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Funk desperta a ira de feministas e
tira o sono de pais e educadores

Terça, 27 de março de 2001

Baile funk no
Rio de Janeiro

Assim como dominou redutos tradicionais de outras músicas e virou moda entre milhares de jovens espalhados pelo Brasil, o funk carioca recrutou, em pouco tempo, uma legião de inimigos que enxergam, nas músicas, atentados ao pudor e aos bons costumes, ataques à dignididade feminina e mesmo ameaça ao futuro da juventude. A suposta pobreza das músicas e a excessiva erotização da dança são os principais pontos de ataque ao funk. "A vulgaridade das letras faz com que muitos jovens, principalmente as mulheres, percam a própria identidade", afirma o teólogo Dom Estevam Tavares Bittencourt.

Músicas como Só um tapinha não dói e expressões como "cachorra", "potranca" e "popozuda" despertaram a ira das feministas, que acusam o funk de denegrir a imagem das mulheres. Uma das principais estrelas da moda hoje, a "Mãe Loura do Funk", Verônica Costa, reconhece que algumas das letras passam dos limites. "Sou contra músicas como Cachorra, Tá ardendo assopra ou Bota na cara, bota no rosto, bota onde quiser". Muitos pais, em meio à polêmica, não sabem ao certo se deixam os filhos ouvirem as músicas e freqüentarem os bailes ou se simplesmente proíbem o novo ritmo de entrar em suas casas.

"É uma nova histeria dos setores conservadores", assinala o pesquisador Micael Herschmann, autor do livro O funk e o hip hop invadem a cena. "Hoje ninguém critica as coreografias 'ginecológicas' do samba e do axé", completa o pesquisador. Os setores chamados de conservadores por Herschmann, porém, mantêm o ataque duro ao funk. "Muita gente vê e acaba cantando e imitando as músicas, consciente e inconscientemente", diz Bittencourt.

Para o teólogo, a mulher é agredida e estereotipada pela música funk e pelo novo vocabulário. A vice-governadora do Rio de Janeiro, Benedita da Silva, foi uma das que não gostaram dos novos apelidos para a mulher. "Eu não sou cachorra, lutei muito para estar onde estou", disse ela, que acredita que estas gírias atacam diretamente o sexo feminino. "Não é só o funk que trata as mulheres como objeto", rebate Herchsmann. "E temos que parar para pensar se as meninas não se sentem valorizadas com estas expressões, que já fazem parte do cotidiano da favela", explica ele.

Erotização da dança causa polêmica entre educadores e preocupação nos pais

Dois tipos de preocupação - A moral familiar entra em questão em dois casos: com a criança que canta as músicas e imita as coreografias extremamente sexualizadas que passam na televisão e com o jovem carioca de classe média, que antes freqüentava boates que tocavam dance music ou axé e agora sobe aos morros para dançar em bailes funk. A preocupação sobre o teor das letras e as danças, muitas vezes imitadas por crianças de pouca idade, não é nova. Outras modas como o Axé Music e até mesmo a apresentadora Xuxa, na década de 80, já foram acusados de estimular a sexualidade infantil muito cedo. "Sem dúvida, os mais prejudicados são os mais pobres que, por falta de opção, ouvem estes tipos de músicas, erotizadas", diz Leny Magalhães, professora da Faculdade de Educação da USP. "Infelizmente, nas famílias carentes a única diversão é a TV e o sonho de uma menina de dez anos é ser dançarina, como as dos programas", acusa a educadora.

Leny condena a versão comercial do funk que está tomando conta da juventude brasileira. "As raízes do ritmo são bem diferentes, o funk americano induz a pensar sobre valores políticos, enquanto a nossa instiga somente à sexualidade", afirma a educadora. Leny acredita que a música é prejudicial ao jovem que não tem acesso a outros ritmos. "Ouvindo sempre a mesma música, o adolescente fica perde a noção de escolha e politicamente fica menos informado", diz a educadora, que, no entanto, afirma que não conhece estudos que comprovem que a música funk, por si só, influencie o caráter do adolescente.

A preocupação dos pais fica ainda maior quando surgem na imprensa denúncias de violência, como com o funk na década passada, ou de pornografia no meio dos bailes, como a denúncia das "grávidas do funk", menores de idade que teriam participado de orgias dentro de festas, incentivadas pelos próprios DJ's. "Estas acusações parecem um pouco de lenda urbana", rebate o pesquisador Micael Herschmann. "Só fala isso quem não conhece a realidade das favelas, em que as meninas na segunda ou terceira menstruação já estão grávidas", afirma o pesquisador. Para ele, isto não está relacionado ao ritmo funk nem aos bailes, mas com com miséria e falta de acesso à educação nas favelas, onde surgiram e se disseminaram os bailes funk cariocas.

Violência e perigo nos bailes - Alguns pais não se preocupam com suas filhas dançando coreografias erotizadas em casa. Os cariocas têm uma preocupação adicional: e os filhos que sobem aos morros, onde ficam as favelas e, em tese, traficantes e criminosos, para freqüentar bailes funk?

Dos pais cariocas entrevistados pelo Terra, poucos deixam de dormir por causa de um baile funk. O carioca Gustavo Lombardes, de 20 anos, freqüenta bailes desde os 14, mas a mãe só soube disso há três anos, quando ligou para o celular do filho e perguntou onde ele estava. "Eu estava descendo o morro da Rocinha, pois tinha ido ao baile Emoções", conta ele. "Disse para a minha mãe a verdade, e ela ficou preocupada, mas aceitou numa boa", completa. A mãe de Gustavo, Bete, afirma que ficou bastante tensa ao saber que o filho ia a bailes funk, mas se tranqüilizou ao saber que a namorada de um afilhado, "que mora em São Conrado, em um prédio chique", também ia e ninguém tinha se machucado. "Com o tempo, a gente vai vendo que os problemas não acontecem só em bailes funk", explica Bete, que mora ao lado da Boate W, freqüentada pela elite carioca, e onde, segundo ela, acontecem mais confusões que em bailes funk.

Sônia, mãe de Joana, de 19 anos, também acha que a Boate W é até mais violenta que os bailes. "Eu fico preocupada quando a minha filha sai, mas é por causa da violência que pode acontecer em qualquer festa", diz Sônia. Mas Sônia confia na própria filha: "Sei que ela não vai fazer nenhuma bobagem". A única coisa que Sônia não gosta nos bailes é a vulgaridade: "As meninas estão ficando muito vulgares, mas eu sei que minha filha não é assim. É possível dançar sensualmente sem ser vulgar". Uma mãe, que não quis ser identificada, no entanto, proíbe a filha de ir aos bailes. "Eu vejo na TV as denúncias e não concordo, não gosto disso e não deixo ela ir", disse a mãe.

Théo Araújo
(Fotos: Rogério Lorenzoni)

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