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Parabólica

Um carro ruim vira campeão? A Mercedes quer repetir 1970

Um carro com início ruim pode virar campeão? Já aconteceu uma vez na F1 e a Mercedes quer repetir em 2022

28 mar 2022 - 21h37
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Russell levantando faíscas na Arábia. Ainda tem jeito
Russell levantando faíscas na Arábia. Ainda tem jeito
Foto: Mercedes AMG F1 / Lat Images

Uma equipe vencedora, com um dono carismático e um piloto rápido. Este time resolve fazer um carro novo, bem inovador e o começo da temporada não é nada animador...

A descrição poderia se encaixar para a Mercedes na F1 2022, correto? Poderia. Mas atende perfeitamente à Lotus, em 1970...

Em 1969, Colin Chapman se juntou com Maurice Phillipe, seu projetista e começou a trabalhar em um novo projeto. Já que a tração integral havia sido banida e a aerodinâmica começava a ser mais determinante ainda, por que não pensar em um novo passo à frente?

Chapman já havia dado anos antes uma revolucionada com seus carros 25 e 49. Este último veio com o motor Ford Cosworth, que foi dominador desde o início. Por optar em não usar a cláusula de exclusividade de fornecimento, a Lotus ganhou concorrentes de alto nível e a F1 teve um elemento que ajudou em seu crescimento: um motor potente, leve, confiável e razoavelmente barato.

Por este motivo, era hora de ousar novamente. E os estudos feitos para os modelos 56 (famoso “carro turbina” que correu primeiro na Indy500) e 63, que foi usado naquela temporada e previa o uso da tração integral, serviram de base para o que seria o projeto 72. 

 Lotus 56, uma das inspirações para o modelo 72
Lotus 56, uma das inspirações para o modelo 72
Foto: Commons Wikipedia

Estes trabalhos levaram Chapman e Phillipe a abandonar o formato “charuto” e adotar uma frente mais baixa, em formato de cunha. Isso ajudaria a gerar mais carga aerodinâmica e reduzir extremamente o arrasto. O 63 serviu para fechar o conceito de uma linha muito baixa, buscando manter um centro de gravidade mais baixo.

Adotar uma frente em forma de cunha levava a uma pergunta: onde colocar os radiadores? Afinal de contas, eles ficavam na frente do carro. No 63, chegaram a botar o radiador de óleo atrás da cabeça do piloto. Mas para manter a distribuição de peso e o carro bem fino, resolveram posicionar nas laterais, de forma a poder aproveitar mais ainda o ar sobre o carro.

John Miles andando com o Lotus 63 em Clermont-Ferrand
John Miles andando com o Lotus 63 em Clermont-Ferrand
Foto: @nellietellie

Além disso, adotaram nova configuração de suspensão dianteira, juntamente com freios internos. Isso mesmo: os freios não ficavam nas rodas, mas sim no chassi. Para completar, uma nova posição do tanque de combustível, atrás do piloto.

Graham Hill e Jochen Rindt conduziram os primeiros testes ainda em 1969. O carro se mostrou rápido, mas a frente levantava por conta do ar que entrava por baixo e os freios esquentavam em poucas voltas por conta da refrigeração. Estes testes também fizeram Hill pensar em deixar o time

A equipe decidiu começar o ano com o 49C, uma versão refinada do carro anterior, mas explorando cada vez mais o efeito da carga aerodinâmica dos recém implantados aerofólios. Rindt e Hill o usariam enquanto o 72 ia sendo afinado para a pista. Após a primeira etapa na África do Sul, a Lotus alinhou seu mais novo carro na Espanha, causando um enorme furor no paddock: um carro esguio e diferente de tudo que estava ali. 

Estreia do Lotus 72 na Espanha com Rindt. Muito discreto...
Estreia do Lotus 72 na Espanha com Rindt. Muito discreto...
Foto: @carlossantos

Mas os problemas continuavam. Rindt se classificou em 8º, enquanto John Miles, jovem inglês piloto de testes que havia sido promovido com a saída de Graham Hill, que foi para a equipe de Rob Walker, nem se classificava. Rindt deu 9 voltas e abandonou.

Muito trabalho seria feito ainda. O potencial estava lá, mas era preciso trabalho. Chapman decidiu trabalhar no carro, enquanto o 49C cumpria seu papel. Mas Rindt falou que só usaria o carro quando se sentisse confortável nele. Na Bélgica, John Miles alinhou com a versão B do 72. O conceito ainda era o mesmo, mas os detalhes eram diferentes. Entretanto, não convencia: Enquanto Rindt largaria em 2º, Miles alinhou em 13º entre os 17 que largaram. Ambos abandonaram.

A esta altura, estávamos na 4ª etapa de 13 e o melhor resultado do time era a vitória de Rindt em Mônaco, se aproveitando do erro de Jack Brabham na última volta. A sorte era que o campeonato estava bem embolado e este resultado deixava o austríaco e a equipe em 4º lugar no campeonato de pilotos e construtores.

Estreia do 72C com Rindt na Holanda
Estreia do 72C com Rindt na Holanda
Foto: Commons Wikipedia

Mas Chapman seguiu no trabalho e preparou uma versão C do 72 a tempo do GP da Holanda. Aparentemente, os problemas do carro haviam sido resolvidos: a frente havia sido refeita e parou de flutuar; uma nova suspensão foi feita e sob medida para os Firestone; os freios haviam sido revisados. E Rindt aceitou usá-lo após testar.

Com o 72C, Rindt simplesmente venceu 4 corridas seguidas (Holanda, França, Grã-Bretanha e Alemanha) e abriu caminho para o campeonato, livrando 20 pontos sobre o 2º colocado, Jack Brabham (que perdeu o GP da Grã-Bretanha mais uma vez na última volta, por falta de gasolina. A culpa é atribuída ao seu mecânico, um tal de Ron Dennis). O austríaco largou na pole position em seu GP local, na Áustria, mas abandonou com motor quebrado.

Veio Monza e toda sua carga dramática, com Emerson Fittipaldi subindo na Ferrari de Ignazio Giunti e depois o acidente de Rindt na Parabólica, o levando à óbito. Por tudo isso, a Lotus não embarcou para o Canadá, focando seus esforços no mais lucrativo GP dos Estados Unidos, em Watkins Glen. Emerson Fittipaldi foi escolhido primeiro piloto e precisava de um ótimo resultado para garantir o título de Jochen Rindt e ainda o título de Construtores. O brasileiro fez melhor do que a encomenda e ganhou o GP, apenas 5 etapas de sua estreia.

Com isso, o resultado no México, etapa final, pouco importou. Mas o Lotus 72 venceu 5 das 13 etapas do campeonato e garantiu o campeonato de pilotos e construtores. Um projeto que revolucionou a F1 e que suas premissas básicas são seguidas até hoje na categoria, 52 anos depois. A Mercedes espera que um raio caia novamente no mesmo lugar com o seu W13. 

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