Mulheres lançam movimento antifundamentalismo

Sexta, 01 de fevereiro de 2002, 21h09

A segunda edição do Fórum Social Mundial (FSM) identificou mais um alvo a combater, além dos tradicionais neoliberalismo e imperialismo: o fundamentalismo. No primeiro grande evento internacional a reunir os oponentes da atual globalização após os ataques de 11 de setembro e os bombardeios dos Estados Unidos no Afeganistão, a bandeira contra o fundamentalismo passou a ser levantada também, principalmente por organizações de mulheres. "Fundamentalismo atinge de forma mais brutal as mulheres", disse Guacira César de Oliveira, da organização Articulação de Mulheres Brasileiras, com sede em Brasília. Para ela, os extremistas religiosos mantêm a dominação do homem sobre a mulher no nível mais baixo, dentro de casa, para consolidar a dominação no nível mais alto, do Estado. A entidade e outras organizações internacionais lançaram na abertura do FSM a campanha "Contra os fundamentalismos, o fundamental é a gente", com mulheres de origens tão diversas como a escritora e editora brasileira Rose Marie Muraro, a presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores Domésticos, Creusa Maria Oliveira, e a professora afegã Mariam Rawi, que deveria chegar a Porto Alegre ainda hoje. O protesto não se restringe ao fundamentalismo religioso, mas também ao chamado "fundamentalismo de mercado". "O mercado está para o pensamento único como Deus está para a religião católica", afirmou Guacira Oliveira. "Ou você está no mercado ou você está contra ele". Para dar voz à campanha, várias mulheres falarão durante o Fórum sobre experiências em que foram vítimas do fundamentalismo religioso ou de mercado. Uma delas é Creusa Maria, baiana de Santo Amaro da Purificação, que começou a trabalhar como empregada doméstica aos 10 anos e por isso não conseguiu completar seus estudos básicos. Ou Rose Marie Muraro, que diz ter ficado até doente após ser vítima do fundamentalismo dos católicos conservadores dos anos 70. A advogada palestina Suhad Bishara, da organização de direitos humanos Adalah, veio de Haifa, Israel, especialmente para relatar no FSM as violências sofridas pela mulher palestina nos territórios ocupados na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. "A mulher palestina tem um papel-chave, porque em geral muitos dos homens da família estão mortos ou feridos", disse.
Reuters
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