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Centro do Rio foi cenário para personagens de Machado de Assis
Do nascimento no Morro do Livramento, em junho de 1839, à morte em 1908, no bairro do Cosme Velho, Machado de Assis pouco saiu do Rio de Janeiro. Seus personagens foram localizados basicamente nas ruas do centro.A região foi a artéria da cidade no fim do século 19 e serviu de cenário para as estripolias de Capitu e as digressões de Brás Cubas. Para quem quer refazer o trajeto dos personagens machadianos, são obrigatórias as caminhadas pelas Ruas Matacavalos, atual Riachuelo; do Ouvidor; das Violas, atual Teófilo Otoni; e Bela da Princesa, atual Correia Dutra. Entre a Vila e o Embu - Citado por Machado em Histórias de quinze dias, o bairro Santa Teresa, uma mistura dos paulistanos Vila Madalena e Embu das Artes, é muito charmoso. Há vários tipos de passeios por lá: ecológico, cultural e histórico. O melhor jeito é ir caminhando, subindo ladeiras, observando as casas e seus jardins. O que mais se vê são ateliês. Dos museus, pelo menos um merece destaque: o Chácara do Céu. Na região do Largo dos Guimarães concentram-se os barzinhos lotados à noite. E há vários restaurantes que servem comida caseira a preços honestos. O mais conhecido é o Bar do Arnaudo, que serve uma muqueca de primeira. Salas temáticas - Machado de Assis cita em Esaú e Jacó o baile da Ilha Fiscal que foi o canto do cisne do Império brasileiro, realizado seis dias antes da proclamação da República. Foi a maior festa oferecida por d. Pedro II. A partir de 1984 a Marinha iniciou a restauração do palacete que foi tombado pela prefeitura do Rio em 1988. Completamente restaurado, é aberto à visitação com salas temáticas e visita guiada. Em 1999, foi anexado ao conjunto o antigo rebocador Laurindo Pitta de 1910, que passou a fazer o trajeto do Centro Cultural da Marinha para a Ilha Fiscal. Programa turístico em horários regulares. Barzinho badalado - Do antigo aqueduto que abastecia o centro da cidade com água das nascentes de Santa Teresa sobraram os Arcos da Lapa, citados em Dom Casmurro. Água na época era artigo de luxo só usada para cozinhar e beber. Banho nem pensar. Os arcos de pedra e argamassa foram construídos em estilo romano no ano de 1750. Vistos do alto, pelos bondinhos de Santa Teresa, formam uma interessante paisagem. Próximo dali fica hoje um barzinho badalado, o Semente. A cada dia da semana toca um ritmo diferente: samba, forró, chorinho. Mas cuidado, a região é meio barra-pesada, assim como o Largo do Machado, onde fica a Igreja de Nossa Senhora da Glória, citação constante na obra do escritor, aberta à visitação. O autor passou a infância entre a Praça Tiradentes, que freqüentava como coroinha da Igreja da Lampadosa, e o bairro de São Cristóvão, onde vendia doces que a madrasta fazia. De todos os lugares por onde andou, o Largo da Carioca é o mais significativo. Ali ficava a Tipografia Nacional que imprimia os documentos oficiais do governo e onde o escritor começou sua carreira na imprensa. Na Rua da Carioca ainda existe o tradicional Bar Luiz. No largo fica um dos locais de referência da arquitetura art nouveau no fim do século 19: a Confeitaria Colombo, ponto de encontro de intelectuais, escritores e jornalistas desde sua construção, em 1894. No térreo, a fachada de vidros e o interior com espelhos importados da Antuérpia, na Bélgica, criam um clima sofisticado. Mergulho nos livros - Um dos endereços onde o autor passou a adolescência e parte da juventude mergulhado nos livros é o Real Gabinete Português de Leitura. O local possui a maior e mais valiosa biblioteca de obras lusitanas fora de Portugal. Entre as raridades estão a edição de Os Lusíadas, de 1572, que pertenceu à Companhia de Jesus, e o Dicionário da Língua Tupy, de Gonçalves Dias. As primeiras sessões da Academia Brasileira de Letras, da qual foi fundador e primeiro presidente, também foram realizadas ali. O acervo da biblioteca, entre obras raras e manuscritos de Machado de Assis, tem cerca de 350 mil volumes e está totalmente informatizado. O Gabinete é uma espécie de museu bibliográfico. O projeto foi criado pelo arquiteto português Raphael da Silva e Castro, inspirado na fachada lateral do Mosteiro dos Jerônimos de Lisboa. Histórias e encantos - O Museu da República entrou para a História por episódios trágicos. Foi ali que o ex-presidente Getúlio Vargas se suicidou com um tiro no coração, em 1954. Também foi ali que Machado de Assis foi velado. Além de história, o prédio tem seus encantos. Construído de 1858 a 1866 para ser residência do barão de Nova Friburgo, o projeto tem inspiração neoclássica e leva assinatura do arquiteto alemão Carl Waehneldt. Seu entorno tem agradáveis jardins. Leia mais » O Rio sob o olhar de Machado de Assis » Roteiro do autor é mais visível na Academia Brasileira de Letras » Saiba como chegar aos locais preferidos de Machado de Assis
O Estado de S. Paulo
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