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De garrafa térmica a US$ 30 mil: Como o 'preço' das noivas foi às alturas na China

7 mar 2016 - 00h05
(atualizado às 08h11)
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Uma chocante – embora não verificada – história provocou um longo debate nas redes sociais chinesas sobre a antiga tradição de se pagar por uma noiva no país.

Tudo começou após uma estação de rádio contar a seus ouvintes o drama de um homem que queria se casar com sua namorada grávida, mas não tinha condições de pagar o valor cobrado pela família dela, de US$ 30 mil (R$ 112 mil).

O fim da história, bem triste por sinal, é que o pai dela pôs fim a qualquer negociação sobre um futuro casamento e forçou a filha a fazer um aborto.

Ainda não está claro se o caso é real: a identidade do homem não foi informada pela rádio e as tentativas de encontrá-lo foram em vão. Mas a forte reação ao relato nas redes sociais jogou luz sobre a crescente preocupação com a alta no "preço" das noivas em um país onde há menos mulheres que homens.

O "preço" da noiva é similar a um dote, mas às avessas: o noivo é quem faz o pagamento à família de sua futura esposa.

Especialista em China e editora do site What’s on Weibo , que monitora os assuntos mais comentados no Sina Weibo, principal rede social do país, Manya Koetse diz que a tradição existe há séculos e sobreviveu à era comunista.

Ela, que descobriu a história sobre o homem e sua namorada grávida durante suas pesquisas nas redes sociais, afirma que esses "preços" estão subindo de acordo com o crescimento da economia chinesa.

“Nos anos 50, 60 e 70, o 'preço' da noiva poderia ser uma garrafa térmica ou uma roupa de cama”, conta. “Depois, um móvel, e então um rádio ou um relógio. Na década de 1980, uma TV ou uma geladeira. Mas desde a abertura da economia da China passou a ser cobrado em dinheiro vivo.”

Política do filho único levou a uma maior população masculina no país
Política do filho único levou a uma maior população masculina no país
Foto: Getty / BBC News Brasil

Outra explicação

A prosperidade econômica é uma das razões para a alta no "preço" das noivas, mas há outro fator: a escassez de mulheres ocasionada pela política do filho único.

A preferência das famílias por filhos homens, que segundo a tradição cuidariam dos pais na velhice, levou a um aumento brutal no número de abortos de fetos do sexo feminino nas últimas décadas, assim como a uma alta nos casos de abandono e infanticídio de bebês indesejadas.

Nos dias de hoje, segundo pesquisadores da Universidade de Harvard (EUA), há 118 homens para cada 100 mulheres na China, o que representa um “extra” de 40 milhões deles no país.

Como consequência, em algumas áreas o "preço" das noivas explodiu, o que afeta principalmente os homens que vivem nas áreas rurais.

“Eles são chamados de 'galhos nus'”, explica Koetse. “São rapazes muito pobres, sem educação. Eles não têm mulher ou filhos, são como árvores sem folhas. Há vilas cheias de homens assim em todo o país.”

E, no caso deles, o problema é ainda pior, continua ela. “Muitas mulheres deixam essas vilas em direção às cidades maiores para encontrar um homem que possa oferecer mais do que eles. E cada uma das poucas que ficam chegam a ter 20 rapazes interessados em se casar com elas. Como resultado, acabam exigindo um 'preço' da noiva bem alto.”

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