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Funk, o vilão moral da vez
Segunda, 26 de março de 2001
Baile funk no
Rio de Janeiro

Orgias envolvendo menores de idade no meio de uma pista de dança, trenzinhos do sexo e DJs incentivando meninas a subir ao palco para tirar a roupa. A série de acusações que atinge os bailes funk cariocas criou uma onda de debates tão quente quanto as temperaturas do verão de 2001. A febre do funk atacou, de uma só vez, todas as idades e classes sociais e gerou uma dúzia de sucessos. Todos metáforas ambulantes como Tapinha não Dói, Cerol na Mão e Dança da Motinha, que elevaram à condição de estrelas nacionais, ainda que meteóricas, nomes antes conhecidos somente nos subúrbios cariocas, como a Mãe Loura do Funk, Bonde do Tigrão e Vanessa MC.

Os personagens são novos mas o filme é velho: um ritmo acompanhado de letras e coreografias sugestivas horroriza os adultos e se transforma no vilão das festas infantis. Afinal, é o funk - ou o rock, a lambada, os Mamonas Assassinas ou as Sheilas - o responsável pela corrupção da juventude ou é a sociedade que não sabe mais o que fazer com seus jovens? As respostas são amplas e devem ser dadas por especialistas. Mostrar o que é o funk e quem está por trás dele, no entanto, é tarefa para quem se dispõe a ver o enredo e seus protagonistas com olhos cuidadosos.

Durante quatro dias a partir de hoje, o Repórter Terra exibirá para você as diversas faces do funk. Em reportagens apoiadas por vídeo, áudio, fotos e uma ampla investigação, você poderá entender melhor o verdadeiro papel da violência e do sexo nos bailes, enxergar a estrutura empresarial que sustenta o funk, conhecer seus defensores e detratores e ouvir todos os lados dessa polêmica. De quebra, poderá debater as suas conclusões com especialistas, autoridades, fãs e as estrelas do funk através de chats online.

A "grávida do funk" - No enredo clássico dos filmes há sempre uma vítima perfeita que sucumbiu diante do vilão perfeito. A vítima perfeita do funk apareceu no último dia 8 de março pela mão do Secretário de Saúde do Rio de Janeiro, Sérgio Arouca. Seria uma garota de 14 anos que teria ficado grávida e contraído o vírus HIV durante um baile, na chamada "Dança das Cadeiras". A brincadeira, se é que poderia ser chamada assim, seria feita com meninos sentados em cadeiras e meninas, supostamente sem calcinha, dançando em torno deles. Quando o DJ pára a música, a garota deve transar com o rapaz que está na sua frente. Juntou-se o vilão perfeito - o funk -, à vítima perfeita - uma menor inocente exposta à barbárie - e foi montado o cenário perfeito para um escândalo nacional. No roteiro há apenas uma falha: não existe rastro da "grávida do funk". Ela não é conhecida nos registros oficiais e a única pessoa que sabe de sua existência é Sérgio Arouca.

"Sem vítima, não há denúncia", afirma
o juiz Siro Darlan

Arouca diz ter sido comunicado do caso por uma "fonte segura": uma assistente social de um posto de saúde em uma comunidade (eufemismo para favela) carioca. O juiz de menores do Rio de Janeiro, Siro Darlan, famoso nacionalmente por tirar crianças das novelas da Rede Globo, rebate: "Sem vítima, não há denúncia". De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, qualquer caso de relação sexual de menores de idade registrado pelo governo deve ser avisado ao Juizado de Menores da região. "Com menores de 14 anos é ainda mais sério, pois há presunção de violência, estupro", explicou um especialista da instituição.

Tanto o Juizado de Menores quanto a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), os órgãos responsáveis por investigações deste tipo, declaram não terem recebido notificação oficial do fato e, mais importante, não conseguiram encontrar a menina grávida que teria dado origem ao caso. "Nunca ouvi falar que estas ocorrências estivessem acontecendo em bailes funk. O secretário não me procurou para conversarmos sobre a questão", afirma a delegada Monique Vidal, responsável pelo DPCA.

Motivados pela denúncia, o DPCA e o juizado chegaram a realizar batidas e a fechar bailes funk no Rio. Motivo: venda de bebidas alcoólicas a menores de idade. De orgias e trenzinhos do sexo, não encontraram sinal.

"O secretário não quer revelar o nome da fonte das denúncias para evitar represálias e para não atrapalhar uma investigação paralela da Secretaria de Saúde", explica Fátima Coutinho, assessora do Programa de Saúde dos Adolescentes da cidade do Rio Janeiro. De acordo com Fátima, a secretaria está verificando em todos os postos de saúde da cidade para saber se a prática de orgias se restringe a apenas uma comunidade ou era comum a mais bailes funk do Rio. Fátima não sabe se Arouca conhece o nome da menina grávida, mas afirma que o secretário garante que o caso é verdadeiro.

A própria Secretaria de Saúde e o Programa de Saúde dos Adolescentes, através da Assessoria de Comunicação Social, afirmam não ter, em nenhum momento, recebido denúncia oficial da existência de tais meninas. "Se o secretário sabe de algo, foi de fontes dele", afirmou uma assessora. Sérgio Arouca foi procurado pelo Portal Terra até momentos antes da publicação desta reportagem, no dia 26 de março, mas estava ocupado e não poderia dar entrevistas.

Esta não é a primeira vez que o funk é alvo de denúncias. Alguns de seus principais produtores, no passado e hoje, respondem a processos por tráfico de drogas e por estímulo à violência. Diversos bailes foram fechados por falta de segurança e mesmo pela ocorrência dos chamados "Corredores da Morte", onde grupos dividiam os bailes em dois e os que invadissem o outro lado eram agredidos, algumas vezes até a morte. Em um destes bailes, uma menina de 16 anos, grávida, foi pisoteada e perdeu o bebê, de acordo com um delegado que investigava os bailes funk. No mesmo baile, foram registradas diversas mortes durante as festas. Hoje, depois de várias investigações e até mesmo uma CPI, há consenso que grande parte da violência desapareceu dos bailes e as denúncias giram em torno do sexo: desde discussões sobre pornografia nas músicas até acusações de orgias que, até o momento, não existem. Ao menos oficialmente.

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