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Americano é libertado após ser preso por engano por polícia de imigração dos EUA

O jovem de 18 anos apresentou seus documentos para agentes, mas ainda assim ficou 23 dias presos em condições que considera "desumanas"

26 jul 2019 - 17h59
(atualizado às 18h06)
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Um cidadão americano foi libertado de um centro de detenção para imigrantes nos Estados Unidos após três semanas em condições que considerou "desumanas".

O americano Francisco Erwin Galicia, de 18 anos, foi preso em 27 de junho a caminho de um jogo de futebol com seu irmão, Marlon, de 17 anos, onde esperava ser observado por um olheiro para tentar uma bolsa de estudos para uma universidade.

"Vamos nos formar no ensino médio no ano que vem e queríamos fazer algo para garantir nossa educação", disse ele a um jornal local após ser libertado.

Eles passaram então por um posto do Serviço de Imigração e Controle Alfandegário dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês).

Seu irmão não é cidadão americano e foi preso. Francisco diz ter informado os agentes do ICE que é cidadão americano e apresentado sua carteira de identidade, o cartão do seguro social e sua certidão de nascimento, segundo o jornal The Dallas Morning News.

Mas os oficiais não acreditaram na autenticidade dos documentos apresentados por Francisco e o levaram junto com o irmão, contrariando normas que determinam que agentes de imigração não devem prender cidadadãos americanos.

O jovem ficou 23 dias detido no sul do Texas e foi libertado na última terça, 23 de julho, um dia depois do The Dallas Morning News publicar a notícia de que ele havia sido preso.

Em uma declaração conjunta na quarta-feira, a Patrulha de Fronteira (CBP, na sigla em inglês) e o ICE defenderam sua decisão de deter Francisco Galícia.

"Geralmente, situações que envolvem relatos conflituosos do indivíduo e múltiplas certidões de nascimento podem, e devem, demorar mais para serem verificadas", disse a nota.

"Enquanto continuamos a checar a situação, o indivíduo foi liberado da custódia do ICE. Tanto o CBP quanto o ICE estão comprometidos com um tratamento justo dos imigrantes e continuam a tomar as medidas apropriadas para verificar os fatos da situação."

'Fui tratado de forma desumana'

Francisco diz ter enfrentado condições tão difíceis que chegou a perder 12kg e ter considerado pedir para ser deportado

"Disse a eles que tinha o direito de fazer uma ligação. Mas disseram: 'Vocês não têm direito a nada'", contou Francisco.

Os agentes do Serviço de Imigração e Controle Alfandegário dos EUA poderão expulsar os imigrantes sem passar pelos tribunais
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Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Dois dias depois da prisão, o irmão de Francisco foi deportado voluntariamente para Reynosa, uma cidade de fronteira no México, para poder ligar para sua mãe e contar onde os dois estavam.

Francisco diz que, no tempo em que ficou preso no centro de detenção da cidade de Rio Grande Valley, foi colocado em uma cela com outros 60 homens e não foi permitido que tomasse banho.

Os detentos recebiam apenas cobertores de papel alumínio e eram obrigados a dormir no chão. Alguns homens tinham de dormir no chão próximo às privadas.

A prisão vem em meio ao endurecimento da política americana em relação a imigrantes ilegais.
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Foto: Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA / BBC News Brasil

"A forma como nos trataram foi desumana. Chegou ao ponto em que eu estava quase assinando um documento de deportação só para não ter de ficar lá sofrendo", disse Francisco. "Só precisava sair dali."

Outros americanos já foram presos?

Uma reportagem do jornal The Los Angeles Times de 2018 mostrou que mais de 1,4 mil pessoas foram liberadas pelo ICE depois de ter sua cidadania investigada.

Em um dos casos, um cidadão americano descendente de jamaicanos ficou preso em um centro de detenção para imigrantes por mais de três anos até ser libertado, a milhares de quilômetros de casa.

Medidas adotadas por Trump dificultam a entrada de trabalhadores qualificados e de seus familiares
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Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Em março passado, uma americana de 9 anos ficou presa por mais de 30 horas depois de entrar na Califórnia vinda do México após passar por posto de fronteira com seu irmão de 14 anos. Os dois são cidadãos americanos e estavam indo à escola.

"Fiquei com medo", disse a menina à rede de televisão NBC. "Fiquei triste, porque não estava com minha mãe ou meu irmão. Eu estava completamente sozinha."

Na semana passada, uma deputada da Califórnia visitou um centro da Patrulha de Fronteira e encontrou uma adolescente de 13 anos segurando um passaporte americano e esperando junto com a mãe após supostamente ter entrado no país ilegalmente.

Qual é a situação jurídica na fronteira?

A prisão de Francisco Galicia ocorreu em meio ao endurecimento da política americana em relação a imigrantes ilegais.

Na quarta, um juiz em São Francisco, na Califórnia, ordenou que o governo Trump pare de negar asilo para qualquer pessoa que passe por outro país em seu caminho para os Estados Unidos.

A medida do governo na prática acabava com a possibilidade de asilo para imigrantes da América Central, que passam pelo México a caminho do país.

A decisão veio horas depois de um juiz em Washington decidir que a política, instaurada havia nove dias, era legal. A ordem do juiz da Califórnia significa que a medida ficará suspensa até que instâncias superiores decidam sobre sua legalidade.

Governo tem criado uma série de medidas administrativas para dificultar a emissão de vistos e interromper permissões já concedidas
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Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A porta-voz da Casa Branca, Stephanie Grisham, criticou a decisão e disse que o governo Trump vai "atrás de todas as opções possíveis para lidar com essa decisão sem mérito e defender as fronteiras da nação".

No momento, dezenas de milhares de imigrantes aguardam no México por causa de uma medida do Departamento de Segurança Nacional americano apelidada de "Fique no México", na qual eles são orientados a esperar no país vizinho enquanto esperam um tribunal de imigração americano decidir sobre seus casos.

De acordo com o Instituto Nacional de Imigração do México, mais de 18 mil pessoas foram mandados de volta pelos Estados Unidos com a nova medida.

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