevitavelmente ficavam frustradas com o fato de eu nunca ter um orgasmo.

Elas pensavam que não estavam me agradando. Eu tentava reconfortá-las, mas a pergunta sobre qual era a origem do problema acabava surgindo inevitavelmente, e nunca tive vontade de compartilhar minha história com ninguém.

'Aceitei o fato de que talvez nunca possa ter um orgasmo com outra pessoa'
'Aceitei o fato de que talvez nunca possa ter um orgasmo com outra pessoa'
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A relação sexual mais longa que eu tive durou cerca de duas horas, mas, para ser honesto, a essa altura já tinha ficado frustrante para nós dois. E decidi parar. Ela parecia estar mais concentrada em mim e em como eu estava "perto" (de atingir o orgasmo), do que em aproveitar a experiência - o que só me deixou ansioso com a coisa toda.

Eu ignorei isso por muito tempo, mas meus amigos estão começando a sossegar e se casar, e eu ainda estou sozinho porque, cada vez mais, a ideia de aceitar uma pessoa nova na minha vida e de ver a expressão no rosto dela ao perceber meu "defeito" é insuportável. Assim como a ideia de passar o resto da vida sozinho.

Percebi que tinha um problema de verdade na primeira vez que tentei fazer sexo com uma garota - aos 17 anos. Ela era minha namorada há quase um ano, nós dois éramos virgens, e acho que estava apaixonado por dela.

Eu comecei a me masturbar aos 13 anos. Em muitas ocasiões, mesmo sendo adolescente, apesar de me sentir excitado, e apesar de ter ereção, eu acabava ficando tão frustrado que simplesmente tinha que parar. Mas eu pensava que quando estivesse com uma garota, tudo se resolveria.

A primeira vez que a gente fez sexo foi no meio da tarde de um sábado. Me lembro muito claramente - o sol entrava pela janela do quarto, os pais dela tinham ido passar o fim de semana fora - tínhamos tudo planejado e estávamos empolgados. Começamos a nos beijar e nos tocar. Eu tive uma ereção, ela parecia nervosa ao me tocar, o que me tranquilizou de certa forma, porque parecia que ela era tão inexperiente quanto eu.

Mas, quando finalmente começamos o ato, pensei: "E se eu não conseguir? E se eu falhar?" Não sei por que isso me veio à cabeça. Fiquei muito nervoso e perdi a ereção. Tentamos mais algumas vezes naquele dia - mas eu podia ver que ela estava ficando cada vez mais preocupada à medida que eu perdia a ereção e precisava parar.

Só na manhã seguinte, depois de passarmos uma noite tensa dormindo um ao lado do outro, mas sem nos tocar, que finalmente conseguimos fazer sexo. Desta vez, eu mantive a ereção, mas depois de provavelmente 30 minutos de sexo, eu não sabia mais o que fazer - sabia que não ia ter o orgasmo e que poderia continuar ali até perder a ereção novamente - então eu decidi fingir (o orgasmo).

Eu realmente não sei se ela acreditou em mim, mas pareceu tudo bem. Desde então, fiz isso algumas vezes. Há mulheres que ficam ofendidas, como se o fato de eu não ter um orgasmo quer dizer que não as ache atraentes. Mas não é o caso.

Na hora, parece mais fácil fingir que "terminei", em vez de tentar explicar que tenho esse problema - e a causa dele.

Ao longo dos anos, tentei "medicar" com pornografia. Descobri que, se me masturbo enquanto assisto filme pornô, às vezes consigo chegar ao fim sozinho. É quase como se a pornografia desligasse a parte "pensante" do meu cérebro, permitindo me concentrar apenas na sensação.

Mas, com o passar do tempo, percebi que me tornei muito dependente disso - e que isso me fazia sentir com menos sensibilidade ainda quando estava com outras pessoas.

Às vezes, penso em perguntar a uma garota se podemos ver pornografia juntos enquanto fazemos sexo, mas, dado que normalmente nunca saio muitas vezes com alguém, não me parece certo. Acho que se fosse alguém que eu conhecesse bem e realmente confiasse, seria diferente.

Recentemente, tentei conversar com alguns amigos sobre isso e acabei descobrindo que muitos deles passaram por situações em que tiveram dificuldade para chegar ao orgasmo ou ter uma ereção.

Mas, inevitavelmente, ouço a frase bem-intencionada de que "todos nós já passamos por isso", o que só torna mais difícil explicar que eu acho que o meu problema é mais profundo.

A anorgasmia pode acontecer devido a uma questão física ou psicológica
A anorgasmia pode acontecer devido a uma questão física ou psicológica
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Há algumas semanas, me consultei com um terapeuta especializado em sexo e trauma. Conversamos sobre minhas diversas preocupações em relação à intimidade e ao desempenho sexual. Tentar descrever o que eu sinto quando fico excitado foi a parte mais reveladora das nossas sessões.

Acho que nunca tive que elaborar isso em palavras antes, mas, basicamente, à medida que fico excitado, também tenho uma sensação de medo - acompanhada por um pensamento de que está tudo prestes a dar errado. E isso fica dando voltas na minha cabeça.

Por muito tempo, me senti incrivelmente isolado por causa do que estava acontecendo comigo. Você costuma ler sobre mulheres com dificuldade de chegar ao orgasmo, mas nunca sobre homens.

E, quando é sobre homens, raramente está associado a algum aspecto emocional. Por anos, eu pensei que talvez fosse o único cara que estivesse passando por isso. Conversar com o terapeuta, no entanto, me fez perceber que estou longe de ser o único.

Aceitei o fato de que talvez nunca possa ter um orgasmo com outra pessoa.

Mas também acho que talvez eu simplesmente não esteja me permitindo realmente confiar ou me aproximar de alguém. Enquanto isso, vou parar de sair com garotas até saber exatamente o que quero de uma parceira. Não estou triste com isso - sinto que é o primeiro passo para a recuperação.

*O autor deste artigo, que prefere permanecer anônimo, contou sua história para Alexandra Jones, da BBC Three.

BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
Publicidade
Publicidade