Gabriela Leite - fundadora da DASPU e candidata a deputada federal pelo PV

Queria que você contasse então sua história, da criação da Davida e da Daspu.

Eu venho de uma classe média baixa. Fui jovem na geração do fim dos anos 60 e início dos 70, quando tudo aconteceu. Comecei filosofia na USP, em 69, e depois fui para sociologia. Considero que a maior revolução sexual que aconteceu com as mulheres foi o advento da pílula. Era uma época em que todo mundo participava da luta política e eu gostava muito da revolução cultural. Foi quando comecei a pensar na mudança da minha vida em termos de sexualidade.

Eu ia muito ao bar Redondo, que já não existe mais, na Praça Roosevelt, no centro de São Paulo. Era um lugar onde tudo acontecia, o povo do teatro sentava por ali, o Teatro Oficina e o Arena ficavam perto. E por ali ficava também o antigo Hotel Hilton, onde havia uma boate muito famosa e chique de prostitutas, o Laricorne. Eu ficava ali vendo as moças chegando para trabalhar super elegantes. E pensei: 'Por que não mudo radicalmente a minha vida?'. Eu trabalhava numa empresa onde batia cartão e à noite ia para a USP. Tinha uma vidinha que não era a que eu queria para mim.

No fim, não me arrependo de nada que fiz. Hoje tenho duas filhas e uma neta, que semana passada fez 18 anos. E tenho um grande companheiro, que está comigo desde 91, o jornalista Flavio Lenz.

Sou fundadora da Associação da Vila Mimosa de prostitutas, a primeira do Brasil. E, como a gente sempre teve dificuldade de financiamento para a ONG Davida, porque as pessoas têm preconceito, eu tentava achar um projeto para a gente se sustentar. Primeiro tentamos um restaurante, mas acabamos com a marca de roupas Daspu.

Gabriela deixou a faculdade de ciências sociais na USP e a vida de classe média para ser prostituta.Foto: Divulgação

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