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Técnica de sensibilização ao toque ajuda a reconectar casais

Opção para o Dia dos Namorados, prática aliada à massagem propõe outra forma de se comunicar com o outro e estimula hormônios de bem-estar

12 jun 2019 - 07h13
(atualizado às 13h16)
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O toque é o primeiro sentido que adquirimos e é natural que, quando crianças, queiramos descobrir o mundo por meio das mãos. Com o tempo, essa habilidade dá lugar a outras formas de compreensão e deixamos de lado uma prática que pode trazer muitos benefícios ao ser humano - principalmente entre casais, sejam namorados ou casados.

A terapeuta corporal Arandi Vasconcellos observou, ao longo de 18 anos de profissão, que muitos casais tinham dificuldade de se conectarem para além do âmbito sexual. No começo, ela atendia os parceiros separadamente, porque as mulheres tendiam a buscar o serviço primeiro.

"Nessa prática, fui percebendo o quanto o toque era importante, mas estava ausente. As pessoas têm uma visão meio limitada do que é poder estar com o parceiro além do sexo. Você pode ter muita intimidade e uma troca positiva e saudável fora do contexto sexual", diz Arandi.

A rotina e as muitas tarefas diárias também podem ser prejudiciais para um bom relacionamento. A psicóloga Margareth dos Reis, terapeuta sexual e de casais, explica que, com a convivência, outras demandas vão entrando e o casal pode se perder um pouco. "Preocupação, cansaço e insatisfações podem criar um distanciamento e diminuir essa conexão não verbal, do toque, das carícias", afirma.

Esse afastamento pode fazer com que os parceiros deixem de demonstrar interesse um pelo outro e levar a um silenciamento. "Até que acaba provocando dificuldade de comunicação, que compromete muitas experiências compartilhadas", diz Margareth. Segundo a especialista, os ruídos de comunicação faz com que um distorça o que o outro diz, aumentando a distância entre ambos ou se manifestando em forma de brigas.

Ao observar esse cenário, Arandi desenvolveu a Vivência de Massagem Com Tato, uma espécie de mini curso prático em que ela guia o casal em uma dinâmica de sensibilização do toque e ensina técnicas de massagem que vão beneficiar os dois. Com duração de duas horas e meia, a experiência começa com uma conversa que vai apresentar o propósito do trabalho e a importância do resgate do toque.

Depois, ela segue para a dinâmica de sensibilização, em que os parceiros são vendados e aprendem a se tocar de outra forma. "Colocamos as vendas para a pessoa sair do modo mental, em que não sente profundamente o que está acontecendo. A intenção é levar o olhar da pessoa para dentro e para a sensação do toque do parceiro", explica Arandi.

A prática consiste em tocar o outro por inteiro, desde o topo da cabeça até a sola dos pés. "Nesse mapeamento, vou conduzindo os dois: quando respirar, soltar o ar, sentir a sua respiração e do parceiro, a temperatura da pele, forma do corpo, ossos, músculos. Vou conscientizando o processo", diz a terapeuta corporal, que atende em um consultório em São Paulo.

A terapeuta corporal conta que a experiência é tão profunda que muitos casais chegam a chorar, ainda mais quando passam por uma crise. Depois disso, ela conversa com os dois e pergunta qual massagem eles gostariam que o parceiro aprendesse. Arandi ensina algumas técnicas que poderão ser repetidas em qualquer outro momento, de forma simples.

A empresária Valéria* buscou os serviços de Arandi há cinco anos por indicação da psicoterapeuta dela. Após o nascimento do primeiro filho, ela e o marido passaram por uma crise no casamento. "Quando você está vivendo uma rotina muito intensa, vai no automático, você deixa de perceber o outro. Quando chega nessa dinâmica de descobrir o outro pelas mãos, desarma as barreiras e volta a se conectar", relata.

Arandi Vasconcellos ensina técnicas de massagem corporal.
Arandi Vasconcellos ensina técnicas de massagem corporal.
Foto: Divulgação de Arandi Vasconcellos / Estadão

Valéria conta que, antes da prática de contato, tinha uma vida agitada. Quando o filho veio, "meu marido ficou inevitavelmente negligenciado". O casal também buscou terapia e conseguiu, segundo ela, "colocar o foco onde importava". "[A terapia corporal] trouxe mais calmaria e tranquilidade para cada um lidar com as questões do outro."

Com 12 anos de casada, ela teve o segundo filho há seis meses. Embora os problemas ainda surjam, combinados com as questões hormonais da maternidade, ela sente que o casal está mais maduro. "Se a gente se reconectasse, evitaria muitos conflitos", diz a empresária. Embora a experiência tenha sido positiva, o marido de Valéria não se dispôs a conversar com o E+ para compartilhar a experiência, assim como outros homens que a vivenciaram e com quem a reportagem tentou contato.

"Isso tem muito a ver com questão sociocultural, em que os homens foram treinados para demonstrar muito pouco o que sentem", aponta a psicóloga Margareth. "Essa questão do toque está mais relacionada com a receptividade feminina. O homem, muitas vezes, não tem intimidade com o próprio corpo e menos ainda de comentar sobre isso", completa. "Mas o homem pode gostar e se sentir muito bem quando se abre para essa experiência e começa a dividir isso sem receio de chacota."

O poder do toque

A importância do toque é tão real que foi motivo de estudo para o psicólogo Matthew Hertenstein, da Universidade DePauw, conforme relata o Psichology Today. Ele demonstrou que temos uma capacidade inata de decodificar emoções apenas pelo toque. Em uma série de pesquisas, Hertenstein colocou voluntários para comunicar uma lista de emoções a um estranho vendado somente por meio do toque. Muitos ficaram apreensivos com o experimento. "Essa é uma sociedade com fobia de toque", disse ele. "Nós não estamos acostumados a tocar estranhos, ou até mesmo nossos amigos."

Mas os resultados sugerem que podemos enviar e receber sinais emocionais somente com esse gesto simples. Os participantes comunicaram oito emoções distintas (raiva, medo, repulsa, amor, gratidão, simpatia, felicidade e tristeza) com taxas de precisão de até 78%. Estudos anteriores foram realizados em outros países, como Espanha, Reino Unido, Paquistão e Turquia, e em todos eles as pessoas parecem ter essa habilidade de comunicação.

Fisiologicamente, o toque, quando agradável, é um potente ativador de boas sensações. Um abraço acalorado estimula a produção de serotonina e ocitocina, os chamados hormônios do bem-estar e do amor. Assim, para que todas as pessoas pudessem ter acesso a esses benefícios, Arandi abriu a experiência para quem quiser experimentar, desde amigos até pais e filhos.

"As pessoas estão vivendo muito externalizadas, para o mundo de fora, trabalham, ficam no computador. Isso distancia as relações afetivas. A ideia da terapia corporal é levar saúde para todas as pessoas", diz a terapeuta. Em seu perfil no Instagram, Arandi compartilha mensagens de bem-estar e informações sobre as práticas de massagem.

*Nome fictício em respeito à decisão do casal de não ser identificado

Estadão
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