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#MeToo alcança esfera política e motiva reação masculina

Nas redes sociais, hashtag #IDidThat é lançada para estimular homens a reconhecerem abusos que cometeram.

20 out 2017 - 17h52
(atualizado às 18h10)
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A ministra do Exterior da Suécia, Margot Wallström, chocou as mídias sociais europeias nesta semana com apenas duas palavras: "me too" ("eu também"). Ao se referir à hashtag #MeToo, que viralizou nos últimos dias, uma das mulheres mais poderosas da União Europeia não estava apenas sinalizando para outras vítimas que sofreu agressão sexual. Pouco depois, ela revelou à imprensa que o episódio aconteceu "nos mais altos escalões políticos" durante um encontro entre líderes europeus.

Assédio no local de trabalho é comum, apontam pesquisas
Assédio no local de trabalho é comum, apontam pesquisas
Foto: iStock

Ao declarar ter sido vítima de assédio sexual, Wallstöm se juntou a mulheres proeminentes no mundo dos negócios e dos esportes, incluindo a medalhista de ouro olímpica McKayla Maroney, que disse ter sido apalpada por um ex-médico da equipe de ginástica dos Estados Unidos.

A hashtag #MeToo foi lançada pela atriz Alyssa Milano no último fim de semana, com o objetivo de mostrar a dimensão do assédio sexual e que o problema vai muito além das acusações contra o produtor de Hollywood Harvey Weinstein que vieram à tona nos últimos dias.

A atriz Tippi Hedren, de 87 anos, que há muito afirma ter sido assediada por Alfred Hitchcock na década de 1960, também declarou seu apoio à campanha: "Continuem assim! É a única maneira de fazer isso parar."

"Esse tipo de comportamento precisa ser trazido à tona", disse Hedren, que acusou Hitchcock de abuso depois que ela rejeitou suas investidas sexuais nos bastidores do clássico filme Os Pássaros.

Palavras não são suficientes

"Estas são mulheres e meninas corajosas do mundo todo", disse Wallström à agência de notícias sueca TT a respeito das milhares que têm compartilhado suas histórias de abuso. "Mas também penso nisso na posição de política: o que fazer? Esse tipo de apelo não é suficiente, ele também tem que levar à ação."

Embora Wallström possa parecer protegida por sua posição de poder, diversos estudos sobre dinâmica sexual no local de trabalho apontam que mulheres em cargos de gerência são mais sujeitas ao assédio. Isso é comum porque elas podem ser a única mulher em um ambiente dominado por homens ou porque as mulheres em cargos de chefia são consideradas em desacordo com seu gênero.

Um relatório de 2012 publicado pela American Sociological Review descobriu que os alvos mais comuns são mulheres que ameaçam o status de homens nos cargos de chefia e gerência, por exemplo.

Margot Wallström questiona o que políticos podem fazer para combater assédio
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Foto: Getty Images

Maioria dos agressores permanece impune

Vítimas de assédio sexual frequentemente se sentem envergonhadas ou desencorajadas a denunciar o crime. De acordo com uma pesquisa recente da ABC News e do Washington Post, 54% das mulheres americanas já foram assediadas ou agredidas sexualmente, com cerca de 30% relatando que o agressor era um colega de trabalho. Das entrevistadas, 95% disseram que o agressor não foi punido.

E a situação não é muito melhor na União Europeia. De acordo com a organização alemã de direitos das mulheres Terre des Femmes, quase uma em cada sete mulheres na Alemanha já foi exposta à violência sexual. Quanto ao local de trabalho, um relatório do Tribunal Federal do Trabalho descobriu que pouco mais da metade das mulheres alemãs que trabalham já sofreu assédio ou agressão sexual no trabalho.

De acordo com um inquérito realizado em todo o bloco europeu pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia em 2014, o cenário mais provável para que uma mulher seja assediada fora de um relacionamento íntimo é o local de trabalho. Na Suécia, por exemplo, 43% das mulheres relataram ter sido assediadas sexualmente por colegas.

#IDidThat foca agressores

Críticos do movimento #MeToo apontam que, como em muitas outras campanhas similares, ele se concentra nas vítimas e não envolve os agressores ou potenciais agressores a fim de reduzir o comportamento abusivo.

Com isso em mente, um homem tentou iniciar uma campanha semelhante para encorajar os ex-agressores a reconhecer e admitir seu comportamento. Usando a hashtag #IDidThat ("#EuFizIsso"), o escritor e comediante indiano Devang Pathak relatou um episódio envolvendo uma conhecida. Na ocasião, ele percebeu que ela estava vulnerável e que ele tinha um "certo poder". Ele admitiu ter tentado tirar vantagem da situação antes de pensar melhor.

"Desculpe e farei melhor. #IDidThat", escreveu ele no Twitter. Ele então pediu uma mudança no paradigma cultural que promove tipos abusivos de masculinidade.

"Nossa cultura alimenta tais relações de poder implícitas. Programas de TV e filmes dizem aos homens para irem atrás de mulheres vulneráveis", acrescentou Pathak.

"#IDidThat e não passa um dia que eu não me arrependa", escreveu outro usuário no Twitter.

Muitos ficaram decepcionados com o fato de que poucos homens reconheceram seu comportamento ou esperavam absolvição por terem admitido o crime.

Outros apontam que tais hashtags fornecem um ponto de partida para discutir o enorme problema de como a sociedade trata agressões sexuais - colocando o fardo sobre as mulheres, que supostamente têm obrigação de se proteger, e não fazendo o suficiente para ensinar homens a agir de forma respeitosa.

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