Quase 20% dos moradores de favelas vivem em ruas onde não passam carros
Para 3,1 milhões de moradores de comunidades, o acesso de uma ambulância na porta de casa ou de um caminhão de lixo no local onde reside não existe
As condições de infraestrutura nas favelas e comunidades urbanas brasileiras seguem revelando contrastes importantes em relação ao restante das cidades. Dados recentes do Censo 2022, realizado pelo IBGE, mostram que uma parcela expressiva dessa população ainda vive em ruas muito estreitas, onde apenas pedestres, bicicletas ou motocicletas conseguem circular. Essa realidade impacta diretamente o deslocamento diário, o acesso a serviços públicos e a oferta de transporte coletivo.
Enquanto bairros formais costumam ter ruas mais largas e estruturadas, em muitas áreas populares o traçado urbano foi sendo construído de forma espontânea, sem planejamento prévio. Isso explica por que, em alguns aglomerados, grande parte dos moradores está em vielas e becos de difícil acesso para veículos maiores. A situação varia bastante entre as principais favelas do país, mas, de modo geral, a mobilidade dentro dessas áreas é mais limitada que no restante das cidades.
Infraestrutura viária nas favelas brasileiras
O levantamento do IBGE indica que, em 2022, cerca de 3,1 milhões de moradores de favelas e comunidades urbanas viviam em trechos de rua acessíveis apenas a motos, bicicletas ou pedestres. Esse grupo representa 19,2% da população que reside em favelas no país. Fora dessas áreas, a proporção é bem menor: 1,3 milhão de pessoas em situação semelhante, o equivalente a 1,4% dos moradores de regiões não classificadas como favelas.
Entre as maiores comunidades do Brasil, algumas se destacam pela elevada presença de vias estreitas. Na Rocinha, no Rio de Janeiro, mais de 80% dos moradores estavam em trechos onde só passam motos e bicicletas. Em outras grandes comunidades, como Rio das Pedras, também na capital fluminense, e Paraisópolis, em São Paulo, mais da metade da população residia em ruas com esse tipo de limitação. Já em Sol Nascente, no Distrito Federal, e em Cidade Olímpica, em São Luís, o percentual de moradores em vias muito estreitas era de apenas 0,3%.
Vias estreitas em favelas: o que os números mostram?
Apesar da presença marcante de vielas, o Censo 2022 também revela que a maioria dos moradores de favelas ainda vive em ruas com algum nível de acesso para veículos maiores. Segundo o IBGE, 62% dos moradores de favelas residiam em trechos de vias com capacidade para caminhões, ônibus e veículos de carga. Fora das favelas, esse percentual sobe para 93,4%, o que reforça a diferença de infraestrutura entre áreas formais e aglomerados subnormais.
Outro recorte mostra que 18,8% dos habitantes de favelas estavam em ruas onde circulam carros de passeio ou vans, contra 5,3% da população que vive fora dessas áreas. A interpretação dos técnicos do instituto é de que, nas grandes metrópoles, a largura das vias tende a diminuir conforme se aproximam as áreas de ocupação irregular. Em algumas comunidades, como a Mangueira, no Rio de Janeiro, apenas uma pequena parcela dos moradores tem acesso a ruas onde caminhões conseguem trafegar.
1. O país tinha 19,2% da população em favelas e comunidades urbanas morando em vias acessíveis apenas por moto, bicicleta ou a pé em 2022. Essa proporção representa 3,1 milhões de habitantes em trechos sem acesso para carros, caminhões, ônibus e veículos de transporte de carga. pic.twitter.com/pt3x5ohebp
— IBGE Comunica (@ibgecomunica) December 5, 2025