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Özil anuncia saída da seleção alemã

22 jul 2018 - 17h15
(atualizado em 23/7/2018 às 05h45)
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Em comunicado, jogador ataca dirigente da federação alemã, se defende por fotografia ao lado de presidente turco e diz ter sido alvo de racismo. "Sou alemão quando ganhamos, mas imigrante quando perdemos."O jogador Mesut Özil anunciou neste domingo (22/07) que não pretende mais jogar pela seleção alemã. Veterano da equipe e um dos campeões da Copa de 2014, Özil anunciou a decisão em um longo comunicado, onde apontou que foi vítima de racismo e disse ter sido transformado em bode expiatório após o fraco desempenho da seleção na Copa da Rússia.

"Me sinto como se não fosse bem-vindo e penso que aquilo tudo que conquistei desde a minha estreia internacional em 2009 foi esquecido", disse Özil.
"Me sinto como se não fosse bem-vindo e penso que aquilo tudo que conquistei desde a minha estreia internacional em 2009 foi esquecido", disse Özil.
Foto: DW / Deutsche Welle

As maiores críticas de Özil foram direcionadas ao presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB, na sigla em alemão), Reinhard Grindel, um ex-deputado conservador que assumiu a chefia da federação em 2016. Özil apontou que "não iria mais continuar a ser um bode expiatório para a incompetência de Grindel e sua inabilidade para desempenhar seu trabalho adequadamente".

Ele também afirmou que o dirigente foi desrespeitoso com sua origem. Alemão de nascimento, Özil, de 29 anos, tem raízes turcas. "Aos olhos de Grindel e seus apoiadores, eu sou um alemão quando ganhamos, mas um imigrante quando perdemos. Isso porque, apesar de pagar impostos na Alemanha, fazer doações para escolas alemãs e ganhar a Copa de 2014 pela Alemanha, eu ainda não sou aceito pela sociedade. Eu sou tratado como 'diferente'."

O desgaste de Özil com a seleção alemã se tornou público antes mesmo do início da Copa de 2018. Em maio, o jogador, que também atua pelo Arsenal, posou para uma foto ao lado do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. O episódio provocou críticas na imprensa e em parte do meio político alemão. Nos últimos anos, as relações entre a Turquia e a Alemanha se deterioraram à medida em que Erdogan passou a agir de maneira cada vez mais autoritária.

Ilkay Gündogan, colega de Özil na seleção, também posou ao lado de Erdogan. Gündogan, no entanto, divulgou sua versão sobre o episódio poucas semanas depois, enquanto Özil permaneceu em silêncio até este domingo.

Após a eliminação da Alemanha na primeira fase da Copa da Rússia, Özil passou a ser criticado pelo seu fraco desempenho durante o torneio.

No comunicado divulgado hoje, dividido em quatro partes (todas em inglês), Özil defendeu a fotografia com Erdogan, e disse que, se tivesse se recusado a se encontrar com o presidente, isso "teria sido desrespeitoso com as raízes de meus antepassados, que sei que estariam orgulhosos de onde estou hoje em dia". Ele também afirmou que o encontro não teve caráter político.

O jogador apontou que as críticas geradas pelo episódio mascaravam racismo. Segundo ele, um encontro em julho entre o ex-jogador Lothar Matthäus - campeão da Copa de 1990 pela seleção alemã - com o presidente Vladimir Putin não gerou o mesmo tipo de controvérsia na imprensa. "Eles [a imprensa] não criticaram minha performance, não criticaram a performance da equipe, apenas criticaram minha ascendência turca e o respeito que tenho pelas minhas origens", disse.

Özil também lançou acusações contra outras pessoas que o criticaram publicamente. "Usaram minha foto com o presidente Erdogan como uma oportunidade para expressar suas tendências racistas até então ocultas, e isso é perigoso para a sociedade", disse ele.

O jogador também expressou frustração por, segundo ele, ser sempre chamado de turco-alemão. "Meus amigos Lukas Podolski e Miroslav Klose nunca são apontados como teuto-poloneses, então por que eu sou turco-alemão? Porque se trata da Turquia? Porque sou muçulmano? (...) Eu nasci e fui educado na Alemanha, então por que as pessoas não aceitam que sou alemão?"

"O tratamento que recebi da DFB e de muitos outros fizeram com que eu não queira mais usar a camisa da seleção da Alemanha. Me sinto como se não fosse bem-vindo e penso que tudo que conquistei desde a minha estreia internacional em 2009 foi esquecido. (...) Quando pessoas em altas posições na DFB me tratam como o fizeram, desrespeitando minhas raízes turcas e me usando de maneira egoísta para propaganda política, então é hora de dizer chega. Não é para isso que jogo futebol, e não vou desistir e não fazer nada sobre isso. O racismo nunca e jamais deve ser aceitável."

JPS/ots

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